Os cavalos amarelos

George Luiz - Os cavalos amarelos

O dia inaugural dos jogos se aproximava. Pelo menos umas cinco reuniões já tinham acontecido. O prefeito, através da secretaria de segurança pública, era o responsável pela tranquilidade , não só do evento internacional, como da população da cidade, em seu cotidiano.

Na delegacia de homicídios, seu titular, o delegado Afrânio Moreira conver-sava com seu auxiliar de confiança, o inspetor Gonçalves.

- Então, Gonçalves...o que achou desta última reunião ?

- Não sei bem o que dizer, chefe. Mas notei que o senhor não ficou muito satisfeito.

- Ora essa, Gonçalves ! Será que você já aprendeu a ler meus pensamen-tos ?

- Quase, chefe. Mas já aprendi a analisar sua expressão fisionômica.

- É mesmo ? Vou pedir sua transferência para o departamento de psico-logia. Lá você vai ser ainda mais útil.

Riu-se silenciosamente o inspetor. Há mais de quatro anos trabalhando com o delegado de homicídios, já se habituara com seu humor sardônico

- Você está freqüentando regularmente o cursinho de inglês ? Vai precisar muito dele.

- Qual, doutor Afrânio, Não vai ser em dois meses que vou aprender a conversar com esses gringos. Mas pelo menos em espanhol eu me viro bem...

- Espanhol ? Você quer dizer esse portunhol lamentável que já ouvi você falando.

- Ah, mas dá pro gasto, chefe. Lembra-se do caso do traficante argentino que matou a dançarina ?

- Lembro. O criminoso preferiu confessar logo a ter que enfrentar seu interrogatório.

- Qual chefe, o senhor não fala a sério comigo.

- Muito bem, vamos falar sério. Estou achando que o nosso prefeito está subestimando a situação que vamos enfrentar durante os jogos. É um otimismo perigoso o dele. O Secretário de segurança vai ficar louco de preocupação. E o armamento ? Esses bandidos têm armas e munições superiores as nossas. E como poderemos exercer qualquer tipo de segu-rança preventiva com nossos morros e favelas ?

- A coisa anda feia nos morros, doutor e na favela da maré estão fazendo o diabo, inclusive não deixando os moradores entrarem e saírem livremente.

- Pois é, Gonçalves. Estamos atravessando uma fase difícil.

- Não seria o caso de um entendimento com as forças armadas, doutor Afrânio ?

- Olhe, já foi tentado antes esse esquema e não deu certo. Acho muito difícil que militares sem treinamento específico se adaptem a isso. Bem, Gonçalves , vou sair e jantar com minha namorada. Estarei com meu celular ligado , caso você queira falar comigo.

- Tudo bem, doutor. Lembranças minhas a dona Teresa.

Na noite, chuvosa, Afrânio e Teresa encomendaram seus pratos. Teresa ti-nha deixado de fumar e conseguira que ele, em contrapartida, emagrecesse mais de dez quilos.

- Vai comer um filé, querido ?

- Vou.

- Com uma saladinha, não é ?

- Afinal, Teresa, onde você quer que eu chegue ? A esta altura não tenho mais chance de ser jóquei.

- Não sei, amor. Você é capaz de produzir grandes surpresas...

- Que perfume você está usando ? Parece diferente do seu costumeiro...

- Ah, você percebeu. É um novo lançamento de Givenchy. A Glórinha me indicou.

- Hummm muito bom ! Combina bem com você.

- Ora ! Você está romântico hoje !

- Eu não estou...eu sou romântico.

- Eu sei, querido, estava só brincando com você. Na verdade, ando é preocupada. Você anda muito inquieto nessas últimas semanas. Vai, me diz o que está acontecendo.

- Nada. Deve ser a falta de casos interessantes para resolver. Olhe, nossos pratos chegaram.

O celular tocou e Afrânio viu que era um chamado de Gonçalves.

- Diga Gonçalves.

- Tenho um caso muito estranho aqui, chefe.

- Estranho o suficiente para fazer minha comida esfriar no prato ?

- Não sei não, doutor Afrânio. Só o senhor verificando isso em pessoa.

- Está bem. Onde você está ? Quem é a vítima ? Está certo. Segure um pouquinho as coisas e estarei aí em meia hora.

