MUNDO NOVO

_... (Vê o que eles estão fazendo? Tecnicamente, isso é antiético!)

_... (É. Eu sei...)

_... [“Consegui! Te entrego na semana que vem! ”] _... [“os malucos da rua de baixo, eles que fizeram...! ” “Sem drama cara, pega sua moto, vamos ter uma conversinha com eles! ”] _... [“amanhã, sem falta...” “você promete? ” “Sim, v-v-vou estar de vestido, hum... vai ser mais fácil... a-a-ai você me encontra depois da aula”] _... [“não é que eu não queira, mas você sabe” “tudo bem irmão, é mesmo uma viagem muito louca”] _... [“E ele me disse ‘eis que é chegada a hora! ’”] _... [“estou com a parada oh doidão! ” “Sem zoeira, me mostra! ” “Aqui, agora vê se não faz merda hein! O cara vai estar te esperando no prédio roxo na esquina da Boulevard Stream, perto da oficina de robôs do Pietro” “Eu não vou falhar dessa vez cara, eu prometo” “não vai falhar... olha seu escroto, da última vez eles pegaram o Billy Carter por sua causa! Se falhar de novo, adeus sonho de conhecer o líder entendeu? ” “Pode deixar cara”]

_...

Ele estava no alto do penhasco cinzento, para chegar lá ás vezes pegava um atalho por entre umas ruinas escondidas no meio de uma estranha vegetação. Era também um ponto estratégico, de lá dava para ver quase toda a cidade brilhando em sua maldita plenitude.

Ah, aquela maldita cidade... desde que ele adquiriu certa maturidade, passou a vê-la como se ela fosse um organismo vivo, e seus habitantes como micro-organismos a habitando. Ora fazendo-a funcionar ora lhe causando mal.

Seu antigo nome se perdeu com o tempo, agora a chamavam de Neo Hull, contra todas as expectativas, alcançara um tamanho colossal. Mas naquele tempo estava infectada, luzes de todas as cores e intensidades, sons e cheiros muitas vezes insuportáveis, uma população carente de tudo que lutava aos bandos com todas as forças por pelo menos um pedacinho de dignidade, enquanto se espremiam e se esmurravam na corrida da vida para chegar o mais perto possível do centro do centro da cidade, cujo coração era uma torre que cada dia que passava, parecia chegar mais perto de tocar aquele novo céu.

-Você vai mesmo sozinho? –Alguém lhe perguntou pelo rádio.

-Não se preocupe, apenas mantenha os drones a postos. –Disse ele tranquilamente.

Do meio da vegetação perdida entre tons de cinza e púrpura, por entre os restos de metal e concreto, uma motocicleta flutuante de cor prateada desceu a toda até chegar a estrada, quase bateu em um caminhão de entregas, o motorista até fez menção de levantar as mãos para praguejar, mas quando quem a pilotava limitou-se a simplesmente mexer os lábios e acompanhar com os olhos o veículo virar a toda e ir em direção a estrada que levava ao centro da cidade.

De fato, muita coisa estava diferente. Não haviam mais líderes, basicamente porque não existiam mais países, só o que havia era Neo Hull. Mas também existia um tipo de conselho formado por um grupo de anciões, a quem alguns se referiam pejorativamente como “Os Cardeais”. Cabia a esses anciões tomar as decisões mais importantes. As polícias do modo como as conhecemos também deixaram de existir, o que havia para manter a paz e a segurança eram os chamados Cavaleiros, ao menos chamados assim oficialmente, nas ruas eles tinham outro nome.

Aquele que descera o penhasco era um deles, diziam que era o melhor, seu nome era Eisenhower. Damian Eisenhower. Era conhecido em toda parte pelo visor azul do traje cheio de arranhões, uma armadura a prova de quase todas as munições e intensidades de raios de plasma, em geral era todo prateado com detalhes pretos por baixo das placas de proteção, mas alguns pilotos costumavam modificar suas cores, principalmente de seus visores, uma película praticamente inquebrável que além de proteger o rosto também servia como uma espécie de tela, nela o piloto via dados de informações relevantes passando como se fosse um computador.

Seus veículos mais usados eram motocicletas flutuantes de cor também prateada, elétricas com placas solares embutidas no tanque e nas laterais, alcançavam quase cento e oitenta milhas por hora e quando necessário, sacavam dois mini canhões de plasma na parte da frente.

