A luva branca

O corpo de Álvaro Bernardes acabara de ser autopsiado. Visto assim, sobre o aço da mesa, parecia estar intacto, se não apresentasse aquela porção de cabelos raspados na nuca. Ali fora feito o exame do ferimento contuso que causara sua morte. O morto fira assassinado no estacionamento interno do principal clube de golfe da cidade.

A papelada que normalmente ocupava a superfície da mesa de trabalho do delegado Afrânio Moreira achava-se particularmente confusa naquela manhã de terça-feira.

- Gonçalves ! Onde está você, Gonçalves ?

- Pronto, chefe. O que o senhor está procurando ?

- Como sabe que estou procurando alguma coisa ?

- Ora, doutor Afrânio, esses seu papeis são, me desculpe, uma bagunça total. Não sei como o senhor consegue encontrar alguma coisa entre eles.

- Bem, pare de me criticar e me ajude a encontrar aquele laudo do IML sobre a morte do corretor de imóveis.

- Essa é fácil, chefe. O senhor está com sua mão esquerda sobre ele.

- Malditos papéis ! Nunca ficam onde a gente os põe.

- Seu almoço acabou de chegar do restaurante, chefe.

- Tudo bem. Vou come-lo já.

- É um filé de badejo a milanesa com batatas cozidas, chefe.

- Minha mulher ainda me mata com essa dieta ...E a perícia, Gonçalves ? O que disse o Meirelles sobre ela ?

- Nenhum indicio realmente útil, doutor Afrânio, ao que parece.

- Nossos criminosos estão ficando cada vez mais espertos, Gonçalves. E no entanto, esse deve ser um amador.

- Sabe o que eu acho, doutor ? Essas séries de filmes sobre crime na tele-visão estão ensinando os criminosos a matar sem deixar vestígios.

- Não é uma teoria ruim, Gonçalves. Bem,vou almoçar e depois fazer uma visita mais cuidadosa à viúva do morto.

Álvaro Rodrigues não tinha sido um corretor de imóveis qualquer. Iniciara cedo sua carreira e nos últimos anos acumulara um número respeitável de sucessos. Lançara, dois meses antes de sua morte, um condomínio de luxo que já vendera mais de um terço de suas unidades. Sua residência na Barra era luxuosa e de bom gosto. Afrânio foi introduzido a um salão confortável por uma em-pregada que parecia mais uma governanta inglesa.

Lucinda Rodrigues não tardou a vir falar com ele. Estava visivelmente abalada.

- Boa tarde, delegado. Desculpe-me se pareço um pouco abatida, mas não

consegui ainda absorver essa morte brutal de meu marido.

- É mais que natural, minha senhora. Lamento ser obrigado a lhe fazer algumas perguntas. Mas quero, como a senhora também deve querer,

esclarece esse crime horrível.

- Posso lhe oferecer um suco, um refrigerante, um café ?

- Obrigado. Acabei de almoçar há pouco.

- Então pergunte-me o que quiser. Responderei da melhor forma que puder.

- Começarei pela pergunta clássica. No seu entender, havia alguém que desejasse a morte de seu marido a ponto de assassiná-lo ?

- Não que eu saiba. Mas, naturalmente, não tenho o conhecimento pleno de seus negócios profissionais. Aliás, nunca tive. Mas posso lhe garantir que Álvaro era um homem honesto, incapaz de prejudicar quem quer que fosse.

- Dedicado à própria família ?

- Muito. Mesmo trabalhando tanto, ele sempre achava tempo para a família

especialmente os filhos. Era um ótimo pai.

- Não aconteceu mudança alguma em seu comportamento nos últimos tempos? Não parecia preocupado com alguma coisa ?

- Nada, delegado. Pelo contrário, Álvaro andava feliz com seu progresso no esporte de sua predileção, o golfe.

- Ele jogava com freqüência ?

- Sempre que sua atividade profissional lhe permitia. Adorava esse jogo. E a verdade é que o golfe era ótimo para sua saúde, física e mental.

- Agora uma pergunta delicada, financeiramente, quem lucrou, obteve van-tagens com sua morte ?

- Além de mim mesma e nossos filhos, acho que ninguém. Mas o senhor deveria conversar com nosso advogado, o doutor Erasmo Giannini.

