LIMIAR DA HUMANIDADE - CAP - 11 - 12 - 13

CAPÍTULO 11

Clayton acordou suavemente, sentiu o corpo descansado, uma luz suave no quarto, uma música lenta alegrava o ambiente. Ele demorou a abrir os olhos, e lentamente o fez. Se levantou e sentou à cama. Só então percebeu que estava com uma vestimenta bem semelhante a uma daquelas roupas de hospital. Sem nada por baixo. Escutou um barulho, no mesmo momento que as luzes aumentavam a intensidade, mas sem ferir os olhos e a música ambiente que até então o agradava parou a execução. Ele olhou na direção do barulho e para sua alegria Alisson, vestido na mesma roupa que ele, o olhava da porta aberta, um ligeiro sorriso nos lábios.

- E aí? Como tá?

- Cara, que doidura foi aquela, e isso aqui? Que é tudo isso?

- Eu também fiquei bem perdido quando acordei. Mas a IA vai te explicar.

- IA?

- Inteligência Artificial.

- Ah, cara isso é....

- Descendente, aqui fala IA-0950-A-2. Sou fruto do trabalho árduo dos construtores, seus antepassados que visitaram esse planeta há milhares de anos e diretamente foram os responsáveis pelo desenvolvimento de sua raça a partir de seres inferiores que aqui existiam e....

- CHEGAAAAAAAAAA = Clayton solta um grito, se levanta da cama e se dirige para a porta. Alisson tenta parar o amigo que o empurra para o lado e sai em um longo corredor. Enfurecido ele pega a direção da esquerda e segue resoluto.

- IA.... – a voz de Alisson é como um pedido de socorro.

- Atenção seguranças corredor AM-344, descendente percorre o mesmo em estado de fúria. Deve ser detido sem violência e trazido de novo para o quarto 38 do corredor. Repito....

Alisson ficou ali, escutando o aviso da IA. Então havia seguranças ali, mas...só então ele deu-se conta de que somente poderiam ser robôs. Naquela base não havia um só ser vivo, o controle e manutenção de todo o material ali existente competia a IA e ao verdadeiro exército de robôs que deveriam cuidar de todos os detalhes de forma a manter o local operacional.

- Descendente Alisson, robô de vigilância IE-012 está escoltando descndente Clayton de volta.

- Obrigado!

- O descendente não deve agradecer a essa IA, apenas faço o que fui programado para fazer.

Alisson resolveu não esticar a conversa. Permaneceu silencioso, dali a um minuto escuto os palavrões que Clayton dirigia ao robô que lhe capturou.

-.. me larga seu FDP....cara...,.. Alisson que por.. é essa?

- Primeiro fica calmo cara, a gente já vai conversar e eu lhe explico tudo. Isso é, tudo que eu fiquei sabendo graças a IA....

- IA? Ah, tá esse troço de fala mecanizada?

- Essa fala mecanizada pertence a um sistema de computadores que controla todo esse local. Sossega aí que do jeito que você está não dá para conversar.

- Ok. – Clayton puxa o ar com força para dentro dos pulmões, expele e aos poucos parece ir se acalmando.

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O nuu sobrevoa uma região no lado oculto da Lua, envia seu sinal de identificação e aguarda. Logo escuta uma voz mecanizada autorizando a descida. Ele liga o piloto automático e aguarda a conexão deste com a IA que administra a base, poderia fazer o pouso manual, mas as máquina estão aí para serem usadas. Algo bem dentro da filosofia de vida nuu.

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CAPÍTULO 12

A manhã bucólica de Iporanga tem sua serenidade cortada pelo barulho do jipe militar que segue à frente de três caminhões igualmente militares que adentram, à praça principal. Os transportes estacionam e soldados fortemente armados, descem de seu interior e se perfilaram diante dos mesmos. Um homem, cuja estatura deve exceder os 1,90 m desce do jipe e a passos largos se dirige até o local onde a tropa está organizada. Com certa impaciência o homenzarrão olha para um dos oficiais que vem até ele.

- Homens em posição senhor. Quais são as ordens?

O gigante com divisas de major demonstra a potência de sua voz.

- Homens, vocês deverão se espalhar pela cidade e indagar aos habitantes a respeito de informações sobre eventuais contatos com seres que podem ser alienígenas. Há informações, advindas do comando aéreo que essa região, nos últimos anos, tem se notabilizado por ocorrências com OVNIs. Sejam sutis e não usem força bruta. Se houver algum fato que deva ser reportado sejam rápidos e contatem seus superiores para que os mesmos me contatem. Estarei com o capitão Feijó no prédio da prefeitura da cidade. Alguma dúvida?

Um portentoso – Não senhor! – dito por 42 vozes se faz ouvir, isso satisfaz o major.

- Muito bem, dispensados, sigam para as regiões a que foram designados.

Os oficiais logo organizam seus comandados e se espalham pela cidade, enquanto Major Freitas, capitão Feijó, e dois seguranças seguem os seus comandantes na direção do prédio da prefeitura local.