Parecia muito poder de fogo para uma pessoa só, era por isso que para ser um Cavaleiro era necessário passar por pesados testes e provações que para alguns já começavam desde a mais tenra idade, muitos desistiam pelo meio do caminho, as vezes o corpo ou a mente sucumbiam, as vezes os dois.

Tanto poder porque em Neo Hull as pessoas eram obrigadas a ficar confinadas obedecendo as ordens do dito conselho, mas alguns tendiam a enlouquecer, era um tempo em que as gangues assolavam os subúrbios, havia guerra por territórios entre traficantes de drogas sintéticas e contrabandistas, e no meio disso, havia um grupo terrorista que crescia e espalhava anarquia, ameaçando incendiar tudo o que viam pela frente. Foi então em algum momento no meio dessa guerra que os Cavaleiros começaram a ser mal quistos por parte da população, para frear todo esse caos, ocasionalmente eles tinham que se exceder no uso da violência.

E ele sentia isso enquanto corria pelas ruas encharcadas tentando driblar o trânsito, mesmo que de relance, entrevia no rosto daqueles que o reconheciam ao passar um misto de olhares de admiração ou desdém, via mãos erguidas em apoio, mas também ouvia gritos de xingamentos, mesmo que de relance, estava atento a tudo.

A pessoa a quem ele estava no encalço era membro do tal grupo terrorista, eles chamavam a si mesmos de Contrarrevolucionários. No começo não passavam de um grupo de ludistas que queriam quebrar tudo o que era de alguma forma novo, eles diziam que se meteram naquela situação por culpa da alta tecnologia, no entanto depois de uns anos, eles mudaram completamente seu modo de agir, embora ainda mantivessem seu obscuro objetivo. Acabar com a maldita blasfêmia chamada de ciência e com um homem chamado Lucian Niniev, a mente que diziam ser responsável por Neo Hull e quase tudo o que havia nela, inclusive os Cavaleiros.

Esse Lucian era o tipo de pessoa a quem os outros podiam chamar de excêntrico, em algum momento de sua existência isolara-se no topo dessa torre no centro da cidade, e há tempos não era mais visto. Fato que serviu para alimentar ainda mais as fantasias desses grupos de conspiradores, pois diziam eles que de lá ele governava secretamente aquele novo estranho mundo. Tão estranho quanto ele.

O Contrarrevolucionário nunca revelou seu verdadeiro nome a ninguém, pelo menos, ele não lembra de ter feito isso. Uns vinte e oito anos, estatura mediana, branco e completamente careca e de um modo quase teatral de falar. Entrou para a organização a mais ou menos três anos e nunca conseguiu nada que o fizesse ser respeitado, ao contrário, houveram operações em que foi de peso morto a estorvo em questão de minutos. Era um legitimo fracassado, contudo como ele mesmo dizia; era um fracassado com um sonho, e faria de tudo para realizá-lo.

-Dust? Dust, você está ai, oh?

-Estou indo em direção ao metrô que você indicou, qual o problema, cara?

-Alguém... esquina... seguiu... muda...

-O que? Alejandro? Alejandro cara, o que foi? Mas que merda!

Ele pensou que tivesse sido a chuva, a chuva e as centenas de antenas sobre sua cabeça que interromperam o sinal abruptamente, não raramente uma descarga elétrica também bagunçava alguma das torres, outras vezes causava interferências como delays em ligações de vídeo ou mesmo em ligações de aparelho celular como aquela.

Quando a chuva começou a apertar ele correu e se abrigou sob um outdoor com a imagem de uma moça ruiva num biquíni prateado.

O outdoor anunciava um novo Spa nas redondezas que oferecia bronzeamento artificial. Aquele novo mundo era uma terra de estremos, o sol ora era escasso ora era demasiado, bronzeamento artificial era uma das únicas formas seguras de se pegar uma cor, mas era algo um tanto caro para a maioria da população, esse era então um modo de reconhecer as pessoas mais bem sucedidas, com umas raras exceções, quanto mais bronzeado, mais dinheiro em caixa a pessoa tinha.

Agarrado ao seu pacote, ele se pegou pensando na moça do outdoor e em como tudo seria diferente se um dia ele lograsse êxito em sua missão.

O telefone em seu bolso voltou a vibrar e o despertou de seu sonho, ele atendeu de maneira agitada, mas mais uma vez a chamada foi cheia de interferências, ele não conseguia ligar todas aquelas palavras desconexas de maneira que fizessem sentido, até que um arrepio correu por sua espinha. Lhe ocorreu a lembrança de que, em algumas ocasiões, isso acontecia porquê havia alguém tentando invadir a rede. Ou pior, havia algum Cavaleiro por perto, eles faziam uso de aparelhos que atrapalhavam, ou mesmo bloqueavam o sinal.

