Um obervador: louco?

Desde meus anos mais tenros, dos quais me lembro, há em mim a sensação de falta de sentido, tudo é desconstruído, disforme, a organização social, ambiental, e tudo o que para a maioria das pessoas é normal e típico, para mim é estranho, sem sentido. Admito que há em mim algo de louco, talvez eu seja esquizofrênico, ou algo similar, mas de que isto importa? Até que, de fato, surte, quebre a casa, bata em alguém ou rasgue dinheiro sou só um cara esquisito. Sou um anti-social, excêntrico, mero mal adaptado, no máximo sofri um trauma e “fiquei assim”...

Eu moro em um prédio muito velho, daqueles que as paredes racham e a tinta começa a formar manchas de mofo, vejo imagens fantásticas naquelas manchas, passo horas olhando para elas. Há no meu prédio um casal interessante, brigam o dia todo e a noite transam como animais, a cama parece que vai cair, a mulher uiva feito um animal. Ela tem o corpo tatuado, mas esconde tudo atrás de roupas sociais. O homem é um cara mai jovem, que esta sempre com a roupa da moda, é vendedor em uma loja conhecida, os dois as vezes quebram moveis do apartamento em suas brigas, me pergunto se isto seria amor...

Em outro prédio mora um pintor, o cheiro de tinta sempre chega a minhas narinas às 22:32 em ponto, coincidentemente olhei ao relógio, em dias alternados, e era a mesma hora, achei aquilo meio obsessivo, um ritual meio macabro, marcar hora pra pintar! Era um artista plástico muito velho, parecia até cego, expunha quadros na loja da esquina, vendia muito, pois tinha realmente habilidade, mas havia algo de macabro nos quadros, sempre retratava crianças sozinhas e tristes, flores despetaladas, animais mortos, e paisagens nostálgicas e deprimentes. Usava cores acinzentadas misturadas ao vermelho, o céu sempre nublado, ou no crepúsculo com nuvens arroxeadas... O velhinho tinha um pé no trash...

Os relógios do prédio eram todos iguais, em cada quarto tinha, uma velharia barulhenta, ficava no corredor nos apartamentos, era preso à parede e funcionava, pelo visto desde que o prédio estava lá, o que não era pouco tempo, pois já iam mais de 50 anos sem duvida. A arquitetura era bem peculiar, tinha alguns detalhes em relevo de tênue beleza, algo que nem o descascado ou o mofo abafavam. Ah os relógios, que pavor destes relógios com seu “tic tac” sincronizados,que em uníssono formavam um som ensurdecedor nas noites silenciosas. Era agoniante, martelava na minha cabeça e me senti sendo balançado pelas marteladas constantes, quase não conseguia dormir.

Trabalho com restauração de peças antigas, deve ser por isto que moro neste prédio, adoro antiguidades, gosto de coisas bem talhadas, com a beleza trabalhada, dá uma sabor diferente à vida.

Meu apartamento é u amontoado de arte, por todo lado desenhos, colei em vários lugares, são minha inspiração, algumas imagens de quadros famosos, alguns desenhos meus, esculturas em arame, em argila, em todo o tipo de matéria, meus moveis são pintados de cores fortes, minha cozinha só tem vasilhas e talheres de formatos diferentes: organizo meu mundo mental com a desorganização, só me atrai aquilo que foge à regra, há em mim uma fome de resposta, busca na diversidade resposta pra inconstância de meu pensamento. Até quando me vejo no espelho parece que meu formato não é comum, me vejo disforme, pareço uma aberração. Penso que sou invisível, o que existe atrás deste jeans e esta camiseta a ninguém parece importar. Matei minha mãe quando tinha 12 anos, jurei que tinha sido um ladrão que invadiu a casa, todos creram, meu pai esta internado no hospital psiquiátrico há alguns anos, acho que um dia serei eu, mas o que importa? Tenho em minha geladeira vários órgãos humanos, olhos de lindas mulheres, dedos, alem de corações, gosto de guardar aquilo que deu a vida a eles, da uma sensação de divindade possuir um coração!

Acho que vou dormir, estou sonolento, há um cadáver em minha cama, esta frio e endurecido, era uma moça linda que conheci num barzinho há 2 horas atrás, não me culpo, era apenas uma vadia, depois que me deu o que eu queria descartei, e foi pra sempre....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 15/05/2009
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