As colinas verdes do Saara

O enxame foi localizado por um dos drones da Frota de Alerta Avançado, voando sobre o sudoeste da Argélia. Na tela de infravermelho do posto de observação da Standard Forestry, onde Pritchard estava naquele momento, os insetos surgiam como uma nuvem difusa, deslocando-se sobre a floresta de eucaliptos logo abaixo.

- Como não detectamos esses bichos antes, Fred? - Perguntou agastado ao operador ao seu lado.

- Os gafanhotos também se adaptaram às mudanças climáticas - declarou o rapaz. - Permanecem mais tempo no solo, ao abrigo da floresta, comendo vegetação morta e plantas rasteiras, e só quando atingem um tamanho adequado, levantam voo. E aí, nós os pegamos... ou tentamos, ao menos.

Enquanto conversava com seu superior, Fred acionou os drones próximos da Frota de Controle de Pestes para darem combate ao inimigo alado, antes que ele entrasse no espaço aéreo do Mali. Pritchard estava de olhos fixos no telão fixado na parede em frente, onde os drones, identificados por siglas e números, começavam a deslocar-se em curso de interceptação com o enxame.

- Estão cobrindo milhares de quilômetros quadrados - avaliou. - Esse é muito maior do que o enxame do ano passado!

- Vamos torcer para o inseticida ser suficiente para todos, ou estaremos com problemas - replicou Fred, acompanhando a trajetória dos drones.

À medida em que os drones despejavam sua carga de veneno sobre os gafanhotos, buracos surgiam na nuvem de insetos, mas esta continuava avançando rumo sul.

- Não estamos dando conta - admitiu Fred, virando-se para Pritchard. - É arriscado, mas terei que usar os lança-chamas.

Pritchard sabia disso, mas se a nuvem de gafanhotos atingisse as lavouras do norte do Mali, as perdas poderiam ser catastróficas para o país e seus habitantes.

- Faça o que for preciso - aduziu.

Os jatos de combustível em chamas lançados pelos drones de ataque, eram mais efetivos do que o inseticida, mas quase sempre causavam incêndios na floresta de eucaliptos abaixo, submetidos a uma chuva de insetos cauterizados.

- Melhor queimar eucaliptos do que lavouras - ponderou Pritchard.

Os claros no enxame foram se ampliando, à medida em que o fogo o consumia. Em dado momento, o telefone do posto tocou e Pritchard atendeu.

- Estão querendo incendiar a floresta inteira? - Exclamou uma voz irritada de mulher, do outro lado da linha.

- Topamos com um enxame imenso, era preciso detê-lo, Rachel - justificou-se Pritchard.

- Eu sei que o seu trabalho não é fácil, mas lembre-se que a floresta de eucaliptos é propriedade da Standard Forestry, e somos pagos para mantê-la de pé e saudável... a redução do aquecimento global depende dessa cobertura vegetal sobre o Saara! - Lembrou ela.

- Vamos queimar o mínimo necessário - prometeu Pritchard, antes de desligar.

Voltou-se para a tela do infravermelho e concluiu que a ameaça estava em parte debelada.

- Acha que pode eliminar o restante apenas com veneno? - Perguntou à Fred.

O rapaz examinou os números no monitor à sua frente, antes de fazer um aceno afirmativo.

- As nuvens remanescentes estão no tamanho adequado para tratamento com inseticida.

- Então recolha os lança-chamas... e libere as brigadas de incêndio para as áreas atingidas.

Drones de grande porte, equipados com tanques de água, começaram a levantar voo rumo às áreas em chamas da floresta de eucaliptos. O enxame agora havia reduzido-se a alguns poucos pontos isolados, combatidos por dezenas de drones despejando spray de inseticida.

- Mais um dia equilibrando a proteção das lavouras africanas e a redução do aquecimento global - filosofou Fred, ao começar a recolher a Frota de Controle de Pestes às suas bases.

- Meu medo é que decidam um dia, que combater o aquecimento global é mais importante - retrucou Pritchard.

- [12-07-2019]