A Cadeia - Ciranda da Morte

- E vc cara, tá aqui por quê?

- Entrei numas treta errada ai com uns camaradas meu, demo o pulo errado e cai aqui.

- E vc ai neguinho, tá pagando o quê?

- Sabe como é né véi, fui bate uma fita numa lotérica e me pegaram.

- E tú ai no canto, que tá pegando pro teu lado?

- Tava com uns pó ai, ai um x9 filhodumaégua me derrubou, quando sair primeira coisa vai ser acertar aquele arregaçado

E eu ali parado, suando frio, só ouvindo aquele interrogatório, quase me borrando nas calças só de pensar naquele malandro véi perguntar algo pra mim, apertado com cerca de 50 homens em um cubiculo de quatro metros quadrados.

E se ouviu em alto som no meio da noite a voz daquele homem que parecia ser o chefe:

- É o seguinte malandragem, esta merda aqui tá muito lotada, vamo te que esvaziar, hoje vai rolar uma ciranda da morte.

Ao ouvir aquilo quase desmaiei, o lugar tava meio escuro, sei que se tratava de escolher um de nós e matar ali mesmo

- Quem aqui sabe escrever?

No meio de toda aquela bandidagem, com cara de cortadores de cana, roçeiros e mentes diabólicas me habilitei.

- Quem é vc e tá aqui por quê?

Tentei dar uma de malandro

- Não sou ninguém, tô aqui por quê perdi.

Em seguida aquele homem horrivel me deu um toco de lápis e um papel velho e disse:

- Cada preso vai falando o nome, vai escrevendo ai, enrola os papel e coloca nesta camisa aqui, vamo sortear o felizardo.

Soa gargalhadas horrorosas pelo cubiculo, como se fosse brincadeira ou roda de pagode, alguns sérios outros parecem nem ligar.

Vão sendo dito os nomes e eu escrevendo, rasgando os papeizinhos mais que depresa e colocando dentro de uma camisa velha amarrada nas pontas que servirá como sacola.

- Marcão (Escrevi marcão)

- Renatim (Escrevi Renatim)

- Pezão (Escrevi Pezão)

- Marcelinho (Escrevi Pezão)

- Souza (Escrevi Pezão)

E por ai foi, recebi uns 50 nomes e 30 tava com o nome do pezão,

Me senti aliviado, pois sabia que meu nome não tava ali naquela sacola dos infernos e talvez e quase certeza que tinha traçado o destino de alguém

Balançei a "sacola" por trinta segundos e puxei um nome, minha mão tremia, quando abrir o papel li em voz tremula: "Pezão", aqueles selvagens que estavam comigo não quiseram nem conferir o nome, juntaram o tal de pezão num canto e lhe encheram de porrada, soco na cara, na barriga, chute na cabeça, foi uma pancadaria de uns vinte minutos, nunca vi nem em televisão um homem apanhar tanto, e no meio daquela bagunça toda fui engolindo papelzinho por papelzinho, morrendo de medo de descobrirem minha fralde ali dentro. Quando os vagabundos terminaram o "serviço", com o sangue quente vierem em minha direção e indagaram:

- Ai bacana, cadê os pepeizinhos do sorteio? Vamos aproveitar e sortear mais um.

Fiquei amarelo na hora

- Ó, engoli tudo, papel por papel, amanhã os poliçia vão ter que tirar este cara morto daqui, com certeza eles vão dar uma geral, se pegarem os papéizinhos, vão saber o que rolou aqui e vai ferrar todo mundo.

A malandragem esfriou geral depois de minhas palavras, se aquietou todo mundo uns em pé e outros sentados.

No outro dia veio a policia, tirou o corpo da cadeia e eu pensando que não havia feito algo tão errado, pois havia tirado mais um malandro da rua.

Fomos para o chamado banho de sol, no que um preso qua estava conosco chegou perto de mim e disse:

- Que destino o do pezão em cara, o cara robou uma caixa de leite de uma padaria, para levar pros três filhos dele em casa, pobre, mas não era da malandragem igual a nós, caiu aqui de gaiato, ia sair hoje com uma fiança de 100 conto que a mulher dele tava vindo aqui pagar, agora morreu sofrendo de tanto tomar porrada e deixa seus filhos e esposa ai jogado.

Quando o cara disse aquilo, rolou outra ciranda, escrevi meu nome 40 vezes...