E P I F A N I A
 
 

   Abner
   Ana, próxima às cebolinhas verdes da velha Inácia, estava de costas para mim. Ela não me viu. Sentei na cadeira de balanço da varanda munido de uma lata de cerveja para apreciar a fresca do começo da noite. Eu gostava de ficar ali, largado na preguiça, olhando o balouçar suave dos campos de trigo ou acompanhar desinteressado o vaguear aleatório dos animais no entorno das cercas vizinhas.
  A vida no campo tinha também as suas futilidades de prazer.
   Lá longe, um pouco acima das plantações, podia-se ver o movimento dos caminhões na rodovia que cortava aquela região.
   — Quer uma cerveja? – perguntei.
   Ela não disse nada, nem chegou a me ouvir. Tinha entrado naquele estado de transe que mal reparava o que ocorria à sua volta. Eu estava preocupado. Aquilo não podia continuar assim.
   — Essa menina não está batendo bem do juízo não, meu filho – disse mamãe quando a pegou no meio da noite encarando a tela do computador como um sonâmbulo. – A criatura, quando sai dessas cismas, não lembra de nada.  Ela precisa de tratamento médico.
  — Já conversei com Ana sobre isso. Ela não quer. Não posso obrigá-la.
   — Acho que estudar demais da conta deixa a pessoa meio aluada das ideias, sabe? Ainda mais essas coisas de computador!
   — Foi por isso que eu a trouxe aqui pra fazenda, mãe. Ela precisa espairecer um pouco e se afastar da correria da vida urbana.
   — Mas o computador veio junto, né? – comentou a velha Inácia em tom de pouco-caso, um tanto sarcástica.
   — Sim, a pobrezinha não consegue ficar muito tempo sem estar conectada à Internet.
   Havia já alguns meses que Ana vinha entrando naqueles desvios, absorta, o olhar perdido em algum ponto qualquer sem relevância do qual, sabia-se lá o porquê, dedicava excessivo interesse. Nos últimos dias alienava-se a contemplar o céu, fosse de dia ou de noite.
   Levantei-me da cadeira de balanço, tomei um gole de cerveja e andei devagar até ao seu lado. Não queria assustá-la. Primeiro, a olhei de perfil, sem deixar de admirar a sua beleza. Depois, voltei a atenção para o mesmo ponto em que ela estava observando também. Só vi o pontilhado comum das estrelas, pois a lua estava mais à direita.
    Pigarrei duas vezes. Decidi abordar um assunto que tinha o efeito de retirá-la daquele distanciamento sem causar-lhe grandes sobressaltos.
   — Querida, você ainda está sonhando com a tal esfera luminosa?
   — Sim, quase todas as noites – respondeu sem retirar os olhos das constelações lá em cima.
   — E como foi da última vez?
  — Nada de muito diferente. Quando chego perto para tocá-la eu... simplesmente acordo.
   Senti a força do transe diminuir. Muito devagar, enlacei a sua cintura e dei-lhe um sonoro beijo na bochecha, porque o seu rosto ainda encontrava-se voltado para o céu.
   — Eu te amo, Ana! – disse-lhe entre suspiros de paixão.
  Então, ela finalmente voltou-se para mim com aqueles lindos olhos azuis e, sinceramente, pensei que iria ouvir um “eu te amo também”, no entanto, ao invés disso, Ana apontou o dedo na direção do firmamento coalhado de estrelas e me sussurrou no ouvido:
  — Eles estão lá em cima nos espionando, querido. Querem entrar em contato!
 
