O ENFORCADO
Conta-se que em uma das fazendas de nossa cidade, de proprietário conhecido por todos de Louveira e região, por conseguinte desejando a omissão de seu nome, lá pelos idos de 1951, passou-se a seguinte história :
Estando a cuidar dos afazeres domésticos, no enorme casarão assobradado da fazenda, dona Carolina (como a chamaremos) ouviu um chamado :
- Ô de casa !
Dona Carolina enxugou as mãos no avental e dirigiu-se aos fundos da casa, de onde provinha aquele chamado masculino. Aproximando-se, avistou junto ao pé da enorme mangueira um senhor aparentando seus 55 anos e uma garotinha de seus 9 anos de idade. Estavam pobremente vestidos, mas se percebia limpeza em suas vestes humildes. Aparentavam ar de cansaço.
- Queremos trabalho, minha senhora. Eu faço qualquer serviço de roça e minha filha já sabe como cuidar de uma casa...Por favor...Precisamos de um emprego e um lugar para morar !
A senhora, muito simpática, disse que o marido poderia resolver esse problema, mas que no momento se encontrava no campo. Enquanto aguardassem, poderiam comer alguma coisa. Aceitaram. Dona Carolina pediu que a empregada da casa fizesse dois pratos e servisse a ambos debaixo da grande mangueira.
Após almoçarem, pai e filha se dirigiram para uma plantação de uvas nas proximidades, onde estava o marido de Carolina e proprietário daquelas terras.
A noite caiu, Carolina perguntou ao marido sobre aquele pobre homem e a criança.
- Eu disse que no momento não estou precisando de nenhum empregado. E ainda mais com uma criança ! Saíram depois de rápida conversa.
Dizendo isso, o proprietário da fazenda saiu para recolher alguns animais que ainda estavam soltos.
Mas ao passar debaixo da velha mangueira, o homem parou desconfiado...Sentiu alguns pingos de água em sua cabeça. Passou a mão...Olhou e arregalou os olhos, assustado.
- Meu Deus ! Mas isso...é sangue !
Afastou-se alguns passos e olhou para o alto da grande árvore, de onde caíram aqueles grossos pingos de sangue...Recuou assustado e gritou por Carolina e pelos empregados.
Chegaram todos acudindo ao desesperado chamado. Olharam para o alto e a cena que todos viram era estarrecedora.
Nos galhos mais altos na enorme mangueira, estava o pequeno e franzino corpo da menina, com a garganta cortada, expondo nervos e veias...gotejando sangue. No galho acima, enforcado, aquele pobre homem que desesperado buscava emprego e moradia para ele e sua filha.
Verdade ? Mentira ?
Só sei que ouvi esta história contada por um dos filhos do proprietário dessa fazenda, cujo nome aqui omitimos, por questão de ética.
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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense.