O Encanto do Pescador

O Encanto do Pescador

Sílvia está recostada em uma poltrona na varanda pensando...

“Houveram tempos em que , pelo tédio de viver entre meteoros ou estrelas onde tudo é sempre calmo e belo havia se sentido motivada para a “entrada”. Tinha que entrar de qualquer forma pois era sua hora e entrou na vida e na realidade dos homens e sentiu desconforto”.

Começou a lidar cedo com esta emoção , aprendendo que ela aparecia sempre que captava uma presença estranha, diferente ou interessante perto. Começou a usar o sentimento para identificar as pessoas e quando se encontra junto elas,faz contato com seus poderes e as penetra com sua sensibilidade.

Geralmente são iluminados os que ela identifica porque sua sensibilidade os aponta através do desconforto físico. Embora o corpo incomode , o espírito se agrada, e ela se anima com os estranhos que ela considera iluminados por alguma qualidade interior que possuem a qual ela logo identifica. Começa a os ajudar na vida ,mas estas pessoas vão rareando,são difíceis de encontrar até que Tião surgiu. Notou logo que este ia ser difícil de abordar. Acabou conseguindo através de conhecidos comuns. Captou nele uma solidão como um muro. Podia ser a solidão do desesperado ,mas não, havia se transformado em uma parede onde do outro lado Tião,o pescador, está instalado. Tem que o retirar deste ambiente porque fora dele é que virá a ser distinto do comum das pessoas.

Um iluminado atinge muita gente quando o meio é favorável para que ele progrida e possa usar os poderes de modo que, além de clarearem a própria vida, clareiam a dos outros também. Ela mesma ,antes de viver entre as galáxias já tinha morado na terra , fora iluminada e então sobreviveu à morte . A mesma razão motivou o retorno à vida entre os humanos : uma nova chance lhe foi dada para testar e fazer valer seus poderes. E nesta segunda estação na terra da qual só os iluminados podem ter consciência, resolve se dedicar àqueles que poderiam ser também agraciados com a luz mas que as condições de realidade impedem.

Tião é um e o último para quem tem tempo .Resolve se dedicar. Estabelece contato e percebe que a distancia entre os dois é o muro da solidão do pescador. Pensa em abrir uma fenda para penetrar e com sua presença abalar esta estrutura , mas o desencanto e a desilusão dele a impedem.Tião não se relacionava com os outros pescadores. -"Só encantando então ",-pensava Silvia Simone..

Tem pouco tempo pois, quando casar,e perder seus poderes temporáriamente para entrar no cotidiano vai ficar longos anos na vida,na realidade.

O diagnóstico foi rápido , foi no momento em que percebeu o olhar triste dele,a falta de relacionamento com os outros pescadores e,curioso,o fato que só se animava quando ia para o mar,vivendo maravilhado entre as ondas e os peixes. Precisava de alguém para atingir Tião.

O pensamento dorme e adormece Sílvia que mergulha no sonho depois do esforço diurno a decifrar o dilema de Tião. Acorda quando a noite já vai caminhando sobre as ondas. No mar não se vêem as lanternas dos pesqueiros dos nativos. Sente uma estranha dor na cabeça , como se alguém a pressionasse , uma presença estranha, mas o chalet está escuro e solitário. Olha para baixo através da veneziana e detecta a tempestade no mar. Acende as luzes e encara diretamente o horizonte, vendo uma estranha figura de pescador com o barco cheio de peixes mergulhando em uma onda . Tomada de dó pelo naufrágio eminente , ilumina a onda ,onde próxima ao homem a morte ronda. Sabia das lendas em Rochas Salgadas, esta uma das razões que determinaram sua vinda para a cidade. Os nativos não morriam, antes transformavam se em peixes, o que não era verdade, eram estórias, superstições locais, magia, mas agora vai se tornar realidade. Ela gosta dos Nativos,das suas lendas, acha graça quando dizem que é melhor ser peixe naquele mar do que morrer ou ,mesmo,às vezes viver...

Sílvia, a sereia de Olhos Encantados levanta o manto brilhante que se esfuma dentro do mar, atinge o pescador Tião e o mergulha no Oceano docemente. O destino de Tião ,o pescador que só gostava do mar e dos peixes é selado ,e um enorme boto começa a rondar as praias de Rochas Salgadas. A partir deste dia ,dizem agora os moradores do vilarejo os cardumes de botos crescem a cada morte de um nativo e a espécie é preservada.Os peixes que andavam rareando em Rochas Salgadas retornam para satisfação dos que sobrevivem da pesca.Tião Boto ilumina o mar.

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 31/05/2008
Reeditado em 28/06/2008
Código do texto: T1012922
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