Cratera da morte

Uma nave auxiliar conduzindo o xenoarqueólogo Nikotemo Faamate, seus dois assistentes, Etena Leapama, e uma especialista militar, Mara Falagi (que também pilotava o veículo), desgarrou-se da "Fisaga" e tomou o rumo da lua menor e mais externa de Samaria, um asteroide capturado com pouco mais de 20 km de comprimento.

- Mara, você está indo conosco só por precaução ou temos motivos para preocupação? - Indagou afavelmente Nikotemo, que ocupava o assento ao lado da piloto.

- O comandante não gosta de correr riscos - redarguiu a piloto, sem desviar os olhos da rota traçada.

- Seja lá como for, me sinto mais seguro com você nos controles - disse Nikotemo com uma piscadela.

- Então não vai se chatear se eu der ordens a você e sua equipe? - Replicou Mara, esboçando um sorriso.

- Se for pela nossa segurança, claro que não vou ficar chateado - ponderou Nikotemo. - Vamos esperar que faça a sua avaliação.

- Estamos entendidos - disse Mara solenemente. - Mas, se isso contribui para sua tranquilidade, não detectamos fontes de energia nem sinais de vida numa varredura preliminar da terceira lua. Ao menos, nada que possamos identificar como tal.

A nave auxiliar fez um sobrevoo rasante sobre a pequena lua, que ostentava uma grande cratera no meio do seu comprimento. No fundo da depressão havia sido construída o que parecia ser uma base permanente, originalmente coberta por um domo que cobria toda a cratera. Deste, havia restado somente algumas estruturas metálicas e partes estilhaçadas de uma cúpula transparente.

- É possível que o domo sustentasse uma atmosfera respirável, e os habitantes pudessem andar em seu interior sem trajes espaciais - observou Etena Leapama, sentada atrás da piloto.

- Imagine ser pego de surpresa nessas condições, por uma força atacante inimiga - ponderou Nikotemo. - Não devem ter tido tempo sequer de procurar um abrigo.

- A pergunta que devemos nos fazer, é o que queriam esses agressores - redarguiu Mara, procurando um local para pousar. - Destruíram a base, provavelmente a civilização que existia no planeta... e simplesmente partiram?

- Talvez tenha sido um ato de vingança - sugeriu Nikotemo.

- Espero que não seja dirigida a nós - suspirou Mara. - Preparem-se para o pouso!

A nave auxiliar tocou o solo no fundo da cratera em meio a uma nuvem de poeira. Se o local já fora pressurizado, deveria estar abandonado a muito, muito tempo.

- Coloquem seus trajes espaciais e verifiquem os equipamentos uns dos outros - disse Mara, após desligar a propulsão do veículo. - Eu vou descer na frente.

- Posso ir com você? - Solicitou Etena Leapama.

- Especialista em suporte de vida? - Avaliou Mara. - Acho que pode ser útil... venha.

As duas mulheres vestiram seus trajes espaciais e minutos depois desceram para a superfície desolada do satélite.

- Parece que não estavam muito preocupados em preservar o que havia aqui - comentou Mara pelo rádio do traje. - Explodiram o domo e lançaram mísseis ou algo equivalente contra as construções internas.

- Foi bastante rápido - avaliou Etena, abaixando-se para pegar um galho meio encoberto pela areia da cratera. - Aqui havia um jardim ou algum tipo de plantação... congelou quase que instantaneamente quando o domo perdeu a pressurização.

- Não estou vendo corpos - comentou Mara, olhando ao derredor. - Se foi tão rápido, deveria haver alguns fora das construções.

De fato; havia pedaços de máquinas e destroços espalhados por todo lado, mas nenhum sinal das vítimas entre os habitantes da base lunar.

- Talvez tenham sido recolhidos passado o ataque - ponderou Etena. - E depois, os sobreviventes tiveram que fugir do sistema Losi, na iminência de um segundo ataque ainda mais devastador que o primeiro.

- Vamos olhar dentro das construções - sugeriu Mara. - Ao menos, vai dar pra ter uma ideia de quem vivia aqui.

E tomaram o rumo de um grande edifício em ruínas, no centro aproximado da cratera.

- É possível que tenha sido um centro de comando ou mesmo uma residência coletiva - avaliou Etena, quando chegaram em frente a duas grandes portas metálicas que pendiam dos gonzos, como que por efeito de uma explosão.

Como o interior da construção estivesse mergulhada em trevas, acenderam as lâmpadas externas dos capacetes e entraram.

- O que descobriram, garotas? - Indagou ansioso Nikotemo pelo rádio.

Mara virou a luz para um canto do grande salão onde estavam, e foi então que viu o corpo caído no piso vitrificado.

- Parece que os habitantes de Samaria não eram nem remotamente humanos - declarou enfaticamente.

- [Continua]

- [28-04-2022]