Primitivos

A bela paisagem despontava junto com os primeiros raios do sol. O dia amanheceu inundando a planície e mostrando que dessa vez nenhum membro do pequeno grupo havia sido morto durante a noite.

Aquelas criaturas levavam uma vida muito difícil. Constantemente estavam com fome e passavam o dia procurando o que comer. O medo de predadores era permanente e quando a noite chegava trazia com ela perigos que faziam os membros dormirem amontoados uns aos outros.

Eram um grupo não muito grande, pouco mais de quarenta machos, fêmeas e seus filhotes, alguns muito pequenos e ainda agarrados às mamas de suas mães. Eram caçadores-coletores e passavam o dia juntando coisas para comer: frutos, raízes, alguns tipos de plantas e insetos os mais variados eram o principal cardápio. Muitas vezes era difícil encontrar algo que saciasse a fome de todos. Quando isso acontecia passavam a caçar pequenos animais, mas isso sempre era uma atividade realizada com muita dificuldade, pois a maioria era mais rápida que os caçadores.

Eles não eram altos, apresentando uma compleição física forte e atarracada onde se destacavam os membros superiores compridos e musculosos. Não eram velozes e tinham capacidade limitada para defender-se dos predadores que infestavam a planície. A única coisa, ainda que pouco explorada, que estes possuíam e que poderia ajudá-los a sobreviver em um ambiente inóspito era a sua capacidade para manipular objetos com as falanges que se projetavam da ponta de seus membros superiores.

Não havia uma liderança especifica e, eventualmente, dois machos se desentendiam acerca de quem deveria liderar o grupo. Por causa disso vários já tinham exercido a liderança. Braços Longos era quem liderava no momento. Ele havia tomado para si Cintura Fina como companheira. Disputou-a com Cicatriz na Cara e venceu.

*****

Braços Longos, Rabiscador, Testa larga e outros três andavam pela planície tentando caçar algum pequeno mamífero. Já estavam cansados das muitas tentativas infrutíferas e a sede já se fazia presente. Os seis machos haviam aplacado a sede em um córrego e agora descansavam em um pequeno platô se preparando para novas investidas. O sol do meio-dia queimava seus corpos quando Testa Larga começou a guinchar e gesticular de maneira acintosa apontando para alguma coisa no horizonte. Todos olharam para onde seu companheiro apontava e divisaram um estranho objeto lá embaixo. Algo grande, branco e com uma forma oval repousava tranquilamente a algumas dezenas de metros de onde eles estavam.

Nada que já tivessem visto se comparava àquilo. Eles já haviam passado por aquele lugar muitas vezes e nunca tinham visto nada sequer parecido com o que se vislumbrava à frente deles. A presença do estranho objeto deixou-os assustados e curiosos ao mesmo tempo.

Os dias se passavam e o estranho objeto permanecia onde estava. Do alto do pequeno platô as primitivas criaturas passavam horas admirando a forma do objeto. Com o passar dos dias o medo foi sendo substituído por curiosidade.

Após vários dias de observação o grupo no platô percebeu algo diferente. Uma pequena abertura passou a existir em um dos lados do grande objeto branco. Todos ficaram em silêncio e assustados quando viram que da abertura desceram criaturas que pareciam emitir uma estranha luz. Guinchos e pequenos saltos de assombro foram silenciados por Braços Longos.

Com uma curiosidade crescente observaram as criaturas andarem pela planície. Viram com assombro que eles eram muito altos e que carregavam em seus corpos coisas que não sabiam dizer o que eram. Após perambularem um bom tempo pela planície as criaturas enterraram longas hastes em várias partes do terreno.

Rabiscador estreitava os olhos ao máximo para não perder um único movimento das criaturas. Testa Larga apertava com força o pequeno osso que usava como arma. Olhos Claros e Braços Longos permaneciam a maior parte do tempo em silêncio. Sem Dedo e Orelha Grande ficavam imóveis e apreensivos.

Todos perceberam com assombro quando um predador se aproximou sorrateiramente de uma das estranhas criaturas que brilhavam. Antes que o grande animal desse o seu mortal salto ele foi jogado ao chão por uma luz que saiu do pequeno pedaço de pau que a criatura carregava. Com admiração viram que o predador fugia atordoado.

Durante a noite foi difícil para eles dormirem, pois não saia de seus pensamentos a imagem da criatura afugentando tranquilamente um bicho daquele tamanho e que já tinha morto vários deles.

No dia seguinte quando retornaram ao pequeno platô para tornarem a se maravilhar com o espetáculo das criaturas brilhantes viram, com tristeza, que o grande objeto já não estava mais lá. Para onde teria ido?

Desiludidos ainda retornaram várias vezes ao mesmo lugar durante muitos dias, mas nunca mais tornaram a ver as criaturas que brilhavam e o estranho objeto de onde elas saíram.

*****

Os dias passaram e as primitivas criaturas voltaram ao seu cotidiano de luta pela sobrevivência. Em meio a tantas agruras o pequeno grupo descobriu uma caverna que agora servia muito bem como um excelente refúgio para protegê-los dos perigos.

*****

Rabiscador ficou muito impressionado com o que tinha visto. A imagem das criaturas brilhantes marcou tão profundamente seu ser que este decidiu pintar nas paredes da caverna tudo o que tinha visto.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 05/07/2021
Código do texto: T7292922
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