- Hummm vai me deixar na mão para o resto da noite?

- Acho que vou,querida. Você vai ficar muito desapontada ?

- Não ! Esta vez não vou. Você está mesmo precisando exercitar esse seu cérebro privilegiado e pelo jeito tem alguma coisa em mãos para faze-lo. Vamos comer logo. Há um cadáver a sua espera...

- Que jeito de falar, Teresa !

- Não seja bobo, meu amor. Coma logo seu filé e vá !

No luxuoso apartamento do Jardim Botânico, tudo parecia estar fora do lugar. Era óbvio que o assassino tinha revolvido as várias peças. Gonçal-ves adiantou-se .

- Parece que andaram procurando desesperados por alguma coisa espe-cial, chefe. E não era dinheiro nem cartões de crédito.

- Você já examinou tudo ?

- Passei o pente fino, doutor. Mas a perícia ainda não terminou seu trabalho. Quem sabe encontram alguma coisa. O senhor quer ver o corpo? Mandei atrasar a remoção para o senhor ver.

- Ótimo. Vamos dar uma olhada.

Jonatas Ribeiro jazia, vestindo uma calça de pijama e um robe cor de vinho, sobre uma poltrona de seu quarto. Parecia a vontade, a posição de seu corpo era natural. Apenas suas mãos pareciam segurar com força os dois braços do móvel de couro negro. Mas bastava olhar seu rosto para ver de outro modo sua postura. A expressão dos olhos sem vida era de terror e a boca, entreaberta exibia um rictus de medo. Calçava chinelos macios, de pelica . Um pequeno orifício negro, junto ao mamilo direito, indicava por onde uma bala tinha penetrado seu tórax.

- Serviço bem feito,não acha, doutor ?

- Sem dúvida, Meireles. Nenhuma impressão digital fresca ? Nenhum indício? Nada que lhe chamasse a atenção ?

- Bem, doutor Afranio. Na minha opinião o assassino usou uma pistola pequena, uma Beretta talvez. Deve ter atirado de uma distancia de um metro a um metro e meio. Foi um tiro preciso, feito por um excelente atirador. Ele deve ter atirado de pé, de frente para a vítima. Digitais frescas, só do morto e algumas , mais antigas, de duas mulheres, provavelmente a governanta da casa, e uma doméstica, a arrumadeira que é diarista. O assassino deve ter usado luvas e o crime foi cometido com a utilização de um silenciador porque os moradores do andar de baixo não ouviram nada. O inspetor Gonçalves encontrou uma carta de bara-lho no colo do morto. Examinei-a, também não tem digitais ou qual-quer outro indicio. É uma carta de plástico e tem, no dorso, um dese-nho abstrato. Baralho estrangeiro, com certeza.

- E os armários, cômodas, gavetas ?

- Totalmente revolvidos, chefe. Trabalho rápido mas bem feito. Talões de cheques e cartões espalhados, cédulas de dinheiro intocadas. Não parece ser um latrocínio.

- E essa carta, qual era ?

- Um nove, doutor, um nove de espadas.

- Uma carta que significa morte para os ciganos...interessante.

- Acha que pode ter sido um cigano o assassino, doutor ?

- Não, Gonçalves. Alguém bem mais sofisticado que um cigano. Bom. Mesmo você já tendo interrogado a governanta, quero fazer algumas perguntas a ela. E ao porteiro também.

- A governanta tinha ido visitar a irmã, chefe. Mas quando chegou lá, ela disse que não lhe tinha telefonado.

- Claro, uma chamada falsa...perguntou à governanta se ela falou com a irmã pelo telefone ?

- Não, chefe.

- Pergunte. Verá que foi alguém que deu esse recado porque a irmã estava acamada com uma gripe forte ou qualquer coisa assim.

- O senhor quer dizer que...

- Quero dizer que o assassino afastou a governanta do apartamento, para agir com mais desenvoltura e sem testemunhas.

- E o porteiro, chefe ?

- Peça a ele que suba agora. Terminaram, Meireles ? Peça para remove-rem o corpo. Está amanhecendo e evitaremos curiosos na entrada do edifício.

- Deixe comigo, doutor Afrânio.

