Danilo e Cristiana

Não sabia bem se realmente poderia estar ali, somente que se não o fizesse iria com certeza se arrepender.

Anos haviam se passado desde o último dia, outras haviam lhe dado prazer e até mesmo esquecido-a tinha. Mas agora, ao vê-la novamente, pode relembrar o que sentira. Na semana passada junto a ela redescobriu aquele sorriso que já tanto amou e o olhar que tanto lhe comovia. Por isso, parado na frente da porta do quarto dela, Danilo criava coragem para chamá-la, dar três batidas e esperar que ela atendesse.

Respirou fundo e tocou a porta com a mão, mas ao invés de somente bater abriu-a, entrando no quarto sem qualquer autorização.

A garota terminava de arrumar-se e tinha as calças ainda na metade das pernas. Usava uma calcinha preta sem firulas e de algodão, que apesar de simples era bela no corpo daquela que a usava. E uma blusinha branca, com duas mãos de esqueleto sobre a altura dos seios, cobrindo a parte de cima.

Danilo não tinha a intenção de excitar-se com a cena. Já a havia visto desta maneira outras vezes e o que pretendia era poder fazê-lo várias outras. Mas a aparência dela sempre lhe chamava a atenção, como no momento.

Ela tinha a pele branca, dizia que como de lagartixa, os cabelos negros que pendiam até os ombros e lisos, com o mínimo de fios rebeldes, os olhos verdes, não como esmeraldas, mas a combinação de cores perfeita criada por um artista.

A garota assustou-se ao vê-lo entrar e sua primeira reação foi puxar qualquer coisa para cobrir-se.

- Não olharei – disse ele caminhando em direção à cama. Mas os dois sabiam ser tarde demais, por isso ela puxou o lençol até o pescoço, cobrindo-se toda.

Subiu na cama e por sobre a garota. Não sentia qualquer exitação de si próprio e ela somente o olhava como se esperando para ver o que ele faria.

Cobriu-a toda com seu corpo. Olhava-a diretamente nos olho se se aproximou até que seus narizes se encostassem. Fechou os olhos para sentir melhor a pele dela, o cheiro que ainda era o de sabonete, seu preferido. Desceu mais a cabeça, mas para o lado, deixando seus lábios o mais próximos do ouvido dela. E então, quase num sussurro disse.

- Eu ainda te amo!

Ela o empurrou com força, retirou o lençol que a cobria e terminou de vestir a calça.

- Olha, eu não sei como você teve coragem de vir aqui e me falar isso, ainda mais desta maneira.

Danilo pareceu assustado, suas feições eram de espanto, mas não o estava, pois sabia que o que fizera poderia provocar tal reação.

- Me desculpe, mas eu realmente tinha de fazê-lo. Agora sei como se sente em relação a isto. Pegarei minhas coisas e irei embora para não a perturbar mais; posso falar ao pessoal que preciso ir hoje. E me desculpe por estragar o restante de sua diversão. – Disse e se levantou para sair, mas ela continuou a falar.

- Não, você não vai embora assim não!

Danilo já havia virado as costas quando ela disse. E desta vez ficou tão espantado quanto sua expressão sugeria.

- Você veio aqui e entrou no meu quarto sem pedir sequer licença. Quase me viu nua. E – ela fez uma pausa para respirar – pensei que ia me beijar ali porra!

- “Cris?” – Se perguntou ele.

- E o Eduardo, caralho, ele é meu namorado, você não respeita isso não?

- Como? Namorado? – Esperou uma resposta dela, mas como não houve, continuou. – Ah não, essa eu não engulo. Nesse tempo todo você o tratou da mesma forma do que a mim. Não os vi se beijando e nem mesmo trocando caricias. Ele estava até mais ligado à Lu do que a você.

- Isso porque combinamos que agiríamos somente como amigos aqui – Ela não pareceu muito disposta a explicar.

- Mas porque?

- Que merda... Por sua causa seu idiota. Eu sei como você é, não queria que tivesse um ataque de ciúmes aqui.

Danilo parou para pensar no que ela dissera, com tudo ecoando em sua mente.

- Cris, quanto tempo ficamos juntos?

- Dois anos, porque?