Tentando conter o tremor, devagar guardou o telefone de volta no bolso e começou a olhar a outra ponta da esquina; engoliu seco ao ver o desgraçado parado com toda a calma no meio da rua, e como não dava para ver seu rosto por causa do visor, uma apreensão quase insuportável lhe fez revirar as entranhas, para onde o miserável estava olhando?

A única coisa que dava para ver era que ele mexia a cabeça como se tentasse ver alguma coisa nos prédios, mas sempre voltava a olhar em redor. Dust engoliu seco e agarrou-se a pasta que levava sob o casaco, qualquer um que olhasse pensaria que ele estava fazendo aquilo para se proteger do frio, ele implorou para que o Cavaleiro passasse e também pensasse o mesmo.

Luzes intensas, barulho de vozes, cochichos, olhares de temor e desprezo. Ele concentrava-se apenas na chuva, erguia a cabeça para poder ver as linhas que os pingos deixavam no visor ao escorrerem por ele. O que tinha acontecido mesmo naquele dia? Ele não se recordava, mas lembra que estavam correndo, correndo da chuva para a casa dela. Ele estava sentado na cozinha, escondido atrás de um balcão, ela apareceu com uma toalha e delicadamente começou a enxugar seus cabelos, seu rosto se enrubescia a medida que olhava mais e mais aquele meigo sorriso. Em algum momento suas mãos se tocaram e se entrelaçaram, eles foram aproximando suas faces cada vez mais até que finalmente fecharam os olhos.

-Mas mamãe!?!

-Já disse que não!

Um garotinho híbrido estava admirado com sua motocicleta, ele tentou se aproximar para ver melhor, mas foi impedido violentamente pela mãe.

Havia um ódio quase mortal por parte dos híbridos aos Cavaleiros. Em algumas áreas da cidade, os índices de crimes costumavam ser maiores por parte deles, e ao cumprir seu dever de prendê-los, como dito, alguns dos Cavaleiros acabavam se excedendo.

É claro que na verdade –de acordo com a opinião de um grupo de defesa dos direitos dos híbridos, eles os Cavaleiros, assim o faziam porquê tinham medo das pobres criaturas, já que em certas aptidões eles superavam e muito os humanos, queriam fazer com que vivessem com medo e assim não se rebelassem. De um jeito ou de outro, a mulher híbrida que tinha pele cor de pêssego e orelha e chifres, como de uma gazela, olhou para ele com um olhar de nojo e escondeu o rosto sob um capuz marrom. Não deu para ver o seu por causa do visor, mas ele olhou para o garoto com olhar de pena.

Estava parado em um beco onde era realizado um tipo de feira, mesmo que não tenha dado muita atenção, deu para ver que quase tudo era comercializado naquela feirinha, ao seu lado havia uma pilha de caixas de pera esperando um caminhão, a pessoa responsável tentava fumar enquanto lia um jornal, era um senhor híbrido humano-hipopótamo, usava uma boina preta e branca e quando o viu piscou o olho e com a cabeça pareceu apontar para aonde Dust estava. O Cavaleiro o agradeceu com um aceno com a cabeça, mas já havia horas que o observava, só estava esperando ele tomar alguma iniciativa.

Na verdade, Damian em algum momento ficara tão à vontade que até cruzou os braços e se recostou sobre o painel da motocicleta. Enquanto isso, um suor frio corria pelo rosto de Dust, era fácil reconhecê-lo no meio da multidão: careca, usando um casaco marrom cheio de recortes de marcas famosas, um par de óculos com lentes cor de laranja, e uma pequena tatuagem do símbolo da anarquia na cabeça. Quando ele viu que a chuva parecia querer diminuir, engoliu seco e tentando não parecer nervoso, se dirigiu à estação de metrô.

As pernas tremiam e as mãos gelavam, ao que parece, um dos trens havia se atrasado por conta de um tipo de acidente, no entanto esse pequeno atraso estava causando impacto em todo o itinerário dos outros, Dust calculava um atraso de pelo menos uma hora.

-Que merda! –Pensava ele. –Que merda, que merda, que merda! Se eu voltar lá o cara ainda vai estar me esperando, eu tenho certeza! Anda maluco, pensa! Pensa!