- Claro. Bem, de minha parte, agradeço sua cooperação, dona Lucinda.

- O senhor me informará de qualquer progresso nas investigações ? Eu e-ra muito feliz com Álvaro. Gostaria muito que seu assassino fosse devidamente punido. Ele não merecia esse fim tão cruel.

- Pode ter certeza que o farei. Lhe agradeço mais uma vez por tudo.

Na delegacia de homicídios, Afrânio conversava com seu braço direito, ins-petor Gonçalves.

- Então, chefe ? O caso é bem difícil, não ?

- Por enquanto muito, Gonçalves, mas encontraremos alguma brecha.

- A chamada luz no fim do túnel ?

- Essa mesma. Veja só: há alguma coisa estranha na execução desse as-sassinato. A vítima foi pega sem qualquer possibilidade de defesa. Acho óbvio que o criminoso agiu com total desenvoltura.

- Então era um amigo do morto?

- Amigo, ou, pelo menos alguém que convivia de alguma forma com ele.

Possivelmente um sócio do mesmo clube. Um criminoso amador, acho.

Conversando com a viúva, cheguei a um indicio importante no meu en-tender.

- E qual é chefe ?

- A luva, Gonçalves. Essa luva branca encontrada junto ao corpo. A princípio pensei que fosse dele mesmo. Achei estranho que fosse uma só. Mas agora sei que isso é normal. A luva é especial.

- Como especial, chefe ?

- É uma luva de golfe. No golfe os jogadores usam apenas uma luva, ge-ralmente na mão esquerda, a não ser que sejam canhotos.

- Que coisa complicada. Então se forem canhotos usam a luva na mão di- reita ?

- Exatamente. Verifiquei isso na net.

- Ah ! Então o senhor desconfiou de alguma coisa.

- Desconfiei, Gonçalves e verifiquei que Álvaro não era canhoto.

- E ?

- E a luva encontrada é para uma mão direita, ou seja, tudo indica que o nosso suspeito seja canhoto.

- Então temos que procurar um golfista canhoto ?

- Em principio sim. Mas também pode ser um indicio plantado pelo assas-sino para nos enganar.

- Nossa, doutor Afrânio, será que estamos lidando com um criminoso de inteligência tão diabólica ?

- É apenas uma hipótese, Gonçalves, mas temos que pesquisar tudo.

A sede da T&R Investimentos Imobiliários era situada no Leblon. A grande expansão de seus negócios se dera a partir da década de 70. O T da marca T&R tinha sido Renato Travassos, sócio mais velho, que falecera oito anos atrás. Seu filho Roberto assumira seu lugar na firma. Ele recebeu o delegado Afrânio Moreira num espaçoso escritório na cobertura do elegante edifício de cinco andares da empresa, uma construção remanescente dos anos de ouro do bairro.

- Entre, por favor, doutor Afrânio. Sente-se. O que posso lhe oferecer ? Um refrigerante ? Um cappucino ?

- Um cappucino será ótimo, obrigado.

- Perfeito ! Vou pedir dois à minha secretária.

Observando melhor a ampla sala, Afrânio notou que havia algumas fotos com molduras de prata numa estante com livros bem encadernados.

- O senhor lê muito, doutor Roberto ?

- Leio bastante ficção, mas os livros desta estante são todos técnicos.

- De arquitetura e construção, imagino.

- Sim, e também de marketing.

- Nesta época em que uma crise de grandes proporções nos ameaça, co-mo ficam os negócios imobiliários ?

- Sua pergunta é muito pertinente. Mas, o que o senhor acharia se eu lhe dissesse que em épocas de crise, são os imóveis mais caros os mais fáceis de vender ?

- Bem, eu vi há dois dias na TV uma matéria com um famoso corretor bra-sileiro que atua em Nova Iorque e ele disse praticamente a mesma coisa ao entrevistador.

- E disse a verdade, acredite. É um fenômeno pelo menos curioso.

- E sua empresa tem como alvo a classe alta, não é ?

- Sim, a classe dita A tradicional e, naturalmente os novos-ricos. Ah, aqui estão nossos cappucinos.