...
   Ana
  O restaurante estava apinhado de gente. Era um lugarzinho bem agradável perto da fazenda da família de Abner, junto à rodovia. Ele parecia uma criança de tão feliz por levar a namorada em um local da comunidade onde era bem conhecido.
    Eu queria muito compensar o meu comportamento infantil dos últimos dias. Nosso relacionamento havia se complicado por causa da minha teimosia, por achar que aqueles lapsos súbitos de memória não significavam nada, que eram, na minha opinião, apenas estresse.
   Estes lapsos poderiam ser atribuídos, defendia-me, a um comportamento de sonambulismo, porém Abner rebatia em dizer que, não raro, eu entrava em transe mesmo de dia e me escapava da realidade presente. E quando isso acontecia, eu falava de coisas sem sentido como, por exemplo, a existência de alienígenas nos espionando.
   Será que eu estava ficando louca?
  Abner, e a mãe dele também, empenhavam esforços constantes para me levar a um neurologista, contudo me esquivava o quanto podia, decerto pelo meu temor de descobrir a verdade. Por isso, vinha resistindo à ideia. Tinha horror de estar louca ou ser informada de um diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.
  — Prepare-se para apreciar a comida caipira mais arretada desta região – ele disse, retirando-me daqueles pensamentos ruins a esboçar um amplo sorriso no rosto. Fez sinal para o garçom.
   — O rega-bofe daqui é melhor do que os quitutes de Dona Inácia? – provoquei em tom de zombaria.
   — Não são assim tão perfeitos. Neste quesito, minha mãe é imbatível.
   — Por que, então, não jantamos com ela hoje?
   — Queria estar a sós com a minha namorada. Tenho uma surpresa pra você.
   — É mesmo? O que poderia ser?
   — Você já vai ver – ele disse com um sorriso enigmático.
   O garçom surgiu ao meu lado e depositou um cloche bem à minha frente. A tampa, em forma de sino, que cobria o prato de alguma iguaria especial refletiu o meu rosto alegre e admirado. Fazia tempo que não via aquele tipo de serviço culinário tão refinado.
   — Levante a tampa e veja que delícia – incentivou Abner em sorrisos de expectativa.
   Não perdi tempo. Estava muito curiosa, levantei a tampa e no meio do prato branco havia uma pequena caixinha aveludada. Apropriei-me dela, nervosa, e a abri sem demora. Duas alianças estavam lá dentro. Meus olhos marejaram de felicidade. Apesar dos meus recentes problemas, Abner, um fofo, ainda queria um compromisso sério.
  — Você quer casar comigo? – ele me pediu sem muito jeito, nervoso também.
   — Sim – respondi entre lágrimas.
   — Eu te amo, Ana. Agora, só preciso pedir a sua mão para os teu pais. Não os conheço. Quando podemos conversar com eles?
   De repente, minhas lágrimas secaram. Fiquei intrigada com aquela pergunta. Depois, examinado minha consciência por uma resposta, empertiguei-me à mesa como se tivesse levado um choque e, sem pensar muito, as palavras me saíram pelos lábios de modo involuntário.
   — Pais? Que pais? E não me lembro dos meus pais?
..
 
   Ana
   No início, não tinha a menor ideia do que estava fazendo ali naquele beco. Era um lugar um tanto sinistro e abandonado de um bairro periférico da cidade. Conhecia-o bem porque ficava perto do local onde trabalhava.
   Depois, por reconhecer a repetição daquela cena, percebi estar sonhando e tinha plena consciência disso. Sonhos lúcidos não eram comuns na minha vida.
   Pouco antes de chegar no meio da viela, senti uma leve vibração no ar, as luzes esmaecidas dos postes oscilaram e, uma vez mais, assim como já ocorrera antes, o grande globo luminoso surgiu subitamente do nada. Era uma esfera perfeita, enorme, translúcida, da qual abrigava uma convulsão de milhares de diminutos relâmpagos que partiam do seu centro em ritmo intermitente para enchê-la de luzes ofuscantes de variadas matizes de cor clara. Algo realmente fascinante!
   Apesar do aspecto letal, pois parecia uma bola de energia concentrada prestes a explodir, todo o meu corpo fora atraído àquele orbe reluzente extraordinário. As repetições sempre chegavam até ali e acabavam antes de eu sequer levantar a mão para tocá-lo, algo que, não sabia bem o porquê, dava-me uma compulsão urgente em fazê-lo.
   Desta vez, não mais como um elemento passivo naquele devaneio onírico, senti estar no comando das minhas vontades. Então, caminhei sozinha para mais perto do fenômeno e levei a mão à parede translúcida da esfera.
   Assim que meus dedos a tocaram, ela começou a pulsar e, subitamente, sugou com força o meu braço. Assustada pela violência do empuxo, resisti e quis me afastar, porém não consegui. Senti um formigamento no corpo inteiro e olhei para o meu braço se desfazendo em pó dentro dela e, horrorizada, comecei a gritar por socorro.
   — Ana! – ouvi, em meio ao pânico, alguém me chamar.
   Virei o rosto para trás, de onde ouvira a voz, e vi Abner com uma expressão desesperada correndo na minha direção.
   — Abner, me ajude, por favor – disse, antes de ser sugada para dentro do globo.
 
