A bruxa....

Se o seu silencio fosse (não fosse) a confissão de seu erro, se eu ainda conseguisse crer que não foi uma traição mas um mal entendido. Você olhava fixamente para o chão, respirava profundamente, e meu coração apertado dentro do peito dizia que algo muito errado estava acontecendo.

-Sophie eu matei Lorena.

Meu coração quase parou.

-Como assim Miguel? Como matou?

-Matei, ela ameaçou te fazer mal, ele era uma bruxa cretina, tinha uma mecha de seus cabelos, não sei como conseguiu, mas eu sabia que ela era capaz de te fazer mal.

Passando a mão por minha nuca, tocando a parte mais curta de meu cabelo, que tinha notado havia duas semanas, e que não fazia o menor sentido, senti profundo terror.

-Conhecia Lorena desde minha infância, seu ciúme sempre foi tolo Sophie, pois sabe que namorei com ela quando adolescente mas não deu certo, o que restava era uma amizade conturbada, pois o temperamento difícil dela era um obstáculo...

-Ela sempre te amou, e nunca fez questão de esconder isto!

-Eu era um troféu que ela queria ter nas mãos, pois desejava que eu voltasse arrependido dizendo que ela era mulher de minha vida... Mas eu não poderia amar alguém que utilizava de magia negra para conseguir o que queria, como acha que me senti quando vi meu nome dentro de um vidro, e outros feitiços do tipo. Claro que tenho conhecimentos...- se calou de súbito, mas tentou continuar com naturalidade- a respeito de algumas poucas coisas “ocultas”, e nem por isso utilizo disto para ser melhor que ninguém.

-Você não a matou literalmente, tá querendo dizer que se afastou dela...

-Eu a enterrei no parque Lunas Camborios, embaixo do carvalho, pode ir lá e ver como a terra esta diferente, e saberá que ela sumiu em breve, não que alguém vá sentir falta dela, mas pelo menos o cara do aluguel vai notar o sumiço -deu uma risada sarcástica- quando abrir o apartamento dela, procurando-a, verá todo um arsenal de ocultismo e bruxaria barata, algo de um ser cujo interesse em utilizar dos poderes para bobagens chegou ao extremo-os olhos faiscaram de raiva- era uma idiota.

Comecei a ficar preocupada, seria então verdade que tinha, naquele instante, um assassino em minha frente? E pior, o homem que eu mais amava?

-Você me traiu com ela, sinto isto...

-Nunca te trai com ela, você tem tudo o que eu sempre quis, e ela é um erro do passado...

-Como a matou?

-Eu a abri da garganta ate o ventre com uma adaga ritual, ela sangrou, gemeu, e me odiou ate morrer, quase sem sangue, com os órgãos quase caindo para fora.

Senti náuseas com aquela descrição, Lorena era a mulher mais linda que eu já tinha visto, morena, 1.75, olhos verdes, magra mas com pernas, busto e bumbum desenhados a mão, era o que se poderia chamar de mulher perfeita. E eu, reles mortal com meu 1.70 e minha magreza comum, admito não me considerar feia, mas eu simplesmente desaparecia perto dela, e vê-la sempre dando em cima de Miguel me matava o ego, a auto-estima e a confiança naquela amizade.

-Que homem mataria aquela mulher perfeita?

-Não seja boba Sophie, a perfeição não esta na estética, esta no conjunto, corpo e alma, se ela fosse metade da mulher que você é eu jamais teria feito o que fiz – semblante carregado dele me assustava- livrei o mundo de um demônio disfarçado de mulher meu amor.

-Se é um criminoso, como diz, demonstra não ser alguém que quero ter a meu lado!-disse com certo pavor, mas decidida, pois ele se tornou para mim um monstro disfarçado.

-Amor, não faça isso...

-Adeus Miguel!

Estava entalada com aquilo tudo, se fosse verdade ele era um criminoso, e eu cúmplice por saber e não denunciar, pior se continuasse do lado dele iria parecer que, de fato, participei da morte!

Cheguei em casa, o meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão, me sentia tão pesada e sonolenta que adormeci no sofá, quase como um súbito desmaio. Acordei já eram mais de 3 da manhã, o silêncio estava assustador, levantei e fui para o quarto, pois acordaria com dor nas costas se continuasse ali, quando retirei acolcha que cobri a cama quase cai para trás.

-Oh meu Deus!

Pétalas negras, raízes, e terra sobre o lençol branco, com o coração disparado olhei em volta, talvez em busca do autor, ou apenas para ter certeza que estava em meu quarto realmente, fui correndo para a sala e peguei o telefone:

-Miguel, aconteceu algo.-subitamente uma forte dor na cabeça e cai inconsciente.

