MINICONTO - O POETA DAS ESTRELAS

No abismo vazio do universo infinito, a nave flutuava solitária, envolta na escuridão cósmica que se derramava como tinta no papel. O capitão contemplava a janela, como se estivesse olhando para um espelho que refletisse sua própria alma, despedaçada e sem rumo.

Ele se lembrava dos tempos gloriosos de um planeta que agora se esvaía como um sonho distante, dissolvido pela névoa da memória. As cores, as texturas, os sons, tudo parecia ter sido apagado pela voragem do tempo, deixando apenas um vácuo, uma cratera, uma sombra do que fora um dia a preciosa Terra.

Mas ainda assim, o capitão persistia na sua busca, na sua jornada, no seu martírio. Ele sabia que em algum lugar do universo, havia um mundo que ainda pulsava com a vida, que ainda vibrava com a música do cosmos, que ainda dançava a loucura do amor.

Ordenou que a nave partisse para a próxima estrela, para o próximo mundo, para o próximo sonho. Porém, enquanto a nave avançava, a névoa de esquecimento parecia acompanhá-lo, como uma serpente sedenta que envolvia tudo em seu abraço mortal.

O capitão sentiu a angústia e o desespero de um possível fracasso, como se sua alma estivesse sendo arrancada do corpo, como se estivesse prestes a mergulhar na loucura mais profunda. Mas ainda assim, ele continuou a avançar, a procurar e a desejar.

Então, num momento de pura epifania, percebeu que a nuvem de esquecimento era ele mesmo. Que a névoa que envolvia tudo era sua própria alma. Que a dor que sentia era sua própria existência.

Finalmente, deixou-se levar pela correnteza do tempo, pela música do universo, pela loucura da esperança, desaparecendo na escuridão do cosmos, como uma estrela que se apaga para sempre.