SEMENTES

Corria o ano de 2168 e o terceiro planeta de uma estrela chamado Sol, após experimentar uma era de ouro na ciência, descobriu da pior maneira possível que grandes avanços científicos têm que vir acompanhados de grandes mudanças sociais e ecológicas que comtemplem a todos de maneira digna e coerente.

Uma humanidade capaz de criar nanotecnologias para remover e restaurar lesões neurológicas ou vasculares convive com populações sofrendo pela desnutrição. Computadores quânticos superpoderosos ao lado de escolas precárias em que o professor tem apenas o quadro-negro e o giz como instrumentos para ensinar. Ricos e abastados fazendo turismo na Lua ao mesmo tempo em que guerras religiosas explodem em várias partes do planeta.

O mundo havia se transformado em algo caótico.

Todas as contradições humanas terminaram por criar um estado de coisas insustentável para uma vida terrestre justa e harmoniosa. Um dia algo de muito ruim iria acontecer...

Eis que um laboratório, escondido em algum lugar remoto do planeta, criou um organismo microscópico extremamente agressivo a todas as formas de vida. Ele fugiu ao controle. Contra ele não haveria uma defesa possível. Descobriu-se que em pouco tempo o planeta inteiro se transformaria em uma bola rochosa e arenosa circulando em torno do Sol: um planeta morto.

Agora todos sabiam que o ser humano em poucos anos deixaria de existir...

Em meio ao caos que se instalou em todo o mundo, com profetas messiânicos em cada esquina pregando uma salvação impossível e grupos armados lutando entre si para impor uma ordem que jamais haveria, eis que surge uma ideia que poderia ajudar a espécie humana a continuar a sua existência.

Não era a salvação para o planeta e nem para aqueles que nele viviam. Para estes o fim era inevitável. A ideia era simples, mas com possibilidades muito remotas de vir a dar certo. E se por um acaso tivesse sucesso seus mentores jamais saberiam disso.

Antes que a existência humana chegasse ao fim foram reunidos os poucos recursos intelectuais e tecnológicos que restavam. Um último projeto humano foi encaminhado. Não haveria livros e historiadores para descrever e analisar aquela que seria a última grande aventura humana.

Minúsculas cápsulas foram construídas e lançadas ao espaço. Em cada uma delas foi colocado o genoma humano. A sequência de DNA humano viajaria pelo espaço sideral na esperança de um dia semear a vida em algum planeta distante.

Milhões de pequenas cápsulas, contendo cada uma 23 pares cromossômicos, viajariam pelo universo carregando toda a informação básica necessária para a constituição de um organismo humano. Uns poucos grãos de areia em uma praia gigantesca.

***

Ele era baixo e atarracado, seus membros superiores e inferiores exibiam músculos bem definidos, cicatrizes no peito era um sinal das muitas batalhas pela sobrevivência. Seus olhos vigiavam o ambiente ao redor. Em suas mãos um longo e pesado osso de alguma criatura era sua única arma contra os predadores da região. Por um breve momento seus olhos pousam sobre sua fêmea e seus filhotes que dormem enroscados uns aos outros.

O cansaço percorre seu corpo. Daqui a pouco a luz do dia irá chegar. Uma última vez ele contempla as duas luas pálidas que parcamente iluminam o platô onde ele e sua família se abriga. Ele não entende porque elas sempre ficam um tempo no alto e depois vão embora cedendo a vez para uma estrela muito maior e com a luz mais intensa. Mesmo sem conseguir entender ele acha bonito isso tudo.

O dia chegou trazendo com ele a necessidade de ir atrás de comida. Sua fêmea e seus filhotes agora estão acordados. É hora dele ir caçar.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 18/10/2021
Código do texto: T7366278
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