   Abner
   Ana estava dormindo e eu, ao lado dela na cama, vigiava o seu sono. Depois de não lembrar dos pais, e muito menos do passado, ela entrou em aflição. Começou a chorar, queria ir embora do restaurante. Decidira que não pretendia se casar enquanto os transtornos de memória não fossem resolvidos. Pelo menos uma coisa boa surgiu daquele choque: ela aceitara consultar um médico.
   Agora, eu observava aquele lindo rosto emoldurado pelo travesseiro na leve penumbra do quarto. Perdoem-me se peco pela falta de modéstia, mas Ana era uma das mulheres mais lindas que já vira em toda a minha vida. Quando não se encontrava perdida em seus transes, era uma companhia agradável, bem-humorada, inteligente e, na intimidade do sexo, não houvera nenhuma outra a me fazer tão bem, tão amado e desejado daquele jeito.
   Às vezes custava-me crer como uma mulher daquelas qualidades, quase perfeita, fora gostar de um cara simples, meio bronco, de beleza mediana feito eu. Meus amigos quando nos viam juntos comentavam na minha cara: “Ela é muita areia pro teu caminhão, Abner”.
  Minha mãe me recriminara assim que lhe contei a intenção de me casar com Ana. De fato, as argumentações maternas eram muito válidas já que, a bem da verdade, eu não sabia nada sobre a família da minha namorada, e porque também tínhamos poucos meses de convívio. “Por que a pressa, meu filho?”, jogava-me, a velha Inácia, a todo momento nas conversas quando a oportunidade se lhe oferecia. Mamãe estava indignada. Não queria seu filho casado com uma doente mental.
   Ruminava essas coisas quando percebi a agitação de Ana ao meu lado. O corpo dela, de repente, se enrijeceu e percebi a contração tensa da fisionomia. Os glóbulos oculares movimentavam-se apressados por trás das pálpebras fechadas. Ouvi murmúrios vindos da respiração ansiosa. Cheguei meu ouvido para mais perto da sua boca e entendi o sussurro em tom de pânico. “Abner, me ajude, ela vai me absorver... a esfera vai me absorver...”.
   Ana, certamente, estava passando por um pesadelo, por isso coloquei minha mão no ombro dela e comecei a agitar o seu corpo.
   — Ana, acorda, acorda.
   Assim que despertou, jogou-se à frente, sentando-se na cama com a fisionomia assustada, olhos esbugalhados de medo. Virou-se para todo os lados do quarto como se procurasse ver algum tipo de ameaça. Quando deu por mim, jogou-se nos meus braços, apertou-me forte e me disse em um único rompante, entre soluços de um choro represado.
   — Abner... querido... acho que fui abduzida por seres de outro planeta!
    O problema mental de Ana era muito mais sério do que eu pensava.
  