-Oi? Pode vir aqui um instante?

Ele sentiu como se estacas de gelo tivessem penetrado sua espinha, sentiu como se sua garganta quase tivesse fechado, ao ouvir a voz abafada, lentamente virou para trás e seus olhos quase saltaram da orbita. Lá estava o Cavaleiro conferindo a documentação de um rapaz de etnia latina que tinha acabado de entrar na fila da bilheteria.

A boca secava a medida que o Cavaleiro ia fazendo o mesmo com os outros e se aproximando dele.

-Desculpe o incômodo, –dizia gentilmente o Cavaleiro, –é apenas parte do cumprimento do dever.

Um velho em roupas maltrapilhas atrás de Dust entregou seu documento e ficou olhando com cara de desconfiado para Damian, principalmente para as marcas no peitoral da armadura.

O “tek tek” do som das botas da armadura contra o chão de concreto pareciam marteladas nas têmporas de Dust.

-Cuidado azulão! –Disse o velho atrás dele. –Esse metal da sua armadura parece bem gasto, se eu fosse você...

A voz dele e a de todo mundo sumiu. Azul? Azul? De repente uma onda de choque de informações veio na mente de Dust, azul? Azul? O que isso o fazia lembrar? “Só lembrem de tomar cuidado quando virem o azul” quem disse isso?

-Oi? Oh amigo!

Ele voltou de súbito e se assustou. Se virou com certa dificuldade, tremendo muito, quem o olhava o julgava entorpecido, ele então focou os olhos e viu o Cavaleiro parado o aguardando.

-Está falando comigo, cara?

-É, você mesmo.

-E qual é o problema?

-Seu documento amigo, preciso vê-lo.

-É? E para o que?

-Como assim?

-Para que quer ver meu documento?

-É meu trabalho senhor.

-Trabalho? Desde quando fungar no cangote dos outros é trabalho?

-Senhor, como os outros, queira colaborar. Por favor.

O nervosismo dele fazia com que todos o olhassem com olhar de suspeita. Quando ele puxou do bolso o velho cartão contendo todos os seus dados, sua mão tremia como se ele estivesse nu no meio da neve. No visor do capacete do Cavaleiro após reconhecimento da foto e leitura do código QR, apareceram entre demais informações bobas, penas cumpridas por crimes como vandalismo e pequenos roubos cometidos na juventude.

-Obrigado, –disse o Cavaleiro devolvendo seu cartão.

Dust o guardou de volta no bolso e olhou para todos os que julgavam com os olhos, um rosto revoltado doido para perguntar o que eles estavam olhando, mas finalmente conseguiu se controlar. Após terminar de ler o cartão das outras duas pessoas que estavam em sua frente, de repente o Cavaleiro ergueu a cabeça e voltou-se para Dust.

-Ah, só mais uma coisa, senhor. O que tem debaixo do casaco?

Um arrepio correu pela espinha do Contrarrevolucionário, sentiu suas pernas inchando e seu coração disparando violentamente.

-É o que cara?

-Tem algo debaixo do seu casaco que você está tentando esconder desesperadamente, desde que me viu. O que é?

O que mais assustou Dust, ele lembrou depois, foi a mansidão com que o Cavaleiro lhe dirigiu a palavra. Ele ficou imóvel segurando seu pacote à medida que todos se afastavam dele, se fosse uma bomba, mal faria dano a ela por causa de sua armadura, todavia os estragos na estação e as perdas seriam incalculáveis, a moça grávida que atendia na bilheteria começou a se segurar para não chorar, todos sabiam que os Contrarrevolucionários eram capazes de fazer qualquer coisa em nome de sua maldita causa. No entanto, Dust tomou a mais amadora das atitudes, sacou uma arma a laser atirou contra o peito de Damian, e saiu correndo.

A descarga atingiu o peitoral da armadura, ricocheteou e acertou o teto, o Cavaleiro deu apenas alguns passos para trás.

-Imbecil... cabeça de vento! ... ESTÃO TODOS BEM?

Acenos positivos de todos os lados, Damian finalmente solicitou reforço e saiu correndo atrás do maluco, suspiros de alívio foram soltos ao longo da estação enquanto curiosos corriam para o ver o que tinha acontecido.

-DEU MERDA ALEJANDRO! DEU MERDA! –Gritava Dust ao telefone.

-Mais do que...? Está... falando... Dust...?