- Bem, doutor Roberto, não quero tomar seu tempo em demasia. Posso lhe fazer algumas perguntas sobre esse crime odioso ?

- Faça, doutor Afrânio. Procurarei responder da melhor forma possível. O senhor sabe ? aqui na R & T estamos todos muito chocados com o que aconteceu ao meu amigo Alvaro.

- Ele era uma pessoa muito querida, não ?

- De fato. Acho até que não tinha um único inimigo.

- Mesmo no mundo dos negócios ?

- Mesmo no mundo dos negócios. Como o senhor deve imaginar, a cons-trução, incorporação e venda de imóveis é uma área extremamente con-

trovertida. Mas eu me atrevo a dizer que Álvaro Rodrigues era um homem de uma honestidade, uma lisura fora do comum. Não creio que o senhor possa encontrar algum sucesso em sua investigação trabalhan- do nessa trilha.

- Ah, uma trilha ! É disso que estamos realmente precisando. Mas Álvaro Rodrigues não era um montanhista, não é ? Ao que me consta, seu es-porte era somente o golfe...

- Isso mesmo. Por sinal era um ótimo golfista. Um handicap 8 aos sessen-ta e dois anos de idade.

- Não sou um conhecedor de golfe. Mas sei que, quanto mais baixo o han-dicap, melhor é o jogador.

- Isso ! E Álvaro era realmente ótimo.

- O senhor também joga, claro ?

- Sim, segui meu pai nesse esporte tão difícil. Um esporte de alta precisão. O senhor pratica algum ?

- Sou um tenista medíocre, mas acho muito importante para minha saúde.

- Com certeza ! O golfe não exige tanto fisicamente quanto o tênis, mas também é muito saudável.

- Mas arremessar uma bola com um taco a distâncias tão grandes, não exige alguma força ?

- Esse é o segredo. Quanto menos força e mais ritmo, habilidade do joga-dor, melhor seu desempenho.

- É notável isso. Mas, voltando ao nosso assunto, quem, doutor Roberto, pode ter lucrado com a morte prematura do seu sócio ?

- Honestamente, delegado, acho que ninguém.

- Ninguém na empresa tinha a ambição de um dia ocupar seu posto ?

- As custas de sua morte certamente não !

- Muito bem. Não tenho, no momento, mais nada a lhe perguntar.

- Foi um prazer recebê-lo aqui, doutor Afrânio.

Com isso, mais uma porta parecia se fechar no caminho da investigação. O delegado Afrânio e o inspetor Gonçalves eram, entretanto persistentes.

- O que você acha, Gonçalves ? Que caminhos devemos tomar agora ?

- Se o senhor não sabe, chefe, eu muito menos. Estou desanimado.

- Sugiro uma visita ao clube de golfe. Foi nele que o homicídio aconteceu.

- Golfe ! Eu nunca teria a paciência suficiente para jogar isso.

- Acho que eu também não. A luva branca está com você ?

- Está doutor, guardada neste saco de plástico.

- Então traga-a com você. Vamos até lá.

Era uma quarta-feira e no clube havia pouca gente jogando, Foram recebidos pelo gerente,um homem ainda jovem e muito educado.

- Então, senhores, já descobriram quem foi o autor desse crime ?

- Infelizmente não, mas continuamos a investigar. Podemos lhe fazer mais algumas perguntas desagradáveis ?

- Imagine ! É meu dever ajuda-los no que eu puder.

- Então diga-me senhor Nogueira, quem poderia, em sua opinião, identificar o dono da luva branca ?

- A luva branca ? Ah, claro, a luva encontrada junto da vítima !

- Essa mesma.

- Olhe, delegado, acho que o senhor deveria conversar com o chefe dos caddies. Ninguém melhor que ele conhece o material que os sócios usam para jogar. Ele trabalha aqui há muitos anos.

- Ótimo ! Mas não o avise que queremos falar com ele. Vamos pega-lo de surpresa.

- Tudo bem, fique a vontade.

Os dois policiais caminharam parecendo despreocupados pelo gramado macio que levava até a assim chamada Caddie House, À sua porta estava parado um homem de meia idade. Horácio Silva trabalhava há mais de trinta anos no clube. Tinha visto pelo menos uma geração de garotos se iniciarem no esporte e se tornarem adultos, alguns, muito poucos deles, campeões. Conhecia seus hábitos e maneirismos, assim como os dos que conhecera já adultos.

