Descaminhos

Quando ele nasceu, já se viu sozinho. Algumas boas mãos o queriam, contudo, fora predestinado ao convívio de outras, que ladroam, e desde muito cedo aprendeu o caminho do mal. Atirado á sobrevivência, estreou com pequenos furtos, e nos mercados, seu encanto eram as balas de gomas e as bolachas de recheios. Como tinha asas nos pés, ninguém o segurava. Foi tomando gosto pelas pequenas traquinagens a passos largos, e conforme a idade ia avançando, foi dando asas também á imaginação. Seu aprendizado se aperfeiçoava com vôos cada vez mais altos, sonhos mais que ambiciosos e, definitivamente as más mãos o soltaram para a vida. Das bolachas recheadas da infância, o objeto de desejo no entanto; eram as joalherias, os bancos, casas lotéricas e até os blindados carros forte. Montou sua própria equipe de "trabalho": só com os melhores! Conquistou um verdadeiro arsenal, com um projeto grandioso e ousado, onde não se admitia erros e tão pouco amadorismo. No decorrer das atividades, teve algumas baixas na equipe; mas tudo dentro do previsto: às "peças" se recompunham com facilidades! Das desgraças alheias fez sua fortuna, montou um império; dinheiros lavados com sangue humanos. Nada em seu nome para não levantar suspeitas. Usou laranjas, testas de ferro e outros tantos nomes importantíssimos. Mansões, carrões, jóias e até aviões. Contudo, despertou cobiça, ira e inveja, daqueles chamados "seus" braços direito, homens de sua inteira confiança. No farol, a Land Rover blindada, último modelo, espera o vermelho se abrir e, logo se ouve uma rajada de fuzís rompendo toda blindagem como se rasga papel em minúsculos pedaços. Seus algozes nos veículos em fuga saem em disparada. Os curiosos se aglomeram, espantados não sabem, que terminava alí, todo glamour de riquezas de um ser, anos vividos de suas próprias desgraças.

De: Rodrigues Paz

(Autor)