Diário de um Assassino - Cap. II

01 de Setembro de 1888

Aconteceu. Finalmente aconteceu. Após alguns meses de planos e devaneios, consegui meu intento.

Fiquei algum tempo seguindo os passos de uma meretriz. Não sei seu nome verdadeiro, nem me interessa. O único nome que sei é o que os boêmios gemiam por entre dentes dos quartos dos cabarés: Polly. Polly...Foi com esse nome que impugnou o mundo e será com esse que os vermes hão de grunhir enquanto se deliciam com a carne fresca.

Eu a segui pelos becos de Whitechapel, deixando-a apavorada e fazendo-a correr para longe dos cafetões, que seriam sua única salvação. Parei-a na frente de um estábulo em Buck’s Row, fingindo querer ajudar. Podia ver o pavor em seus olhos e mesmo assim não perdia seus modos de rapariga oferecida. Mal apareci e já quis tirar proveito disso. Pude sentir o cheiro do cio e da perverção que seus poros exalavam.

Enquanto ela se acalmava para me contar o que a fizera correr tanto, tirei vagarosamente minha adaga da bainha e a mantive escondida embaixo do meu novo sobretudo de camurça. Meu coração começou a palpitar com mais força. Consegui ouvir as batidas dele, minhas mãos começaram a transpirar, assim como minha fronte, mas não deixei nada disso me deter. Senti as mãos frias e um leve calafrio perpassou meu corpo enquanto ouvia as palavras que aquela moça sussurrava por entre dentes na fria noite de verão.

Chegara a hora. Não poderia adiar mais o grande momento. Ela olhou para trás numa tentativa de encontrar quem ou o que a estava perseguindo. Era esse o momento esperado. Segurei com firmeza minha arma celestial e cravei seus 18 centímetros de metal cortante no ventre da garota. Sem gritos, sem vozes, sem gemidos, sem mais ações. Eu ali com minha arma empunhada perfurando as entranhas de minha primeira vítima e ela sem saber o que estava acontecendo. Olhou para mim uma última vez antes de cair por terra.

Seu corpo inerte jazia em meus pés. Agachei-me e senti pela última vez o cheiro que ela exalava. Em seguida, com minha adaga, perfurei mais uma vez seu ventre, abrindo um grande burado, no qual podia ver seus orgãos. As sensações que experimentei a partir daí são inescritíveis e inexplicáveis para terceiros. Aquele momento só teve e terá sentido para mim e para Polly, que compartilhou comigo umas das melhores sensações que pude provar.

Agora que comecei, não anceio parar nunca mais. Ainda tenho muito trabalho a fazer. Sei que será difícil concretizar meus sonhos, mas uma grande jornada começa com um simples passo.

Esse passo já foi dado. Em breve, continuarei minha caminhada.

Luiz Devitte
Enviado por Luiz Devitte em 22/12/2008
Reeditado em 20/02/2010
Código do texto: T1347687
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