   Abner
   Quase duas semanas depois do pedido frustrado de casamento e a resignação de encarar um neurologista, Ana fez-se de desentendida e continuou a desconversar, de novo, sobre o assunto. Achei prudente não forçar a barra e dar um tempo para ela assimilar a importância do problema.
   No entanto, eu queria resolver aquela situação antes das nossas férias terminarem e voltarmos à vida corrida na cidade. Pedi à mamãe, apesar das reclamações em contrário, para que não tocasse mais no assunto até Ana resolver, por conta própria, encarar à seriedade da doença.
   Hoje, olhando para trás, penso na apatia incompreensível que me envolveu em deixar as coisas correrem frouxas daquele jeito, em não me posicionar de forma mais contundente para obrigá-la a ver um especialista. Tal comportamento negligente de minha parte com relação a quem eu dizia amar não era normal, não podia ser e, distante o tempo, só posso atribuir àquele descaso a algum tipo de influência mental que Ana exercia sobre mim.
   Durante aqueles dias, as coisas voltaram à normalidade. Ana não teve mais os desvios da realidade. Tivemos um período excelente de convivência. Fazíamos amor à noite, passeávamos pelas vizinhanças de dia, ela queria aprender ordenhar a vaca leiteira de dona Inácia só para brincar comigo. Minha namorada era toda sorrisos e amabilidades; até o computador e a internet foram postos de lado. É possível que, inconscientemente, já soubesse que algo de ruim poderia acontecer e resolvesse me proporcionar aqueles últimos momentos de felicidade.
  Uma noite, já alta madrugada, fui despertado pelo movimento de passos no assoalho de madeira no andar de baixo. Levei a mão ao lado e constatei que ela não estava dormindo tão serenamente como nas outras noites. Procurei as minhas roupas largadas em cima da cômoda e me vesti com pressa.
   O barulho da porta no hall de entrada no primeiro andar me alertou. Fui até à janela, olhei para baixo e confirmei os meus temores: Ana, vestida como uma grossa jaqueta para se proteger do frio se encaminhava, com aquele andar cadenciado de sonâmbulo, para o carro dela estacionado a poucos metros da entrada da fazenda.
   Assim que a batida da porta do veículo estalou na quietude da madrugada, minha intuição reclamou algo óbvio: ela iria até o beco misterioso na cidade, local simbólico lá nas suas incongruências mentais, talvez para encarar à realidade do tal círculo reluzente a lhe surgir nos sonhos.
   Desci rapidamente, com a velha Inácia a me fazer um monte de perguntas, fui até a garagem e subi na minha moto. Quando passei pela porteira, ao longe, ainda podia ver os faróis traseiro do carro de Ana se esmaecendo dentro da noite, por isso girei o punho do acelerador com firmeza, porque não queria deixá-la enfrentar aquela barra sozinha.
 
   Ana
  Eu fora atraída para o beco de modo inevitável. Não conseguira resistir ao impulso urgente de ir àquele lugar decadente. Era uma força interior irresistível, intensa, algo que jamais houvera sentido.
   Ao entrar na viela abandonada, percebi não se tratar mais de um sonho. Era real. O globo já se apresentava em plena atividade em meio a uma espécie de entropia interna de relâmpagos crescendo em seu interior.
   Não vou despender esforços em detalhar uma agitação de supostos sentimentos a me assaltar diante de um evento daquela magnitude porque... nada disso ocorreu. Achava-me embotada, sem emoções ou medo, apenas queria mergulhar na esfera, nada mais.
   Antes de chegar bem próxima do círculo translúcido, senti uma vibração diferente atrás de mim. Não precisei sequer me virar para saber da presença de Abner completamente estupefato da cena diante dele.
   A partir dos olhos de Abner, enxerguei eu mesma, uma figura pequena, à frente da enorme bolha. Senti o corpo dele tremer, o batimento cardíaco acelerar, uma angústia a lhe sufocar os sentidos porque custava-lhe crer no que estava vendo. Percebi em mim uma leve mudança de postura psíquica. Adquirira, inexplicavelmente, aqueles poderes de sentir o outro. De onde viera aquilo? Sem me virar, lhe enviei uma mensagem mental em tom firme: “fique onde está!”.
   Ele obedeceu.
  Não podia mais esperar. Entrei na esfera e ela me absorveu.
 
