A Decisão

George Luiz - A Decisão

Eram os curtos dias do inverno austral. O vento, sussurrante entre os pene-dos lambia com sua áspera língua os corpos e rostos dos tripulantes da lan-cha. Era difícil caminhar sobre o convés. Resfolegavam os dois motores die-sel da embarcação. Proveitosa, entretanto, tinha sido a pescaria. Os conge-ladores de bordo guardavam mais de duzentos quilos de pescado. Contorna-do o promontório, avizinharam-se os pescadores do cais.

- É, gritou Renato, o mais velho dos marujos, estamos chegando, gente !

De fato, aproximavam-se entre ondas ameaçadoras,da terra, firme e segura.

Aquela noite, entre os braços de Iara, sua mulher, Adamastor acordou meio sobressaltado.

- O que foi, homem ? Ainda está em pleno mar ?

- Você não faz idéia do que foi a tempestade.

- E você teve medo de morrer ?

- De morrer não tive. Mas tive medo de não encontrar mais o abrigo de suas coxas macias.

- Safado ! Então é para minhas coxas que você volta da pescaria ?

- Delas e da carne tenra que se esconde entre elas.

- Como você fala bonito, meu macho ! Onde aprendeu a dizer essas coi-sas ?

O sol ainda se erguia no horizonte frio.A lancha só voltaria ao mar na manhã seguinte. Era gostoso tocar o corpo morno e sensual de uma mulher bonita como Iara. Adamastor achegou-se a ela, embolaram os dois no leito limpo e bem cuidado. Ela gemeu ao sentir-se penetrada. Era maior, bem mais alta que o companheiro. Ele era pequeno para carregar aquele nome de gigante, Adamastor...Mas era bem dotado para o exercício do sexo. Seu pênis, dilatava-se dentro da mulher, arreganhada, ansiosa por gozar. Por fim, chegaram ao orgasmo, arfantes, ambos gemendo muito, ele dizendo obscenidades gostosas nos ouvidos da mulher, ela respondendo com gemidos mais fortes.

Já bem a tarde, no armazém da colônia de pesca, os tripulantes da lancha de Adamastor e de outras lanchas, bebiam tranqüilamente.Seus copos, suas canecas, guardavam em seus bojos uma diversidade de bebidas alcoólicas .

Eram aguardentes de diversas origens, algumas traçadas com vermute ou conhaque. Havia também os bebedores de vodca, mas estes eram olhados com certa desconfiança pelos mais antigos. Ainda se fosse rum, bebida tradicionalmente ligada as velhas estórias de piratas. Mas vodca, uma bebi-da transparente, sem sabor peculiar ou cheiro,não era o que os mais velhos esperavam ver nos copos dos pescadores, machos, jovens que enfrentavam com freqüência, a fúria de Netuno. Domingos, um dos mais antigos da colonia de pesca, alfinetou Oséas, seu companheiro de embarcação.

- Então você continua a beber essas perfumarias...

- Bebo sim, Domingos,é tão forte e quente como essa cachaça mal chei-rosa que acaba sempre deixando você tonto.

- Olhe o respeito, garoto ! Eu já bebia cachaça antes de você nascer. E até meio tonto dou conta de você numa luta. Quer experimentar ?

- Não, obrigado. Não quero ser acusado de bater em idosos.

- Você tem sorte, garoto. Gosto de você. Mas se me desrespeitar muito vai ficar estirado no chão frio sem saber de onde veio o soco que lhe derrubou...

- Ouviu isso, comandante ? O velho Domingos está me ameaçando.

- Brinque com ele e ele acaba com você ! E não me chame de coman-dante. Aqui todos somos civis, graças a Deus. Me chame de mestre se sentir vontade. Nunca tive vocação para milico.

- Desculpe, mestre. Me diga, quando vai me contar a sua briga com o tenente da marinha de guerra na capitania dos portos ?

- Esqueça, filho, isso é coisa do passado, acontecida há muito tempo.

Num canto do armazém Adamastor saboreava pequenas lascas de queijo e bebia seu traçado. Já tinha olhado duas vezes o céu lá fora. Não havia dúvida o tempo ia continuar bem feio. Despediu-se dos amigos, pagou sua despesa e encaminhou-se para a porta. Mal tinha transposto o limiar quando sentiu o toque de Francisco em seu ombro.

- Preciso falar contigo , Adamastor.

- Comigo ? Diga o que é.

- Vamos andar só um pouquinho mais, não quero que ninguém ouça o que eu vou lhe dizer.

- Que conversa esquisita, Francisco !

- É, é uma conversa meio braba mesmo.

- Braba ? Comigo ?

- Não me leve a mal. Vou falar porque lhe conheço e respeito há muito tempo.

- Desembuche !

- Está bem , vou falar. É a tua mulher, a Iara, amigo.

