POLTRONA 31

Era mais um dia comum, em que eu voltava da universidade dormindo num velho ônibus da Citral. Ao acordar e olhar pela janela deparei-me com algum trecho da cidade que não me parecia familiar naquele momento... Então, reencostei a cabeça no banco a fim de relaxar, mas acabei por dormir mais algum tempo. Ao re-acordar, desta vez em ruas ainda mais escuras, logo, não pude identificá-las, pensei na última pessoa que havia visto descer do ônibus, não me era familiar. Levantei e fui até a cabine tentar falar com o motorista, mas ele não parecia me escutar, foi inútil bater na porta ou tentar chamá-lo, o veículo fazia muito barulho. Vir-me-ei e então percebi que não parecia haver ninguém no ônibus, pelo menos ninguém que eu pudesse ver. Comecei a pensar nas pessoas que entraram e saíram no ônibus, tentando lembrar se alguém desceria depois de mim nesta quinta-feira. Não cheguei à conclusão alguma, não conseguia pensar e nem focar-me em todos os rostos que por ali passaram. Voltei para a minha poltrona e tentei usar o celular, mas a bateria havia acabado. Momentos depois, o ônibus parou, levantei e olhei para trás tentando ver algo, então, vi algumas luzes acesas em uma poltrona no final do corredor. Aproximei-me devagar, até conseguir enxergar o número da poltrona, era a de número 31. Meus passos ressoavam por todo o veículo, e o terror me corroia. Estava a dois passos da poltrona quando o ônibus começou a andar novamente. Joguei-me em alguma poltrona por ali mesmo. Comecei a cogitar diversas possibilidades para o horror que estava ocorrendo ou ainda por ocorrer. E se alguém tivesse sequestrado o ônibus, ou um roubo, uma piada de mau gosto, enfim. Após algum tempo o veículo parou novamente, desta vez em um lugar muito escuro, como uma garagem, silencioso, ali fiquei. Alguém desceu do veículo e a lâmpada da poltrona 31 apagou-se. Alguém estava no ônibus! Eu não estava sozinho. Levantei e parei no corredor. Dali ele não poderia passar... Fiquei algum tempo esperando um movimento, sussurro, barulho, mas nada aconteceu. Resolvi verificar a poltrona. Sentei na poltrona 28 que ficava na frente da 31 e tentei apalpar com a mão algo ou alguém, mas nada consegui. Logo decidi que precisava fazer algo mais drástico, o fiz. Peguei um estilete na minha mochila e fui me aproximando até lá. Apalpei e perguntei: - Quem está aí? Nem um barulho sequer de resposta. Conclui que ele havia trocado de lugar enquanto aproximava-me. Por onde começar a procura havia 40 e tantos bancos no velho veículo. Voltei e comecei o trabalho a partir do primeiro banco. Chegando à metade desconfiei que ele tivesse burlado meu plano umas duas carreiras atrás - enquanto eu passava de um lado ele passava para o outro - durante as minhas trocas estabanadas. Precisava estimar um novo plano, mas qual? Comecei a acender todas as luzes das poltronas, logo ele apareceria... Após acender todas e nada encontrar, pensei que ele poderia estar em baixo de um banco ou ter a chave da cabine. Não sabia o que fazer. Então, considerei o banheiro, era o único lugar em que eu sequer havia chegado perto. Fui até o banheiro. Não havia nada lá, logo decidi trancar-me neste lugar fedorento e incomodo, pois pelo menos ali estaria seguro. Após algum tempo peguei no sono. Horas depois, acordei com o barulho de batidas na porta, era ele tentando entrar, havia me descoberto e resolvido atacar... Decidi ficar quieto. Logo desistiu. Peguei no sono novamente, devido ao cansaço, acordei mais tarde com o barulho do motor. Eu precisava sair, mas se fosse um truque dele, isso poderia ser meu fim. Sentia muita fome e sede, a sede eu poderia resolver com a água da privada já que era o único jeito, porém a fome persistiria. O ônibus então se moveu por algumas horas... Cansado e com fome demais, resolvi enfrentar o meu medo. O veículo parou, e eu resolvi sair. Ao olhar pela janela, percebi que estava na faculdade novamente e todos desciam tranquilamente do ônibus.

Alex Sandro M Spindler
Enviado por Alex Sandro M Spindler em 21/04/2009
Reeditado em 26/09/2009
Código do texto: T1550708
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