O destino nas mãos certas!!!!!

A vida estava ficando pesada para mim. Um grande fardo que deverás carregava em meus largos ombros, muito parecido com uma pista ondulada, com curvas e buracos profundos.

Meu ânimo, aquele ímpeto pelas novidades já não existia comigo. Parecia que tudo havia perdido o sentido.

Os jogos de meu time preferido, eram agora em preto em branco, como se ainda estivéssemos vivendo o início da era da televisão, quando as cores vivas e alegres não haviam chegado ainda.

O encontro tão celebrado com meus melhores amigos estava ficando tão chato, que eu não ouvia mais o que eles falavam, estava surdo, apenas conseguia ver os seus lábios mexerem-se, murmurarem palavras indecifráveis para minha compreensão. Era um zumbido fino, torturante em minha audição.

Olhava agora a porta fechada de meu quarto, querendo que ela ficasse do jeito que estava para sempre; esquecida para o mundo, que ninguém ousasse abri-lá. Porque eu mesmo não desejava ver nenhuma viva alma se quer na minha frente.

Ainda consigo lembrar-se dos dias de outros tempos, quando a minha amada noiva, vinha me visitar após um dia duro de trabalho.

Com sua presença, todos os momentos eram cheios de uma luz resplandecente. As suas palavras belas, sábias, guiavam todos os meus passos. Na última vez que nós estivemos reunidos, tudo parecia tão normal. Fernanda falava alegremente sobre os preparativos do nosso casamento.

Eu mesmo não era muito empolgado para esse tipo de coisas. Queria que tudo fosse rápido: a benção do padre, a recepção do Buffet com familiares e convidados, o momento em que veria um rosto de alguma jovem entusiasmada no meio de uma luta bem disputada, ganhar o buquê de rosas e se imaginar em seu próprio casamento.

Ficava querendo logo desfrutar de uma simples e aconchegante lua de mel, onde daria o prazer merecido àquela mulher que eu tanto amei nesses seis anos de vivência, de encontros apaixonados, tardes ao pôr do sol, na brisa suave do vento litoral, no beijo doce com gosto de caramelo.

No entanto, tudo se desfez quando aquela porta se fechou. Antes um pouco, havíamos marcado na sua casa um encontro onde comunicaríamos a data certa da celebração matrimonial. Sua vontade de apressar as coisas era tão intensa, como se soubesse, que pouco depois, todo o sonho se desmoronasse, como um castelo feito de areia próximo às ondas turbulentas do mar.

Nesse mesmo dia, logo após a partida de Fernanda, o telefone tocou, tive que sair para uma reunião de negócios com os sócios majoritários (como eu também era), sobre o andamento recente do mercado produtivo.

Na verdade, às notícias sobre os concorrentes não eram animadoras. Ficamos até de madrugada, com a conclusão do estudo capaz de vencer nossos adversários no campo de material esportivo. Pelo menos na teoria.

Ao retornar para casa, tive como que uma visão na minha frente, era uma voz que me chamava em um lugar escuro e pedia ajuda, como se estivesse presa e só eu pudesse libertá-la. Só poucas horas depois, eu perceberia de quem era essa voz.

Depois de um longo banho, desmaiei em cima da cama. Só vindo despertar às 11h com o alarme do celular me lembrando de que estava na hora de ver Fernanda.

Como de costume, me vesti com uma bermuda de estilo praia, coloquei os óculos escuros, camisa da seleção brasileira de futebol e entrei no meu buggy, que apesar de ser muito antigo e ter pertencido ao meu avô e depois ao meu pai, era muito conservado.

No trajeto com destino ao grande dia, fui surpreendido com uma visão antiga, era minha ex-namorada Andréa, que estava na esquina do supermercado em frente a praça, próximo a minha residência.

. A cumprimentei com normalidade, porém Andréa tentou atrapalhar meu percurso, ao se colocar no meio da pista, impedindo a passagem de meu carro. Então decidi saber o que ela queria. Disse que ainda gostava de mim e desejava uma nova chance.

Fiquei sem saber como me sair dessa situação anormal. Visto que meus olhos se voltavam totalmente para o futuro. Nele só via outra mulher.

. Andréa era apenas uma paixão do passado. Um corpo que saciava todos os meus desejos. Quando estávamos juntos, éramos como que uma só pessoa, ligados apenas pelo desejo, um louco prazer.