O depoimento do porteiro mostrou que o assassino, segundo sua visão, era um homem de cabelos grisalhos, de aparência distinta, que vestia um terno escuro. Falara muito pouco, o porteiro mal ouvira sua voz, porque aparentemente estava rouco por uma gripe e levara algumas vezes um lenço ao nariz enquanto estivera no edifício. Ao sair, agradecera ao porteiro e dissera boa noite. Tinha usado o interfone para se comunicar com a vítima e não precisara dizer seu nome para ser chamado a subir ao seu apartamento. Para o porteiro, o homem tinha um leve sotaque estrangeiro mas ele não tinha como determinar de que país.

- Temos pouca coisa para nos indicar um caminho,doutor Afrânio ?

- É meio cedo para dizer isso , Gonçalves. E temos que aguardar o resul-tado da necropsia.

Mas, tanto a necropsia como o resultado total da perícia, de quase nada adiantaram. O exame balístico confirmou o uso de uma pistola Beretta confirmado pelas marcas das raias da arma no projétil, como previra o delegado. As entrevistas com a governante e também com sua irmã, cons-tataram que o telefonema fora falso e partira de um orelhão.

- É isso aí, Gonçalves, parece que estamos num beco sem saída.

- Ora, chefe, não vamos abandonar a investigação.

- Não vamos, Gonçalves. Mas temos que aguardar alguma coisa, um dado novo, aparecer.

Passaram-se três semanas. Uma noite, Afrânio estava dormindo, seu ce-lular soou.

- Chefe ? Aconteceu de novo !

- São quatro horas da manhã ! Aconteceu o que, Gonçalves ?

- Um assassinato, doutor ! Igualzinho ao do Jonatas Ribeiro.

- Como concluiu isso ?

- A carta, doutor.

- Que carta ?

- O nove de espadas, no colo do morto.

- Hummm, a que horas foi isso ? Como você soube tão depressa ?

- Umas três horas atrás. O porteiro ligou 190 e me comunicaram aqui na delegacia.

- Está bem, me dê o endereço, vou já para aí. Quem é a vítima ?

- Chama-se Alberto Amorim, gente graúda, chefe.

- Você quer dizer, chamava-se. Bem, não mexa em nada até eu chegar.

- Fique tranqüilo, chefe, ainda nem chamei a perícia.

- Até já.

Alberto Amorim tinha sido assassinado em sua casa na Barra. Mas, esta vez, o assassino não fora visto entrando ou saindo. O segurança apenas tinha visto um carro se afastando. Achando isso estranho, tocou a campainha e foi atendido por uma empregada. Convenceu-a a subir até o quarto do patrão e o encontrara morto. Afrânio chegou ao local do crime.

- E então, Gonçalves ,descobriu alguma coisa ?

- Nada chefe e também não toquei em nada. Os rapazes da perícia estão chegando agora mesmo.

- Ótimo. Quero ver a vítima.

Alberto Amorim tinha sido um homem bonito em vida, mesmo na meia idade. Agora estava ali, estendido num sofá em seu quarto sem qualquer sinal de violência. Vestia uma camisa social, aberta na altura do peito e calças jeans. Calçava tênis sem meias. Mas a morte o surpreendera num momento inesperado e seu rosto revelava o terror que sentira diante de seu carrasco.

- É muito curioso isso, Gonçalves.Viu a expressão de terror no rosto desse Alberto ?

- É isso aí, doutor. O senhor conclui que não houve qualquer temor apa-rente até o momento do crime, não é ?

- É, acho que sim. A campainha tocou. Será que os peritos chegaram?

- São eles mesmos, chefe. Já ouvi a voz do Meireles falando com a em-pregada.

- Ah, a empregada. Onde andaria essa empregada na hora do crime ?

- Eu a interroguei, doutor Afrânio. Ela e a arrumadeira estavam dor-mindo. Afirmam que não ouviram qualquer som ou ruído diferente.

- Bem, vou conversar com o segurança.Também é muito estranho que os dois cães de guarda não tenham latido.

- É verdade, chefe. São dois rotweillers, duas feras.

- Com essa raça de cães não se brinca. Teremos talvez que pensar em alguém que tinha um determinado grau de familiaridade com eles. É, não gosto nada disso...Vamos ouvir os peritos, esperar pelo que têm a nos dizer.

