O ANJO

Uma senhora de nossa cidade, a quem chamaremos de Luiza, um dia me contou o seguinte :

***************

" Logo depois de casada, eu e meu marido viemos morar em Louveira, pois havíamos herdado um sitiozinho de meus sogros, que haviam falecido bem antes de nosso casamento.

Era um local muito bonito, onde eu criava galinhas, porcos, duas vacas leiteiras e meu marido cuidava da plantação de uvas, de cuja renda nos sustentávamos.

Depois de três anos, nasceu nossa primeira filha ! Uma linda menina, que na pia batismal recebeu o nome de Eunice. Era toda a nossa alegria e felicidade !

Nossa filha foi crescendo cercada pela natureza, brincando entre as plantas e animais e nadando no riozinho que cortava nossa pequena propriedade.

Quando Eunice estava com três anos, engravidei outra vez e nos nasceu um menino, Roberto, que veio para completar a nossa felicidade. Roberto era o xodó de meu marido, se bem que adorasse a filha !

E os anos foram passando, calmos, tranqüilos, sempre com nossa vida dividida entre os filhos, o trabalho e de vez em quando um passeio na casa de parentes, residentes em Campinas.

Tendo completado seis anos de idade, Eunice adoeceu. Começou a emagrecer sensivelmente e sem motivo aparente. Levamos a nossa filha aos melhores médicos das cidades vizinhas, uma vez que o médico , naquela época, vinha à Louveira, apenas uma vez por semana.

Nada foi constatado, porém, Eunice caiu de cama e duas semanas depois, a morte a carregou para longe de mim, para sempre !

A partir daí minha vida mudou por completo...passei a chorar todos os dias, inconformada com a perda de minha filha...descuidei das minhas plantas, dos meus animais e até mesmo de Roberto, meu filho mais novo e de meu marido, que não se conformava com a situação reinante.

Eu não aceitava a morte de minha Eunice...E chorava, chorava muito, blasfemando contra Deus que é o único Senhor da Vida e da Morte !

Eu já não conseguia dormir. E quantas noites, intermináveis noites, meu marido acordava com meu choro, chamando por Eunice, desesperada, revoltada...E numa determinada noite , durante uma dessas crises de choro, parei espantada: um maravilhoso cântico infantil enchia o quarto...Era como se milhares de crianças entoassem um hino numa procissão. Olhei firmemente para a porta e vi, centenas de crianças passando, todas vestidas de anjos, numa belíssima procissão.

Entre todas as crianças procurei por minha filha...Não conseguia vê-la. Porém, depois de certo tempo, já em desespero, avistei Eunice, minha filhinha, no final daquela procissão irreal. Vinha se arrastando, cansada, sem conseguir acompanhar as demais. A muito custo, quando conseguiu chegar perto de mim, ela disse :

- Mamãe, por favor, não chore mais por mim ! Veja...Suas lágrimas encharcaram tanto as minhas asas, que estão tão pesadas, que não consigo acompanhar as outras crianças !

No mesmo instante a visão desapareceu !

E desde essa noite, nunca mais chorei pela partida de minha querida filha, apenas orando para a verdadeira paz de sua alma ! "

*****************

É amigos...Estas são Histórias de nossa Louveira.

Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense.

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 19/07/2009
Código do texto: T1707505
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.