A linguagem dos bambus da Bica*

A primeira expedição, inspecionada em sobrevoos rasantes por várias sondas, tomou conta de toda costa litorânea paraibana.

Uma delas sobrevoava a Capital, quando adentrou o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, popularmente conhecido como "Bica". Subitamente parou em frente a uns enormes pés de bambu. Começou a emitir sinais estranhos...

Não demorou muito e chegaram dezenas de outras sondas. Todas sequenciadas, como que hipnotizadas, pararam em frente aos bambus e começaram a emitir luzes na direção dos caules onde estavam várias inscrições.

Eram riscos feitos nos bambus com nomes de humanos, além de caracteres e símbolos. As luzes passavam sobre os riscos, decifrando-os nitidamente: RJ (dentro de um desenho de coração), AXT, RB (com um pequeno símbolo de coração acima), L+C (dentro de um desenho de coração), LVC, EA, E+L, L+A 25-03-23, GA (dentro de um desenho de coração), E+M, AM (com um desenho de coração abaixo), V+B, E+V...

Continuava uma vasta sequência de letras e símbolos, lentamente armazenadas, em fotografias (talvez) pelas máquinas alienígenas, talvez para estudos, como assim fizeram as civilizações humanas, de todas as épocas, voltando seus olhares interpretativos para as artes das cavernas e rupestres, presentes em todos os recantos do planeta.

Seria a vez dos novos colonizadores também se debruçarem sobre as linguagens minimalistas dos humanos, nos séculos mais recentes.

No bambuzal não estavam gravadas apenas letras e símbolos, mas ali estavam vários textos completos, de vidas diferentes que ali se uniam para contar suas histórias de vida, de união, de amor com suas completudes e talvez dissoluções. Portanto, havia começo, início e fim de várias gerações, eternizadas e visíveis a qualquer leitor.

Uma infinidade de visitantes passaram através dos anos por aquele local, mas será que viram tais inscrições, com tal curiosidade dos seres estelares? É provável que não, afinal os humanos se perderam no tempo, com o avanço tecnológico, deixando a percepção dos elementos simples que os rodeavam de lado.

O barulho da chuva, o amanhecer e o entardecer, o orvalho, a natureza... Tudo foi trocado pela frieza de um olhar vazio de uma janela de um sexagésimo andar. A natureza fora trocada por cimento e seus derivados, tornando-se sólida e tão insossa quanto as nuvens do horizonte já obscurecido pelos gases poluentes.

Naquelas inscrições, os novos conquistadores teriam muito a descobrir sobre a raça humana e seus relacionamentos.

Depois de um tempo paradas e captando as inscrições do bambuzal, uma após outra, vão saindo rapidamente na direção do interior do Estado.

Nesses primeiros contatos não houve trocas de informações, nem barganhas, como assim fizeram os primeiros "descobridores" daquelas terras.

*Capítulo do livro (de minha autoria): "O 'segundo' descobrimento do Brasil".

André Filho Guarabira
Enviado por André Filho Guarabira em 05/11/2023
Reeditado em 05/11/2023
Código do texto: T7925165
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