- Não, acho que foram um ano e seis meses. Não contei o tempo que ficamos brigados e sem contato – A expressão no rosto dela mostrou que ele tocou em um ponto muito frágil – E acho que nesse tempo não pudemos nos conhecer bem. Você não era assim, está completamente diferente da garota que eu amava. E eu, bem, acho que somente consegue me ver pelo que aconteceu nesses últimos seis meses e ainda não entendeu o porque daquilo tudo. E creio também que não adianta nada tentar te explicar, ainda mais nesta situação. Adeus. – Abriu a porta e saiu, fechando-a atrás de si. Foi ao seu quarto, pegou a mochila que já estava pronta, jogou em outra de qualquer jeito o que ainda faltava arrumar e desceu para a sala, onde todo o restante do grupo de férias estava reunido.

- Hei, toca para nós aquela música medieval – Disse Luciana percebendo logo em seguida as mochilas que Danilo carregava – Onde você vai?

- Tenho de ir embora, me desculpem, desta vez fui eu o babaca que estragou a festa.

Gustavo sentiu as palavras como uma indireta sendo jogada para si.

- O que houve? – Disse Marcela levantando-se para receber um abraço de despedida.

- Vocês descobrirão – Dizia Danilo na mesma hora em que Cristiana desceu as escadas.

Todos desviaram a atenção para ela quando essa começou a falar, denunciando-o pelo que tinha feito e expondo o passado enquanto chingava-o.

- Oh garota, quando foi que ficou tão berrante e barraqueira? – Perguntou Danilo meio debochante.

E foi Eduardo, que até então se mantinha neutro em um canto, que tomou as dores. A briga continuou ainda pior, deixando Luciana, Marcela e Gustavo perplexos. Todos viram quando Danilo pegou Cristiana pelo braço com fúria e Eduardo também avançou sobre ele com fúria, mas parando por Danilo dizendo que não a machucaria se ele ficasse quieto.

Danilo levou Cristiana para o quarto e trancou a porta. A garota ia berrando até lá dentro e continuou depois de trancada. Todos os outros correram para a porta para escutar o que eles falavam. Eduardo queria colocar a porta abaixo com seus próprios ombros, mas não o deixaram o que o fez ficar ainda mais nervoso.

Os gritos no quarto duraram mais de meia hora, mas só se escutava a voz da Cristiana que falava coisas do passado, um passado que eles conheciam muito bem, mas que nenhum sabia realmente qual dos dois ali dentro estava certo sobre seus atos. E nessa meia hora ela falou muito e também pediu explicações para ele que nada dizia, pelo menos não o escutavam e o que a fazia parecer ainda mais nervosa. Mas os gritos foram se esvaindo, diminuindo até se tornarem somente um simples sussurro e ninguém mais pode entender nada.

Ficaram tentando adivinhar o que se passava dentro do quarto, mas não tinham idéia realmente do que poderia ser, mas o que melhor imaginavam era que estavam conversando somente, que ela tinha se acalmado e estavam tentando achar explicações para o ocorrido.

Alguns minutos se passaram e escutaram a voz dela novamente. Parecia algo como um gemido de dor e ficaram preocupados. Procuraram Eduardo para que ele colocasse finalmente a porta a baixo, mas este tinha desaparecido e os gemidos dela aumentaram, mas de uma maneira que começaram a compreender que não era de dor, mas sim prazer.

- Estão transando? - Alguém perguntou e todos ficaram novamente calados escutando.

Não sabiam o que pensar realmente, não sabiam como todo aquele nervosismo tinha se transformado em prazer. E continuaram a escutar, ficando mais aliviados por não estarem mais em guerra. Mas ninguém mais pensou em Eduardo.

Derrepente dois gemidos altos propagou pelo corredor.

- Hihi, gozaram juntos - Alguém comentou, o que provocou em uns risos e em outros espanto.

- Mas e cadê o Eduardo? - Tinham finalmente se lembrado dele quando a porta foi destrancada e de dentro saiu Eduardo respingado de sangue.

O desespero se apossou de todos quando perceberam realmente o que havia acontecidos e viram Danilo por cima de Cristiana na cama com uma lança que ficava pendurada numa das paredes do quarto transpassando os dois corpos.