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O nuu é reconhecido pela IA da base lunar como ser apto ao comando. Logo os protocolos de segurança são passados para o ser que com isso tem acesso a todos os recursos. Sua intenção é enviar uma mensagem de forma a reunir os remanescentes de sua espécie. Uma vez reunidos eles podem ocupar o planeta azul e usar os habitantes que sobreviverem à conquista como escravos em potencial, além de fonte de alimentos. A essência vital daqueles seres se revelou de excelente qualidade, uma fonte mais do que adequada de nutrientes para os de sua raça.

Logo uma mensagem é transmitida pela base, em velocidade subluz e no idioma nuu. Ele não sabe ao certo quantos de seu povo ainda sobrevivem, pois quando o nuu saiu de seu mundo o mesmo estava próximo de ser destruído pela força gravitacional de uma das duas estrelas que aquecem seu sistema solar. Já naquela época seus conterrâneos saiam do planeta seja em empreendimentos individuais, como o dele, seja em missões do governo central que espalhou diversas naves exploradoras pelo cosmos à procura de um mundo que possa ser alternativa para a raça dos nuu.

Ele acha que sua missão está cumprida. Achou um mundo onde sua raça pode viver e prosperar. Agora é aguardar o resultado de seus esforços. O que vai acontecer só o tempo dirá. Ele se nutre e pede a IA da base que o coloque em êxtase e só o desperte quando houver indícios de que sua raça responde a mensagem que foi enviada para os confins da Galáxia.

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CAPÍTULO 13

- Deixa ver se entendi Alisson. Estamos em uma base alienígena que é gerenciada por uma IA. A raça que construiu esse lugar passou aqui há milhares de anos e enxertou algumas características de seu DNA no corpo de hominídeos de forma que o desenvolvimento desses “escolhidos” acabou resultando em nós – homo sapiens. A IA da base foi programada para entregar o comando daqui e de toda a tecnologia para aqueles que apresentem ao menos vestígios do DNA dos “Construtores”. E por alguma razão, que nós não conhecemos, somos portadores de resquícios deste milagroso DNA.... é isso?

Alisson não consegue evitar um sorriso sarcástico.

- Melhor definição impossível.

- Ótimo. E agora?

- Essa é a pergunta de um bilhão de dólares.

- Ué, não é um milhão?

- Não cara, é um bilhão mesmo. Imagine o conhecimento tecnológico e científico que temos a nosso dispor. Cura do câncer? Moleza. Infartos, AVC? Toma um comprimidinho que amanhã tá bom. Perdeu um membro? Uma prótese pode ser providenciada em minutos. Construir um prédio, demora dois, três dias...cara agora. Armas que podem destruir cidades sem ter problemas de radiação? Naves praticamente indestrutíveis perante os armamentos das nações da Terra? Já imaginou quando o mundo souber disso?

- Como assim cara?

- Pense Clayton. Imagine a gente informando todos sobre os segredos desta base, sua tecnologia, daqui a minutos EUA, RÚSSIA, COMUNIDADE EUROPÉIA, ISRAEL, BRASIL, ARGENTINA, ÁFRICA DO SUL, PAÍSES ÁRABES....todo mundo que tiver um serviço secreto vai fazer reuniões de forma a idealizar maneiras de se apossar disso tudo.

- Entendo, se alguém se apossar disso terá enorme poder e não precisara temer ninguém. Imagine nas mãos de um maluco igual esse que manda na Coréia do Norte?

- Esse é o pensamento. Por isso que pergunto o que vamos fazer?

- Eu nem mesmo imagino direito daquilo que estamos falando.

- Descendentes, posso sugerir que se submetam ao processo intensivo de hipnotreinamento. Assim terão conhecimentos sobre toda a tecnologia dos Construtores.

- Hum, que acha Clayton?

- Olha cara, a gente precisa ao menos conhecer aquilo que caiu no nosso colo. Senão vamos ficar naquela de falar sobre coisas da qual não conhecemos nada. A tal IA aí tá certa.

- Aliás acho que precisamos mudar o nome disso aí. Falar IA ou IA-0950-A-2. Putz, é complicado.

- Eu tive a mesma ideia. Mas antes vamos ter ai o tal, como é? Hipnotreinamento. Estou doido para saber com o que estamos lidando.

- Concordo. IA, Autorizamos os procedimentos acerca do hipnotreinamento.

- Os robôs médicos irão levá-los para as salas cirúrgicas. Presume-se que o procedimento demore de 10 a 15 horas. Alguma instrução específica que queiram seja tomada neste período?

- Eu não tenho nenhuma, Tem algo a falar Alisson?

Alisson fica quieto alguns segundos, pensa e finalmente se manifesta.

- Cuide da base. Siga apenas sua programação padrão de segurança e manutenção.

Dois robôs modelo ME-01 entram na sala e postam-se ao lado de cada um dos meninos. Eles nem precisam falar nada, os mesmos se levantam e seguem os seres de metal para a realização do longo procedimento a que se submeterão.