 
De Ana para Abner via Email (5 anos depois)
 
   Há diversas formas de prazer. Comer ou fazer sexo para os humanos, por exemplo, são alguns dos meios pelos quais eles procuram se dedicar em trazer para si uma sensação plena e agradável de satisfação. É um estado temporário de felicidade fugaz, porém fundamental, ainda mais que comer e fazer sexo também se revestem não só de uma questão de regozijo, mas de sobrevivência individual e preservação da espécie.
   Nós, os Niescentes, temos também formas de prazer das quais nos submetemos com paixão, das quais consideramos fundamentais à nossa sobrevivência como espécie, mas que, obviamente, podem não fazer nenhum sentido às outras raças deste imenso universo. Um dos nossos prazeres é um estado mental singular o qual vocês, humanos, poderiam chamar de epifania.
    E para chegar neste estado mental induzido, precisamos abrir mão temporariamente da nossa capacidade de acessar informações de nossa própria história como indivíduo, sem poder executar conexões às ocorrências anteriores para recuperá-las depois misturadas com novas informações intrínsecas, as memórias, de um outro ser completamente extracorporal à nossa natureza.
   A ocultação obrigatória dessas informações, memórias niescentes, servem para dar espaço de armazenagem às de outras raças e, a partir delas, vivenciar novas experiências intelectuais e sensoriais sem intercorrências das primeiras. Foi por isso que absorvi Ana para mim, porém é preciso dizer que não foi apenas por prazer, mas também foi um trabalho de pesquisa.
   Você, humano, já sentiu, referindo-se à semântica da sua própria linguagem terráquea, algum tipo de epifania? Sabe o seu significado? Epifania trata-se de uma revelação inesperada, intuitiva, um entendimento repentino a reunir os inúmeros pedaços vagos em um todo completo; é como se fosse, por metáfora, uma iluminação divina súbita a lhe retirar da escuridão profunda.
   Sim, epifania, essa palavra pode te oferecer um vislumbre do prazer, da satisfação incomensurável de se estar confuso em um período de obscuridade atormentando-lhe a existência para, em seguida, em um único momento revelador compreender as informações cognitivas de outro indivíduo dentro de si. Eu senti isso quando entrei no “Iluminador Cósmico”, artefato adequado para acionar o gatilho da verdade das memórias, agora, simbióticas entre Humanos e Niescentes dentro de mim.
   Então, humano, te esclareço que sou um Niescente, um ser assexuado de uma das raças mais antigas do universo mapeado por nós. Minha linhagem vem de uma casta de função pragmática específica, muito própria à minha natureza flexível de moldagem a qualquer ambiente:  os transmorfos de pesquisa.
   Em primeiro lugar, devo pedir desculpas à família de Ana, a matriz da qual tive de absorver as características físicas e os processos mentais, incluindo partes da memória. Infelizmente, o método de absorção para copiar o original acaba inutilizando este último. Embora isso não sirva de consolo, informo que uma parte mental dela, assim como de outras criaturas da quais já transmutei, fazem, agora, parte do meu processo consciente.
   Há cinco anos terrestres, alguns Niescentes foram à Terra para coletar informações. Este é um planeta novo que abriga vida inteligente recém-descoberto por nossos cientistas. Meus transes temporários, quando transmutado em Ana, eram apenas partes do processo de assimilação e classificação de milhares de informações adquirida na Internet, associadas também às minhas impressões em relação ao comportamento humano.
   Posso simplificar tudo em uma ilustração mental para o seu fácil entendimento: eu era um complexo pen-drive orgânico de armazenagem de conhecimentos e experiências sensoriais. E naquele instante, minha capacidade de armazenamento estava cheia. Estava começando a misturar os dados. Precisava voltar para o meu mundo.
   A esfera, um artefato tecnológico niescente que, além de acionar o gatilho da epifania, também se constituía em um teletransporte para me levar à nossa espaçonave, escondida sob uma camuflagem de detecção magnética no lado escuro da lua.
   Portanto, quando você receber esta informação, já terei há muito partido para o meu mundo. Não quero lhe decepcionar na descrição ou imagem de minha verdadeira aparência.
   Quero te deixar uma boa impressão de Ana... na verdade de mim... é ... de mim... eu... quer dizer, Ana... sim, Ana lhe quer muito bem, Abner!
    Viva à sua vida e seja feliz!

 



 
Affonso Luiz Pereira
Enviado por Affonso Luiz Pereira em 22/05/2021
Reeditado em 23/05/2021
Código do texto: T7261832
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