- Boa tarde, Horacio. Acho que você sabe quem somos.

- Sei sim, doutor. O senhor é o delegado.

- Isso mesmo e este é o inspetor Gonçalves, trabalha comigo. Que coisa feia e triste aconteceu aqui no sábado passado, não acha ?

- Muito triste, doutor. O homem que mataram era a bondade em pessoa.

- Por que acha que fizeram isso ?

- Só pode ter sido alguém muito covarde, doutor. Covarde e invejoso.

- Invejoso, não é ? Isso é interessante. Acha que ele tinha alguns inimi-gos, então ?

- Quem não tem, doutor ? Ele era um homem muito importante.

- Com certeza.

- E além disso era um ótimo golfista. Dos melhores do clube e na idade de-le...

- Quero lhe mostrar um objeto, Horacio. Talvez você possa me dizer quem é o dono. Veja :

- Ah, essa luva de golfe quase nova. Será que é do assassino ?

- Não, Horacio. Disso temos certeza.

- Por que, doutor ?

- Porque é a luva de um golfista canhoto. O exame da perícia mostrou que o golpe que matou o doutor Álvaro foi desferido por um homem destro.

- Mas então ?

- Então,acho que o assassino deixou a luva junto ao corpo para confundir a policia...

- Nossa ! Que pessoa esperta !

- Pois é. Quero lhe pedir para examinar bem a luva e me dizer de quem a-cha que ela é. Pode pega-la a vontade ela não tem impressões digitais.

- Não tem ?

- Não. Acho que o matador de Álvaro limpou bem a luva para nos confun-dir ainda mais.

- Que coisa, não é ? Imaginar esse homem chega a me dar medo.

- Ah, mas vamos pega-lo, Horacio. Por mais inteligente que seja, todo cri-minoso comete erros. Vamos, examine a luva.

Afrânio e Gonçalves perceberam a atenção, o cuidado com que Horacio examinou a luva branca. Ele a olhou de vários ângulos e até cheirou o objeto.

- Pronto, doutor. Examinei bem a luva. Acho que sei a quem ela pertence.

- É a um sócio do clube ?

- É, mas não um sócio ainda vivo.

- A alguém já falecido, então ?

- Posso quase jurar que sim, doutor. Essa luva foi de um ótimo golfista que já morreu há alguns anos, o doutor Renato Travassos.

- Renato Travassos ?

- Ele mesmo, doutor, talvez, se o senhor mostrar essa luva ao Zé Galo, que durante anos carregou a bolsa com os tacos do doutor Renato, ele confirme isso. Eu, pelo menos, não tenho dúvida.

- Certo. Nosso problema é descobrir por que o assassino estava com essa luva em sua posse. Obrigado, Horacio, por sua ajuda.

Já saindo do clube, o inspetor Gonçalves interpelou seu chefe:

- E essa agora, doutor Afrânio ! Quem poderia estar com essa luva ?

- Duas hipóteses, Gonçalves. O assassino entrou na posse dela por uma coincidência extraordinária e quer incriminar Roberto Travassos, ou o próprio Roberto a plantou no local do crime para nos confundir.

- E se esse Roberto a plantou achando que não descobriríamos de quem era ?

- Também é possível, Gonçalves .

- Bom, eu , pelo menos, não gostei nada desse doutor Roberto Travassos. É muito escorregadio para o meu gosto. Educado demais para ser real.

- Você está sendo preconceituoso, Gonçalves.

- Posso até estar, chefe, mas meu santo não cruza bem com o desse cara.

- Nosso problema vai ser como voltar ao assunto da luva com ele.

- Pior ainda vai ser reconstituir seus movimentos naquele sábado do crime.

- Com certeza ! Com o clube cheio num dia de sábado. Vamos tentar sem muita esperança.

- Há algum outro caminho, chefe ?

- Penso que o caminho melhor seria lançar uma mentira de aspecto ino-cente, uma espécie de isca que faça as pessoas falarem.

- Que tipo de mentira ?

- Alguma coisa do tipo “ Finalmente temos uma pista para encontrar o matador !” Talvez seja a isca certa...

