Ana ( editado)

Era noite quando Ana chegou em casa. E de longe viu e estranhou a movimentação que, àquela hora, acontecia na varanda.

Pensou que tivesse acontecido o pior com o tio, que a alguns anos estava enfrentando um câncer.

Apressou o passo.

Quando chegou à varanda, não lhe foi difícil abrir caminho entre as pessoas ali presente. Isto a deixou mais certa do pior.

E ao apontar à porta da sala, veio-lhe a confirmação de seus temores ao ver a mãe ao lado de um caixão.

Mas sua mãe não estava sozinha. Ao seu lado encontrava-se, visivelmente abalado e incapaz de consolar a esposa, seu pai.

Então Ana se aproximou dos dois sem antes cumprimentar um amigo que lhe havia acenado. Estes, entretanto, estavam tão entregues à própria dor que não a notaram. Mas ela também não queria ser percebida.

Manteve-se então em silêncio ao lado da mãe.

Ana não queria nem mesmo olhar o corpo, mas sentia necessidade de confortar os pais. Então, para criar coragem, voltou os olhos para o morto.

Foi quando ficou branca como cera e recuou instintivamente.

A imagem do sítio onde comemoravam, com um belo churrasco, o aniversário de um amigo foi aos poucos se formando em sua retina.

Havia sido um churrasco muito animado até o momento em que Erick, seu namorado, desapareceu.

Ela sabia que Erick não gostava de seus amigos e julgou que tivesse se afastado por conta desta antipatia. Mas como fazia muito tempo que não via, resolveu procurá-lo.

Então perguntou aos amigos se o tinham visto.

_ Eu o vi entrar na casa.- respondeu um deles.

Este se referia à casa que existia no sítio e que podia ser visto de onde estavam.

Ana então se dirigiu a ela.

Quando entrou, bateu os olhos em um casal que se beijava.

Ela então ficou ali parada, com os olhos nos dois até que o rapaz a notou.

Saiu do estado de perplexidade em que se encontrava e fugiu de tudo aquilo.

Não queria acreditar no que tinha visto.

Passou pelos amigos sem falar nada e foi em direção a um paiol não muito longe dali.

Ao chegar lá, deu com os olhos em uma espingarda e levou a mão.

Chorava.

Suas lágrimas iam se depositando aos poucos sobre o caixão.

Ouviu-se então o estampido de um tiro. Somente ela se voltou para olhar. Quando retornou os olhos ao corpo, suas lágrimas haviam se tornado tão rubras como o sangue.

Entretanto, manteve os olhos fixos no corpo ali depositado, pois queria se convencer da verdade.

saulo ribeiro
Enviado por saulo ribeiro em 23/10/2009
Reeditado em 07/07/2023
Código do texto: T1883316
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.