EI, BOI !

Quando Louveira ainda pertencia ao vizinho Município de Jundiaí, como bairro, a estrada que hoje liga à cidade de Vinhedo, era o local por onde passavam as boiadas, vindas de toda a região.

Na subida para o atual cemitério, ao lado esquerdo da estrada, ao dobrar a curva, logo se avistava uma casinha branca, com altas janelas azuis, enfeitada por singelo jardinzinho, onde floresciam dálias, lírios e rosas de todas as cores.

Ali moravam Zé Américo e Lindalva, casal ainda jovem, com um único e querido filho : José Antônio, com 5 anos de idade, conhecido nas redondezas como Zézinho.

O que Zézinho mais gostava era subir ao portão e observar a boiada passar, gritando como os boiadeiros e respondendo ao cumprimento de todos.

Lindalva, nesses dias, ficava muito preocupada:

- Pelo amor de Deus, Zézinho...Muito cuidado. Essa boiada é muito perigosa...Se um boi escapar e subir o barranco, eu nem quero pensar! Deus o livre e guarde ! Tome muito cuidado !

Os dias foram se passando, sempre iguais, tanto em risos quanto em felicidade, retratando a família feliz !

Porém, certa manhã, Zézinho, que brincava nos fundos do quintal, com a água da bacia onde a mãe lavava umas peças de roupas, ouviu o berrante e o mugido dos bois. Era a boiada que se aproximava...

Saiu em disparada carreira e subiu nas tábuas do portão...Na ponta dos pés observava, ao longe, a manada de bois e vacas que se divisava na curva e a poeira que subia do chão de terra batida.

O rostinho de Zézinho se iluminou quando a boiada passou...Pensava em descer do portão, quando um grito forte se fez ouvir...

-Cuidado, menino...Corra !

Mas não deu tempo. Zézinho erguera a cabeça para observar de onde partira aquele grito rouco e agourento...mas o boi negro, com grandes chifres pontiagudos subiu o barranco numa louca disparada. Com um só arranco, fez com que o corpinho de Zézinho rodopiasse no ar e fosse se estatelar na estrada.

E a poeira da estrada virou lama ao receber as lágrimas de Lindalva...lágrimas de mãe diante do pequeno filho morto !

Zé Américo e Lindalva se mudaram daquela casinha branca, de altas janelas azuis, pouco tempo depois...

A vizinhança nunca soube para onde foram e nem puderam ver como se mudaram...Somente sabiam que o casal havia partido altas horas da noite, como se quisessem esconder de todos a tristeza que lhes minava a cada dia.

E durante muito tempo a casinha da beira da estrada permaneceu desabitada.

Mas nas horas mortas das noites de lua cheia, todo viajante que pela estrada passasse, podia ver, nítidamente, em pé no portão de tábuas, a figura daquele menino risonho e feliz, observando a boiada passar...E o seu grito rouco ainda podia se ouvir, perdendo-se em léguas de distância :

- Ei, boi !!

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 14/07/2009
Código do texto: T1699416
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