Dust parou de correr e deixou o celular cair na correnteza da sarjeta. Um pouco mais acima na rua, o Cavaleiro o observava de braços cruzados. Ele engoliu seco e começou a correr em outra direção.

-Colabora, idiota. –Disse Damian suspirando de irritação.

A visão de Dust estava turva, sua garganta estava seca e ele estava quase sem fôlego, checou a arma, não tinha munição suficiente, não para enfrentar aquela coisa. Numa esquina, uma senhora com um cãozinho nos braços parecia estar esperando alguém, ele notou o quanto ela era idosa, uma presa perfeita.

-Oh meu docinho! –Dizia a velhinha. –Quando chegarmos ao doutor Simon ele vai dar um jeito nessas suas perninhas, não se preocupe...

Ela parou ao sentir o cano ainda quente de uma arma nas costas, uma voz ofegante sussurrou no seu ouvido:

-Senhora... não quero fazer nada te machuque... tem um sujeito atrás de mim... eu não sou bandido... mas ele acha que sou... se ficar quieta... tudo vai acabar bem...

A mulher não conseguiu mais falar, nem se quer engolir seco, movia os lábios, mas palavra nenhuma conseguia articular. Tek, tek, tek... o Cavaleiro surgiu do beco no meio da neblina densa que se formou por causa da chuva, em seu peitoral havia uma mancha preta ocasionada pelo tiro de Dust.

-MAS, MAS QUE MERDA!

Ele puxou a senhora e começou a apontar a arma desesperadamente para Damian.

-Fica aí cara! Nem mais um passo OU EU JURO QUE VOU FRITAR OS MIOLOS DA VOVÓ!

O Cavaleiro ergueu as mãos como em sinal de rendição, o cãozinho saltou dos braços da mulher e começou a morder a calça de Dust, ele se desesperou e chutou a cabeça do animal, seu grito de dor ecoou por todo o beco.

-Você não precisa fazer isso.

-Tem razão, não preciso! ME DEIXA IR!

-Não, não se preocupe. Dessa parte eu posso cuidar.

Dust parou e começou a ranger os dentes, a mão do Cavaleiro estava sobre o capacete no lado direito, provavelmente alguém falava com ele. A calma com que ele agia em contraponto ao seu comportamento insano o fazia quase delirar de raiva, ele era um Contrarrevolucionário, ele era alguém que ficaria marcado para sempre como um dos que ajudaram a mudar a história, era uma blasfêmia um maldito Cavaleiro o tratar daquela forma, como se ele fosse um problema qualquer. Uma blasfêmia!

-EI CARA, OLHA PARA MIM! NÃO ME IGNORA! EU NÃO SOU QUALQUER UM! EU NÃO! ...

Um estampido que não deve ter durado mais de um segundo, o barulho seco da arma contra a calçada e as pernas de Dust começaram a amolecer, sua vista começou a escurecer, ele cambaleou e cambaleou até finalmente cair para trás. Uma única descarga de plasma bem no meio da sua testa. Não forte o suficiente para causar sua morte, embora ele assim tivesse preferido, conviver com a vergonha de ter tombado daquele jeito para alguém como ele, era o muito pior do que morrer.

Uma pequena multidão correu e ameaçou se aglomerar em volta da velhinha e do terrorista, eles se dispersaram de súbito quando o Cavaleiro se virou e começou a apontar sua arma para eles, depois a ergueu levemente e a fez correr pelas janelas dos prédios vizinhos até finalmente disparar outra vez, em direção as escadas da saída de incêndio de um velho motel, as pessoas assistiram assombradas o cara que dava cobertura a Dust cair como uma fruta podre direto numa lata de lixo.

Minutos depois a área estava toda isolada. Dust e Alejandro já estavam devidamente algemados dentro do carro flutuante que os levaria a prisão. Alguns drones sobrevoavam o perímetro e uma moça de cabelo vermelho ajudava a velhinha a entrar na ambulância para receber atendimento.

O cãozinho da senhora tinha as patas traseiras biônicas, uma delas estava danificada e ela estava o levando para que consertassem. Ela olhou para Damian e com um singelo sorriso o agradeceu, ele fez um gesto com a cabeça e devolveu a gentileza, estava olhando para o cachorrinho, sempre quisera ter um de verdade, mas nunca lhe foi permitido. Até conseguiu um, mas era robô e embora por vezes até o ajudasse nas patrulhas, não era a mesma coisa.

IFerSo
Enviado por IFerSo em 24/04/2022
Código do texto: T7502325
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