A Última Noite

Chovia muito naquela noite fria de inverno. Apesar disso, um grupo de boêmios se reunira em seu botequim costumeiro para conversar sobre a revolução, a república e suas melhorias, além de fazerem breves comentários pejorativos à Monarquia.

Eram as únicas pessoas naquele bar, até mesmo as únicas pessoas naquela rua, talvez até mesmo as únicas pessoas na cidade inteira que tiveram coragem de enfrentar a tormenta para não modificarem sua rotina normal.

Tirando a forte tempestade, que ameaçava levar consigo as janelas e cadeiras do bar, aquela era uma noite agradável de sábado, com uma temperatura amena e até mesmo refrescante para os boêmios.

Toda a tormenta que a pouco parecia querer criar um novo Dilúvio cessa. O grupo resolve seguir para suas respectivas casas a fim de aproveitar a trégua que desfrutavam. Foram, então, ao rumo de suas casas pelas escuras e sombrias ruas desertas.

Ricardo, o mais jovem do grupo, resolvera tomar alguns atalhos a fim de ganhar tempo para chegar a sua casa antes que o temporal voltasse. Mas não percebe que, as sombras da pequena viela que caminhava, um vulto se aproximava dele. Anda tão distraído e convencido que não há ninguém por perto que não percebe os pequenos estardalhaços que seu seguidor produz.

Não percebe, mas será sua primeira vítima. Ele persegue Ricardo como um leão sonda a sua presa. O vulto dá uma olhada dentro de seu casaco e confere se está tudo certo e parte para o ataque.

Ricardo sente ser observado. Ele se vira para ter certeza de que está mesmo sozinho. Não vê ninguém. Quando se vira, sente uma pontada forte e fria em seu pescoço. Sente algo escorrer por sua garganta. Ao passar a mão por ela percebe que está ensopado de sangue. Não tem tempo de realizar nenhuma reação. Está sem forças, afogando-se no próprio sangue. Seu algoz o observa com estranho prazer. Ele não mostra seu rosto, mas Ricardo percebe que está se deliciando com a cena de sua morte. Nada é mais prazeroso para nosso assassino do que ver a vida se esvaindo de suas vítimas indefesas.

Seu trabalho está concluído, Ricardo não é mais útil a ele. Ele simplesmente o deixa como banquete para os ratos, saindo à procura de uma nova vítima.

Luiz Devitte
Enviado por Luiz Devitte em 06/09/2008
Código do texto: T1164494
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.