Para mim, Fernanda era amiga, companheira, um anjo que me ajudou a fugir das drogas, que me consumiam; acalmou minha rebeldia. Fez-me ver como é importante viver entre pessoas, ter amigos, respeitar uns aos outros e entendê-los naturalmente. Antes dela, tudo era confuso, não tinha objetivos concretos, vivia só mesmo porque não conseguia ter a coragem de tirar minha própria vida.

Ao tocar meu telefone, busquei o pretexto que queria para me livrar de Andréa. Pisei na embreagem, passei a primeira marcha e logo depois o acelerador, a mesma sequência das outras marchas, dobrei na primeira esquina livre de congestionamento. Agora sozinho, prossegui o caminho.

O mais estranho é que o telefone tocou com uma força estrondosa, como que querendo explodir. Ao atendê-lo, escutei uma voz parecida com a que havia sonhado. Era Fernanda pedindo ajuda. Apesar de não compreender direito o que Fernanda falava, sabia que algo grave havia acontecido. Precisava me apressar, para evitar que algo pior viesse.

Resolvi ligar para sua casa, queria saber alguma notícia. Quando sua mãe atende e me diz que está tudo bem, que Fernanda vê um filme na sua TV de plasma fico mais aliviado.

Prossigo rapidamente para a casa de minha noiva. Meia hora depois, chego às proximidades de sua residência. Tudo parece calmo. Aperto a campainha e nada de respostas. Então decido entrar, pois tenho uma chave reserva dada por Fernanda. Não têm ninguém em nenhum local da casa. Vou aos quartos, varandas e nada.

Começo a ficar preocupado e acho tudo aquilo muito esquisito. Pouco tempo atrás estava em casa; agora já tinha saído sem nem avisar. Isso é estranho. Ligo então o carro e coloco na rádio uma música, uma daquelas que relaxa e trás paz.

. Então tudo muda, o locutor diz uma notícia: - Acidente na BR116 deixa dois mortos e um ferido; segundo informações, o carro perdeu o controle e se chocou na traseira de um caminhão que trazia material de construção. Os passageiros foram identificados: Godolfredo Alencar, que está em estado grave na UTI do Hospital, Amanda Alencar e sua filha Fernanda Alencar que morreram pouco depois, presos nas ferragens. Mais informações a qualquer momento...

. O meu mundo desabou completamente, senti calafrios, comecei a chorar. Segui feito louco, com destino ao Hospital, onde reconheci meu sogro rapidamente.

Logo após no Instituto Médico Legal (IML), me choquei com a maneira como estavam os corpos de Amanda Alencar e da minha noiva Fernanda, que conservava porém o rosto intacto, como se quisesse falar algo, gritar por ajuda, até que a hemorragia que se alastrou, tirou suas forças e a levou a óbito.

Os meses passaram, toda a dor permanecia me dirigia para o derradeiro fim. Não tinha mais motivos para viver. Nem todo dinheiro que possuía me dava alguma felicidade. Morri junto com a minha amada, naquele dia em que ficou presa nas ferragens, gritando, pedindo ajuda, falando meu nome.

Olho e vejo às águas do rio Ceará passarem por debaixo da ponte. Já é meia noite, aquele medo de pular já passou. Consigo vê o seu rosto lá no fundo.

O desenrolar dos fatos, me tirou o desejo da vida e isso me deu o impulso negativo que precisava para cometer esse ato tão covarde de tirar algo tão precioso. Com certeza Fernanda ficaria triste em me ver assim. Esse pensamento me faz começar a lutar, quero evitar esse ato trágico. Desejo viver com um motivo de ver a vida com melhores olhos.

Com muito esforço, livro meus pés da pedra que me oprimia, agora já vejo as margens do rio. Um pouco sem ar, porém certo de que me livrei de algo pior. Só penso agora em meu amor, contemplo seu sorriso e seus aplausos para meu arrependimento.

. Uma vida que teríamos juntos não é mais possível, mas isso não me dá o direito de querer assumir o papel do autor de tudo. Ele que escolhe a maioria das coisas, quem sou eu para contrariá-lo. Prefiro seguir meus passos e ver para onde tudo se encaminhará.