Carlos Meireles era um típico representante da nova geração de peritos criminais. Um estudioso que pesquisava todas as técnicas mais recentes, sem desprezar as tradicionais. Mesmo em face do crescimento dos homicidios na cidade, conseguia dedicar o tempo suficiente para executar seu minucioso trabalho.

- Então, Meireles, o que tem a me dizer ?

- Olhe, doutor Afrânio. este homicídio tem muitos pontos em comum com o do Jonatas Ribeiro. O mesmo tipo de arma, o mesmo ângulo de penetração do projétil, a mesma distancia para o disparo. Não me surpreenderei se o exame balístico concluir que foi a mesma pistola.

- Então temos o mesmo assassino nos dois casos.

- Parece que sim, doutor. Ou dois assassinos que usam a mesma arma. Mas isso o senhor vai descobrir logo.

- Sua confiança em minha capacidade me surpreende, Meireles.

- Ora, doutor, a lista de seus sucessos é mais que convincente.

- E sobre a lista de meus insucessos não se fala nada...Não, , Meireles, esta vez estamos meio as cegas. Tem que haver um elo entre essas duas mortes, alguma coisa que nos leve a um caminho certo. Me diga,a revista do corpo do morto não revelou nada ?

- Como da outra vez, doutor, nenhum vestígio de nada, nenhum indicio, a mesma carta de baralho, embora esta provenha de um baralho de um desenho diferente no dorso, mas sempre de aparência oriental. Armários revolvidos, nenhum dinheiro ou cheques, ou cartões levados pelo criminoso. Se o senhor concordar, acho que podemos remover o corpo. Quem sabe a necropsia nos traz algum dado novo ?

- Por mim, tudo bem. Faça removerem o corpo.

Mas esta vez a necropsia trouxe algo de novo: a vítima tinha ingerido co-caina algumas horas antes de sua morte.

- Melhor desta vez, não acha, chefe ? Um tóxico...

- Sim, Gonçalves. Vamos investigar a origem da droga. Mas não sei se chegaremos a alguma coisa.

- Chegaremos sim, chefe. Já entrei em contato com o pessoal dessa área.

- Não sei se a cocaína me preocupa tanto. Acho que o único meio de solucionar esses dois crimes , vai ser estabelecendo uma ligação forte entre eles.

- Que tipo de ligação, chefe ?

- As cartas de jogar. Pedi um contato com a polícia japonesa. Quero que examinem fotos das duas.

- E o que o senhor acha que vão descobrir ?

- Se forem realmente japonesas, descobrirão, pelo menos, o fabricante, Ou os distribuidores...vamos ver. Vou mandar escaneá-las agora mês-mo, para adiantar esse assunto. Venha ! Vamos para a delegacia.

Duas horas depois, o inspetor Gonçalves entrava agitado na sala do seu delegado.

- Chefe ! O senhor tem um faro de perdigueiro ! Chegou a resposta da policia japonesa.

- Que faro, Gonçalves ? Nunca ouviu falar em dedução ?

- Claro, chefe. Mas assim é demais.

- Que demais, Gonçalves ! A gente tem muitas maneiras de descobrir as coisas. A mais simples talvez seja por eliminação. Vai ! Me dê esse fax aqui. E vejo que suas aulas de inglês estão fazendo efeito, conseguiu ler o fax...

- Bom, chefe, ler eu já consigo um pouco.

- Hummm, vejamos. As cartas são fabricadas em pequena tiragem, não mais de mil baralhos por edição. São um artigo bem caro. Ah, aqui está o essencial. Houve uma investigação em Tóquio sobre tráfico de drogas e vários membros da quadrilha jogavam pôquer com essas cartas. Os criminosos produziam e traficavam cocaína que era distribuída em altas rodas. Fascinante, não acha Gonçalves ?

- Se é o senhor quem está dizendo, chefe. Mas, e as vítimas dos dois crimes, o que têm a ver com isso ?

- Ah, isso é trabalho para você, Gonçalves. Quero que investigue exausti-vamente as possíveis ligações dos dois mortos com o Japão. Negócios, viagens, tudo. Comece agora mesmo.