- Tomara que seja, chefe.Vou adorar ver esse grã-fino preso.

- Não se alegre demais, Gonçalves é apenas uma tentativa.

- Tenho muita fé em suas idéias, doutor Afrânio.

Realmente era difícil pensar numa forma de usar a luva branca como isca para confundir o criminoso. Mas era preciso fazer isso logo. O delegado Afrânio pro-curava a melhor maneira de plantar a isca. E um dia resolveu agir. Havia um torneio importante no clube onde ocorrera o crime naquele fim de semana. Jo-gava-se no sábado e no domingo, pela manhã e a tarde. Os melhores golfistas iniciavam seus percursos depois que os das categorias mais fracas já tinham jogado. O sábado estava ensolarado. Os golfistas saiam em grupos de três.

Roberto Travassos começou a jogar as onze da manhã. Seus parceiros eram um médico, Gerson Lopes, e um advogado, o mesmo que se encarregava da parte jurídica de sua empresa. O delegado Afrânio, junto com o inspetor Gonçalves, ficaram bem perto do green do buraco 18, o buraco final do percurso. Viram o trio se aproximar do green. Dois dos jogadores, Roberto e Gerson, eram destros, apenas Rubens, o advogado era canhoto. Roberto Travassos convidou os dois policiais para beberem uma cerveja no bar do clube. Sentaram-se os cinco a uma mesa. Conversavam descontraidamente. Afrânio abordou o assunto relativo a legislação de imóveis. Estava, disse ele, interes-sado em vender sua casa e comprar um apartamento num condomínio de luxo. Rubens e Roberto se interessaram e a conversa girou um pouco sobre esse tema. Súbito Afrânio num gesto aparentemente acidental esbarrou com a mão em seu copo de cerveja que quase caiu sobre o colo do advogado. Mas este, com grande destreza aparou-o no ar. Com a mão direita. Afrânio o olhava fixamente e o advogado pareceu desconcertado. Afrânio então retirou de um dos bolsos do blazer que estava vestindo a luva branca achada no local do crime. O sangue fugiu do rosto de Rubens. Ele começou a levantar-se de sua cadeira. Afrânio perguntou-lhe quase casualmente:

- Já vai, doutor Rubens ? Não quer nos contar antes por que matou Álvaro Bernardes ?

A manhã de segunda-feira mostrava um céu nublado. O prédio da delegacia de homicídios parecia um tanto lúgubre. Na sala do delegado Afrânio, ele e o ins-petor Gonçalves saboreavam um capuccino razoavelmente saboroso.

- - É, Gonçalves esses capuccinos não se comparam com o que tomei na sala de Roberto Travassos nos escritórios da corretora.

- O senhor ainda me mata de susto chefe !

- Eu ? Por que, Gonçalves ?

- Ora, chefe, não adianta o senhor querer bancar o inocente. Eu quase caí da cadeira quando o senhor fez aquela pergunta ao assassino !

- Pois é. No entanto era um esquema tão simples o dos dois criminosos.

- Simples para o senhor que parece ter parte com o diabo !

- Não blasfeme, Gonçalves ! Meu trabalho foi apenas de observação e dedução. O jeito furtivo com que esse Rubens olhava para Roberto Travas-sos enquanto conversávamos, seu uso constante da mão direita para pe-gar o copo de cerveja e os salgadinhos. A luz da verdade foi me surgindo aos poucos.

- Acha que eles tinham planejado matar a vítima há muito tempo ?

- Não, Gonçalves. Deve ter havido alguma falha no esquema que os dois usavam para realizar suas falcatruas e Álvaro Rodrigues percebeu tudo. Aí, Roberto e Rubens tiveram que agir depressa. Afinal, iam ser desmas-carados.

- E agora, chefe ? Com os dois presos e processados por assassinato, quem acha que vai assumir a direção da empresa ?

- Não estou preocupado com isso, Gonçalves. Tenho outra preocupação bem mais importante.

- E qual é, chefe ?

- Esse capuccino instantâneo. Temos que encontrar um de outra marca que seja bem mais saboroso...

George Luiz
Enviado por George Luiz em 12/05/2009
Código do texto: T1588913
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