Acordei, não sei quanto tempo depois, com a cabeça ainda dolorida, em um lugar escuro e úmido, com forte cheiro de carne podre, podia ouvir ratos se mexendo bem próximos de mim, o medo começa a dominar minha sanidade.

-Bom dia bela adormecida -era a voz de Lorena- pronta para seu Happy end?

“Pensei que estivesse morta sua maldita!” senti imenso desejo de dizer ao vê-la pela pequena fenda da porta.

-O que vai fazer comigo?

-Você vai pagar por ser a mulherzinha perfeita do Miguel.

Engoli seco, ela era maluca! Fiquei em silencio pois minha cabeça latejava, passei a mão e notei um pequeno corte, seria pela pancada que me fez desmaiar?

-Você deve ser boa de cama né sua vadiazinha, para ele gostar de você mais que de mim, apesar que eu alem de linda, também sou fogosa, mas você deve usar alguma técnica especial -tinha ódio dentro dos olhos verdes- mas você vai sentir dor, graças a isto: ele te amar! Vai preferir nunca ter sido amada, pois vou deixar você sucumbir ate morrer.

Entrou no lugar onde eu estava, me puxou bruscamente amarrando minhas mãos, a pele de meus braços começaram a sangrar, tamanha a violência, me jogou em um canto, e prendeu meus braços para cima, quase que segurando o peso do corpo, a dor era intensa. Fiquei ali, como uma prisioneira, meio pendurada por várias horas, pois vi o dia clarear e chegar à metade em total silêncio, sentindo a dor passar de intensa à dormência.

Algum tempo depois, trouxe um liquido amargo e me deu, mas estava faminta e sedenta, bebi sem sequer pensar no que seria, parecia conter álcool, mas a consistência dizia de algo mais viscoso. O cheiro era adocicado, mas o sabor tinha algo de acre, e algum tempo depois me causou uma dor forte na barriga, desmaiei depois de sentir a cabeça rodar.

Acordei novamente ali, pendurada, com braços dormentes e muito machucado, pois as algemas que me prendiam eram grossas, estava na carne viva, mas no entanto, dormente. Quando a escureceu por completo, e os ratos começaram a se aproximar mais de meus pés ela veio novamente, trazendo um chicote nas mãos, enquanto sentia o estalar do chicote em minhas costas meus lábios proferiam gemidos baixos, estava abatida demais para expressar toda a dor que sentia. Logo depois jogou em mim um liquido cuja ardência nos vergões davam a impressão de fogo, minha carne jamais experimentara sensações tão dolorosas, e minha mente nunca se perguntou tantas vezes sobre a justiça divina. Não sei se adormeci ou desmaiei, mas acordei no dia seguinte sem conseguir sequer pensar, eu estava em um estado letárgico, como se tivesse sido anestesiada, ou estivesse em transe, não saberia sequer descrever. Adormeci mais uma vez.

Quando acordei, com um barulho alto, parecia que alguém tinha derrubado algo muito pesado, fiquei tentando ouvir algo alem, mas so ouvi alguns gemidos e passos, a porta foi aberta de súbito e Miguel entrou depressa, me desatou as mãos e pegou no colo, olhei nos olhos dele e apaguei.

Acordei em um hospital, enfaixada, com soro na veia, e a cabeça pesada, olhei em volta e busquei meu salvador, eu estava sozinha. Uma enfermeira vinha de tempo em tempo, perguntei por Miguel, ela disse que tinha estado ali por horas, mas eu estava sedada, e tinha ido embora para descansar um pouco. Fiquei olhando para o teto, para a frieza mórbida do hospital, meu quarto tão branco, e de algum dos quartos do corredor ouvia de tempos em tempos uma tosse forte, a doença e desalento em cada fresta.

-Bom dia amor!

Acordei sonolenta, sorri para Miguel.

-Bom dia!

-Você está melhor?

-Sim... O que houve com Lorena?

-Eu a matei.

-Não a tinha matado antes também?

-Ela estava te torturando, você chegou desfalecendo em meus braços, quase não consegui salva-la... Uma chapa de metal a esmagou naquele galpão, a bruxa mesquinha sucumbiu de verdade.

-O que é isto?-apontei para uma bolsinha roxa de pano.

Os olhos de Miguel ficaram assustados, como aquilo tinha ido parar ali? Pegou e abriu, dentro a mecha do cabelo de Sophie....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 11/05/2009
Reeditado em 05/08/2009
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