- Está certo, chefe, vou por mãos a obra.

- E eu vou ao consulado japonês.

- Ao consulado, doutor ?

- Isso. Quero descobrir alguma coisa sobre os cavalos amarelos .

- O que é isso, chefe ?

- É como são conhecidos os membros dessa máfia japonesa, segundo o fax que recebemos.

- Cavalos amarelos ! E como vamos pegá-los ? Com laços, doutor Afrâ-nio ?

- Creio que não, Gonçalves, mas, quem sabe com açúcar ? E talvez com cenouras também...

- O senhor está brincando, não é, doutor ?

- Não sei. Tenho que ver isso no consulado deles. E você, mexa-se !

Gonçalves mexeu-se mesmo. Ao cabo de três dias, apresentou um relato-rio minucioso sobre as atividades e viagens das duas vítimas.

- Está tudo aqui, doutor Afrânio. E o senhor, como sempre, acertou em cheio em suas especulações.

- Menos, menos, Gonçalves. E me diga: as duas vítimas tinham algum interesse em distribuição e venda de açúcar refinado ?

- Por Deus, doutor ! Eu fico até com medo, quando o senhor acerta esses palpites assim na mosca.

- É , Gonçalves, mosca mesmo. As moscas adoram coisas doces.

- E agora, doutor ?

- Agora vamos juntar as peças do nosso pequeno quebra-cabeças.

- Começando por onde, chefe ?

- Começando por um industrial inescrupuloso que tinha um vicio caro, cocaína. Em uma viagem ao Japão, ele entrou acidentalmente em contato, com um dos chefões dos cavalos amarelos. Este lhe forneceu, sem cobrar nada, uma dose do produto e sugeriu que fizessem nego-cio juntos. Encontraram-se mais duas vezes secretamente. Alberto Amorim percebeu logo que poderia obter um grande lucro distribuindo a droga no Brasil, mais especificamente no Rio e em São Paulo. Era preciso um disfarce, uma fachada para realizar o negócio. Ele procurou então Jonatas Ribeiro que tinha uma distribuidora de cereais, inclusive açúcar.

- Ah, o açúcar !

- Jonatas Ribeiro não era um viciado em cocaína ou qualquer outro tóxi-co. Mas também não era um comerciante honesto. Foi fácil para os dois homens chegar rapidamente a um acordo. E para se manterem bem discretos, combinaram nunca se encontrarem pessoalmente. Usavam a internet para realizar seus negócios, inclusive transferências de dinheiro.A uma certa altuta,montaram uma operação paralela com produtores bolivianos. Os japoneses devem ter descoberto isso. Não gostaram e enviaram um representante para negociar. Esse homem visitou primeiro Jonatas. Imagino que não tenham chegado a um acordo e o japonês, friamente, assassinou o brasileiro. Fez todo o possível para que o crime fosse atribuído a algum desafeto. Inclusive simulou a busca de algum documento no apartamento de sua vítima. Isso fez com que Alberto Amorim não se preparasse para o que lhe aconteceu, especialmente porque o assassino esperou quase um mês para agir novamente. Mas sua morte estava decretada. Infelizmente, a carta de baralho foi muito pouco considerada pela mídia. Falha minha, Gonçalves. Como conseqüência, Alberto Amorim não ligou o crime à máfia japonesa, mesmo porque continuava comprando a cocaína deles além dos bolivianos.

- E os cachorros, chefe ? Os dois rotweilers ?

- Isso, realmente, não sei lhe explicar, Gonçalves. Mas os japoneses são uma gente sutil, capaz de truques interessantes.

- E como vamos por as mãos no assassino, chefe ?

- Receio, Gonçalves , que nunca pegaremos esse homem. Com muita sorte conseguiremos saber quem ele é, com o auxilio da policia japonesa e de uma pesquisa em nossos hotéis. Mas é uma chance em um milhão.

- Que loucura, não é, chefe ? O senhor soluciona o mistério e não tem como prender o assassino...

- Verdade, Gonçalves. São as chamadas ironias da sorte. Mas, pelo me-nos temos uma esperança.

- E qual é, chefe ?

- A de que os cavalos amarelos não galopem mais por aqui.

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George Luiz
Enviado por George Luiz em 20/08/2008
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