A queda...

Um dia desses, observando o pôr do sol, deixei minha mente passear no passado... Os raios do sol aos poucos sendo tragados pela noite de uma maneira inevitável me fizeram recordar uma história que aconteceu comigo... Eu estava passeando despreocupadamente por uma trilha estreita em meio a uma mata fechada de um parque florestal, quando me deparei de repente com uma clareira onde numa ribanceira um eucalipto caído fazia o papel de ponte improvisada, derrubado talvez por uma tempestade verão... Aliás, era verão na minha vida, eu estava com vinte e sete anos de idade...

Bem, imprudente e insensato não dei a mínima a uma placa colocada ao lado que advertia: “PERIGO”, “VÃO DE OITO METROS DE PROFUNDIDADE!” “NÃO ATRAVESSE!”...

Quando coloquei o primeiro pé foi para experimentar a firmeza do tronco, criei coragem e dei o primeiro passo desafiando o aviso e a minha própria vida... Foi nesse momento que uma voz falou firme em minha mente:

- Volte! É uma travessia difícil, de grandes provações, perdas incalculáveis e fim incerto...

Não dei atenção alguma e respondi mentalmente na minha prepotência:

- Se eu perceber que algo vai dar errado, eu volto.

Dei o segundo passo, o terceiro, no quarto... Quando menos esperava, movido pelo excesso de confiança, meus pés vacilaram... Num segundo meu corpo vinha pelo ar deslizando em meio ao meu orgulho... Bem, foi inevitável... Eu caí...

Sofri uma queda violenta. Assisti as pedras que revestiam o fundo daquele precipício estalar meus ossos e quebrá-los imediatamente antes de eu perder os sentidos...

Não sei quanto tempo fiquei ali, parecia que anos haviam passado. Ao despertar a consciência, senti que estava cego, pois tudo era uma noite, uma escuridão silenciosa... Senti um medo terrível, será que eu teria morrido? Tentei me acalmar e num instante de lucidez senti uma dor horrível... Meu corpo estava todo quebrado... Chorei de dor... E de arrependimento...

Não conseguia me mexer, sentia um frio cortar minha carne e atingir meus ossos. A escuridão de meus olhos me deixava desesperado... O que teria acontecido?

Meu corpo inerte, caído de lado, meu rosto sentia o frio das pedras do chão e isso ao menos me dava a certeza de que eu estava vivo, respirando e sofrendo...

O tempo passava incontável aos meus cálculos que se perdiam devido aos desmaios que passei a sofrer...

Em dado momento despertei assustado, senti que um animal me cheirava o corpo... Suas narinas resfolegavam em minha pele, um hálito quente e podre me envolvia... O pavor que eu sentia era inenarrável... Segurei a respiração e quando já não agüentava mais me lembrei aflito de Deus e num ímpeto o pavor que sentia, de mãos com meu orgulho, me fez revoltado, conclamar a Deus Sua ajuda e incrível... Percebi que o animal se afastava... O silêncio voltou, meu coração também a bater, mas desmaiei de novo...

Acordei não sei quantos dias depois e tão logo minha consciência voltou, desferi um tiroteio de impropérios a Deus culpando-o pela situação em que eu me encontrava... De repente... Senti que algo gelado me tocava. Algo deslizava lentamente sobre meu corpo. Devia ser uma cobra. Senti vergonha de rogar a Deus e a cobra... Bem, a cobra parecia que me experimentava a paciência, pois instalou-se sobre meu corpo mexendo-se de tempos em tempos como que esmagando meu orgulho... Não resisti, o medo foi maior que tudo, que meu orgulho, que minha arrogância, maior que minha dor e num instante único dei a mão à humildade e prostrados os sentimentos, clamei a Deus por socorro... Nesse instante senti que uma luz me envolvia e que a cobra partia lentamente. Reacendendo-se minha fé através da humildade, senti minhas dores amenizarem e comecei a ver cores, deviam ser flores, minha visão voltava a ver claramente, eu estava na minha cama, no meu quarto, em minha casa... Parecia que fora apenas um sonho mal... Me levantei, tomei um copo de água e sem entender nada direito desci as escadas e encontrei minha mãe que me recebeu com um sorriso e me perguntou serena:

- Passou a dor do seu corpo?

Respondi:

- Sim... Passou...

Nunca contei isso a alguém... Sempre acreditei piamente que fora um fato real aquela queda, mas graças a Deus hoje eu sei que foi só um pesadelo... E que passou...

Sandro La Luna
Enviado por Sandro La Luna em 12/08/2008
Reeditado em 21/11/2013
Código do texto: T1124815
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