- Minha mulher ? O que tem minha mulher ?

- Ela está de caso com outro, Adamastor.

- Você deve estar maluco para ter me dito uma coisa dessas.

- Infelizmente não, Adamastor e posso lhe garantir que estou certo.

- Acho que você não sabe o que está dizendo. Mas vou lhe avisar,

se você tiver inventado alguma estória suja, eu acabo com você.

- Está bem, depois não diga que eu não te preveni. Tchau.

Chegando em casa, Adamastor não viu logo Iara. Procurou-a meio in-quieto. A morena estava no tanque, lavava suas roupas. Ofertou-lhe um de seus lindos sorrisos.

- Oi, meu neguinho, bebeu sua dose ? Vou terminar logo aqui e aprontar nossa janta. Já limpei e temperei aquele robalo que você trouxe.

- Hummm, fez bem. É um peixe dos melhores.

- Vou fazer um pirão bem gostoso, com uma pimentinha para acompa-nhar o peixe e cozinhar umas batatas, cebolas e tomates. Que tal ?

- Beleza ! Vou tomar um chuveiro enquanto isso.

- Vai, meu gostoso. Quero você bem limpinho na cama para mim depois.

- Você me ama, Iara ?

- Demais, Adamastor ! Por que essa pergunta agora ?

- Ah, sei lá...as vezes fico pensando nisso.

- Pois não tem nada que pensar. Sou louquinha por você, meu homem.

Aquela noite, na cama, Adamastor caprichou como nunca. Iara gemia al-to, rebolava a bunda e as ancas, pareceu enlouquecer de tesão e gozo.

- Nossa, amor ! Você quase me mata de gozo ! Que loucura !

- Não se esqueça que você é só minha. Eu vivo para você.

- E eu só para você, meu tesão ! Te adoro ! Quero tanto ter um filho seu.

Quando vamos fazer nosso pescadorzinho ?

- Logo, morena, logo...

Pelo meio da manhã seguinte, Adamastor e sua pequena tripulação sai-ram para o mar. O sol tinha amansado o mau tempo, as ondas tinham di – minuido em tamanho e frequencia. A pescaria prometia. Quando a noite caiu, Iara saiu de casa. Estava acesa, as faces afogueadas, o andar sen-sual como de costume. Esgueirou-se por uma trilha bem conhecida dela.

O caminho a levava em direção à cabana de Lourenço, o moço que tecia e consertava as redes de pesca, seu amante. Ela entrou, ousada, na ca-bana do rapaz. Ele estava sentado, no escuro, lhe esperando. Ergueu-se ao vê-la na penumbra. De um salto, ela agarrou-se em seu pescoço e beijou, com ardor sua boca de lábios cheios. Ele apalpou-a com desejo contido e ela tirou o vestido, o sutiã, a calcinha, ficou nua para ele. Suspirou, entregou-se ao macho. Ele a possuía de um modo diferente de Adamastor. Era mais suave, mais meigo. Com ele, ela se soltava ainda mais, fazia coisas que, por uma curiosa espécie de pudor, não fazia com seu companheiro.

Juntos, rolaram no colchão duro. Ele a colocou de quatro e arremeteu

sem pressa. Ela enlouqueceu de prazer.

Iara entrou cautelosamente em casa. Dirigiu-se ao banheiro e girou a tor-neira do chuveiro elétrico. Era um luxo tomar um banho quente após ter

sentido tanto prazer com seu amante. Não sentia qualquer remorso. Tre-par com um macho tão gostoso, pensava ela, não tirava pedaço da gente. E depois, Adamastor nunca saberia do que ela fazia com o outro. Seu cor-po esguio e bem modelado não mostrava marcas das mãos de Lourenço e ela sabia, por experiências com outros homens que tivera antes, que e-ra estéril. Já que não podia ter filhos, por que não se dar aos agudos pra-zeres do sexo proibido com um homem tão delicioso, os prazeres da infi-delidade ? Dormiu um sono pesado e tranquilo. Só ao sair para os fundos da casa, ao amanhecer , percebeu, pregado na cerca de madeira, o pa-pel. Era um papel comum, branco, uma folha de caderno e trazia uma única palavra, escrita toscamente, PUTA ...

Iara estremeceu. Um arrepio de susto e medo percorreu seu corpo. En-

tão alguém sabia ! O dia de Iara tornou-se atribulado. Quem poderia saber do seu caso com Lourenço ? Ele mesmo nunca diria a ninguém, estava a-paixonado por ela, queria até que ela deixasse Adamastor e fosse viver com ele em outra colônia de pesca longe dali. Ela era tão discreta para ir se encontrar com Lourenço...quem poderia ser ? Claro que podia ser al- gum homem que estivesse a fim dela e quisesse se vingar de sua indife-rença. Tudo era possível. Adamastor estaria regressando da pescaria dali a pouco. De repente ela sentiu-se indefesa. Precisava do seu homem, do seu companheiro.

