Violação de integridade

Os seguranças levaram a mão às orelhas onde usavam o comunicador auricular e ouviram atentamente durante alguns segundos. Em seguida, um deles dirigiu-se à Uxue Yharrassary.

- Vocês estão liberados; vamos escoltá-los até a câmara de descompressão.

- Saberia dizer se a carga já foi engatada ao rebocador? - Indagou ela.

- Esse não é o nosso trabalho - retrucou o guarda, fazendo um gesto com o projetor ultrassônico que portava. - Vamos!

Os tripulantes do "Lur Berria" acharam por bem não irritar seus captores, e seguiram à frente deles até a câmara de descompressão. A escotilha interna foi aberta e aguardaram até que a externa lhes desse passagem ao tubo de comunicação com o rebocador. Já de volta à cabine de comando, Iuliu Nistor instalou-se em seu assento e ligou um terminal para verificar a situação da nave.

- Temos a nossa carga! - Informou exultante.

- Todos os tanques cheios e verificados? - Questionou Uxue, ocupando o assento ao lado do imediato.

Iulius conferiu telas com colunas de informação em dígitos fluorescentes e balançou afirmativamente a cabeça.

- Sim, tudo conforme o manifesto.

- Ótimo - replicou a comandante, ligando os motores. - Então, vamos embora.

O imediato ajustou o headset e chamou o controle de tráfego da usina.

- Controle, rebocador "Lur Berria" pronto para partir.

- Atenção para a liberação das travas magnéticas - foi a resposta do operador.

Os engates que prendiam o rebocador à usina foram desconectados, e durante perigosos décimos de segundo, o "Lur Berria" caiu algumas dezenas de metros na atmosfera joviana. Em seguida, os propulsores foram acionados na potência máxima, o nariz do veículo foi erguido, e começaram o processo de ascensão que os levaria de volta ao espaço sideral.

- Curso estabelecido, creio que já dá pra avisar ao Mustaba bin Kamis que estamos a caminho - sugeriu Iulius.

- Pois faça isso - determinou Uxue, recostando-se confortavelmente no assento e fechando os olhos.

Uma lâmpada amarela acendeu-se no console diante do imediato.

- Alerta de violação de integridade no tanque número 7 - informou, cenho franzido.

Uxue reabriu os olhos.

- O tanque rachou, ou algo assim?

- Não... - Iulius apertou os olhos, lendo as colunas de dígitos fluorescentes. - É na câmara de controle do tanque... por padrão, ela estaria despressurizada durante o transporte.

- E isso empata alguma coisa no funcionamento do tanque? - Questionou Uxue.

- Não, de forma alguma. Mas é curioso; se fosse necessário fazer algum reparo na câmara durante o voo, teríamos que usar um traje espacial, já que ela não possui uma comporta de descompressão.

Uxue deu de ombros.

- Certamente algum idiota da UC-4 esqueceu de despressurizar o compartimento ao engatar o tanque no rebocador.

E recostando-se novamente no assento:

- Vamos nos preocupar com isso quando chegarmos ao destino; agora, avise ao cliente que a carga está a caminho.

Outra lâmpada, no console de comunicações do imediato, acendeu-se. Ele apertou um botão.

- "Lur Berria" na escuta.

- "Lur Berria", é a UC-4 - ouviram a voz do operador de tráfego. - Vamos precisar que voltem à usina.

Uxue e Iulius entreolharam-se, desconfiados.

- O que houve, UC-4?

- Detectamos uma falha estrutural no tanque 7. Ele corre o risco de explodir antes que atinjam o espaço - disse a voz.

Uxue baixou a voz e perguntou para Iulius:

- Não foi isso o que você detectou, foi?

Iulius colocou a comunicação no mudo, antes de responder:

- De forma alguma; alguma coisa aqui não me cheira bem.

E fez um gesto para as nuvens de hidrossulfeto de amônio que deslizavam pelas janelas de observação:

- E não me refiro à essas nuvens lá fora...

- [Continua]

- [28-01-2022]