O FIM DA HISTÓRIA

O homem barbudo conferiu pela décima vez sua pistola. Meio pente era tudo o que lhe restava. Quando as balas acabassem ele teria apenas sua faca para tentar viver um pouco mais. Já eram muitos os dias em que estava sem tomar banho e seu uniforme estava com aquele fedor característico de roupa suada que secou no corpo.

Aquele cratera onde ele se escondera salvou-lhe a vida. Vida? Melhor seria se tivesse morrido logo no primeiro ataque.

Não houve tempo para nada. Não houve aviso de nenhum tipo. Não pousaram naves alienígenas com um exercito invasor. Não foi uma vírus terrível que surgiu para matar milhões de pessoas.

Elas surgiam em qualquer lugar. No meio da rua, dentro da cabine de um jato comercial atravessando o Atlântico, na garagem de uma casa qualquer, na praça de alimentação de um shopping. Aqueles demônios simplesmente se materializavam, como se tivessem saído de algo semelhante ao teletransportador da série famosa de televisão.

Como se defender de algo que surge do nada? Armas de fogo, facas e pauladas matavam elas. Sua estrutura física não era muito diferente da de um ser humano. O único problema é que elas eram incontáveis, milhares de bilhões de criaturas. Cidades eram varridas em minutos. Ainda houve tempo para especulações na rede mundial de computadores, mas isso por poucos dias. Países inteiros eram silenciados em horas. Não havia um único lugar que alguém pudesse considerar seguro.

O homem barbudo e fedorento comeu tranquilamente sua última barra de chocolate, sentiu um prazer quase infantil ao saboreá-la. Sorveu um grande gole de água. Seu pensamento se elevou para alguns fatos irrelevantes de sua vida. Que importância tinha agora ele saber que havia esquecido a roupa na máquina ou que não havia respondido àquela mensagem de celular?

A bala de sua arma atravessou seu crânio e a morte chegou de maneira rápida e quase indolor.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 11/12/2021
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