Por volta do meio dia, a lancha de Adamastor atracou no cais. Iara bem quisera espera-lo ali mas, e se ele achasse estranho ela ir busca-lo ?

Preferiu espera-lo em casa, como sempre. Ele chegou amoroso, não pa-recia ter ouvido nada sobre ela. Beijou-a com calor. Ela retribuiu, abra-çou-se a ele. Quis arrasta-lo logo para a cama.

- Espere, morena, deixe eu tomar um chuveiro gostoso.

- Está bem, mas então vou ensaboar e esfregar você.

- Vai ? Por que ? Você nunca me fez isso...

- Ah, tive um sonho sacana com você esta noite. Estou muito tesuda.

- É mesmo ? Então vamos.

Mais de uma hora depois, ela saciada por seu macho, os dois deitados nus na cama, Iara perguntou :

- Você vai ao armazém agora ?

- Vou daqui a pouco, por que ?

- Nada, queria que você ficasse comigo aqui na cama vadiando.

- Não te fiz gozar bastante, morena ?

- Claro que fez ! você sempre consegue isso. É que não queria ficar sozinha agora.

- Bobagem ! Deixe eu ir. Assim seu tesão aumenta até eu voltar.

- Está bem, mas antes de ir me jura que me ama.

- Você tem alguma dúvida ? Juro, juro que te amo !

Uma semana se passou. Embora não tivesse acontecido mais nada como a folha de papel com o palavrão escrito, Iara continuava inquieta. Quase comentou com Lourenço o fato. Não teve a coragem para isso. Temia que seu macho ficasse com medo da situação e terminasse com ela. Iara não

conseguia se imaginar sem seus dois homens. Tinha que tomar uma deci-são. O que fazer ? Inventar alguma estória para Adamastor ? Mas como ?

Os acontecimentos ajudaram.Uma tarde, ao voltar da pesca, Adamastor,

falou-lhe com um jeito meio embaraçado :

- Minha morena, queria lhe dizer uma coisa, mas estou meio sem jeito.

Iara assustou-se.

- Diga o que é, meu amor.

- Bom, é que um amigo me contou uma coisa sobre ele e a mulher dele, uma coisa que eles fazem na cama.

- E que coisa é essa ?

- São umas meias pretas, rendadas. Ela usa essas meias para deixar ele bem excitado.

- É mesmo ? E você...

- Eu gostei da idéia. Queria fazer a mesma coisa com você. Eu até pás-sei na loja da Laurinha e comprei um par.

- Meu gostoso ! Claro que vou usar as meias para você !

- Que bom ! Mas isso não é tudo...

- Não ? O que mais você quer que eu faça ?

Adamastor aproximou os lábios de um ouvido de Iara e falou baixinho. Ia-ra riu-se intimamente. Ele pedira para fazer sexo anal com ela. O diverti-do da coisa é que Iara fazia sexo anal com Lourenço e ele exigia que ela usasse meias pretas... Nenhum dos dois sabia que Iara, desvirginada aos dezesseis anos, trabalhara quase cinco anos num bordel de Recife, onde tinha conseguido juntar um dinheirinho e deixar a prostituição. Nesses anos submetera-se a muitas taras e perversões. Ela fez a expre-ssão de garotinha inocente que Adamastor adorava.

- Puxa, meu amor ! Você quer mesmo isso ?

- Quero demais. Mas se você não quiser eu respeito sua decisão.

Iara olhou-o com ternura.

- Mas, meu lindo, eu nunca pensei em fazer isso. Dizem que doi muito. Será que vou ter algum prazer fazendo ?

- Juro que vou ser bem carinhoso. E se doer muito você me diz e eu pa-ro na mesma hora. Você deixa ?

Iara olhou-o provocante.

- Eu te amo demais, Adamastor. Já tomei minha decisão. Vou deixar você fazer se você quer tanto.

- Te amo, Iara ! Você não vai se arrepender !

De quatro sobre a cama, nua, usando as meias pretas, Iara pensava feliz como era fácil lidar com os homens. Adamastor estava prestes a possui-la prazeirosamente., do jeito novo que pedira. Ela ia continuar a se encontrar e trepar com Lourenço. A vida era maravilhosa ! E ela ia tornar Adamastor um macho ainda mais realizado e feliz.... Iara já não sentia medo de ser acusada de trair seu companheiro. Empinou mais a bunda cobiçada e sentiu seu homem começando a penetra-la .Soltou um pequeno grito como se ele a estivesse machucando. Mas ele não parou. Iara tomara a decisão certa !

George Luiz
Enviado por George Luiz em 28/08/2008
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