Ironias do agouro

Um jovem atormentado pelas duvidas de um relacionamento conturbado, sua namorada e seu ciúme doentio, sua mãe deprimida, seus amigos sempre tentando levá-lo para uma vida desregrada, e sua carreira caminhando a passos largos para o fracasso.

Um dia, como outro qualquer, encontrou um senhor idoso levando muitas sacolas, passava de carro e se angustiou ao vê-lo, parou o carro e ofereceu uma carona, disposto a levá-lo para onde este fosse, pois por algum motivo ele lembrava alguém só não conseguia lembrar quem. O senhor, que pelo peso das sacolas teve que abrir mão da desconfiança e se deixar ser ajudado:

-Obrigado rapaz, é muita gentileza sua...

-Para onde o senhor esta indo?

-Alameda das Flores, 232.

Seguiu para lá perguntando banalidades ao senhor, para que este se sentisse menos constrangido e para se sentir menos bom samaritano mas sim vivenciar com naturalidade aquela situação. Chegaram e ele ajudou ainda o senhor a levar ate a cozinha suas sacolas. Quando ia embora aquele idoso o chamou com uma voz misteriosa:

-Venha aqui só um instante meu rapaz.

Ele foi até onde ele estava, o viu parado diante de um móvel que lembrava um altar, com detalhes talhados em uma madeira maciça. Abriu uma gaveta pequena que ficava na parte inferior do altar, cujas portas altas escondiam algum conteúdo místico que a curiosidade teimava em supor mil coisas. Pegou um objeto, era um tecido que encobri algo, tirou um cordão onde pendia uma pedra de cor esverdeada, mas fosca, entregou na mão do rapaz e a fechou:

-Guarde com você, te trará boa sorte, é um presente de agradecimento, pela sua gentileza meu filho...

-Não posso...-os olhos do homem brilhavam de sinceridade- certo, muito obrigado.

Saiu comovido, com a lembrança dos olhos brilhantes do senhor idoso, e um presente simbólico nas mãos, mas o que ofuscava a pureza daquele dia, era o misterioso altar, que a partir daquele dia sempre aparecia em algum sonho macabro.

Naquele mesmo dia, quando viu sua namorada, esta o olhou de um modo diferente, parecia assustada:

-Você esta diferente amor...

A partir daquele momento começou a tratá-lo com mais confiança, seu ciúme se tornou controlado e sempre o elogiava e dizia coisas construtivas, naquele mesmo mês ficaram noivos, pois parecia que finalmente podia se imaginar vivendo ao lado dela.

Os amigos, ao ficarem sabendo do noivado mudaram de atitude, alguns até tomaram jeito e começaram a levar mais a sérios seus relacionamentos. Seu chefe, que vivia jogando indiretas sobre sua competência questionável, passou a ver seu potencial e foi promovido, e isso em menos de um mês. Sua mãe, seu ultimo carma, conheceu um homem e passou a se vestir melhor, se sentir mais valorizada e a depressão que carregava seus olhos de amargura e desespero, deu lugar a uma vontade de viver e parecia almejar inclusive vários netinhos.

A onda de sorte veio sobre ele, trouxe no entanto algo de negativo: os pesadelos. Perdeu o sossego de dormir, sonhava com o maldito altar na casa do velho, em uma destas madrugadas, acordou de sobressalto, quase acertando um golpe em sua namorada que dormia serena a seu lado, lembrou do presente do idoso. Ao pegar no porta níquel, que ficava junto à chave do carro, notou que a pedra, antes verde, se tornara pouco a pouco negra, e isto o angustiou como um mal pressagio de tal modo que não dormiu mais aquela noite e começou a tentar encontrar algum modo de descobri o que estava acontecendo.

Foi ate a casa que deixara aquele senhor a pouco mais de um mês, a casa estava abandonada, fechada, com uma tabua isolando a porta, e um cadeado gigantesco trancado por fora no portão. Ficou parado alguns minutos olhando para aquela casa, que só agora notara o ar de mistério que tinha. Entre janelas pequenas, um jardim de folhagens escuras, portas com vitrais, e uma fonte verde de musgo. Um arrepio na nuca fez sua determinação em resolver se desvanecer em uma angustia mortal, sentia medo, algo próximo do pavor, pois era tudo estranho demais.

Voltou para casa, sua namorada tinha preparado macarrão, pois era sexta-feira e ela costumava ir para ficar o fim de semana direto com ele, ficou feliz que ela estivesse ali com ele.

Depois de comerem, foram para o quarto ouvir musica, passaram algum tempos conversando, até que o desejo foi fazendo os corpos se aquecerem e logo estava entre murmúrio de puro prazer. Mas em meio aquele delicioso momento foi surpreendido ao olhar para o espelho do quarto, o rosto do idoso. Saiu depressa da cama, derrubando o abajur no chão e deixando sua namorada atônita, tentou explicar, mas ela o olhava sem acreditar em tamanha loucura. Mas alguns instantes depois os espelho se rachou de alto a baixo, assustando-a de modo que soltou um grito estridente e se enrolou no lençol, este fato foi seguido de varios objetos se quebrando, como jarros, copos, e apavorado ele simplesmente puxou a namorada para os braços rumo a garagem, no caminho foi vestindo a calça, e ela colocando um vestido e o casaco por cima. Dentro do carro se abraçaram, ele tentou explicar o que acontecia, mas os vidros do carro ficaram todos embaçados de repente, e palavras sem sentido foram sendo escritas. Ele então abriu o porta níquel, que pendia da chave do carro com pavor, dentro, o cordão não mais trazia uma pedra, mas um olhos humanos que piscava incessantemente, com um grito de pavor atirou longe, mas a mão a que tocara em tal aberração começara a sucumbir, como se atrofiando, em gritos estridentes sucumbiu até a morte, e a moça, que não entendia coisa alguma, foi internada no dia seguinte no manicômio da cidade, contando uma historia absurda e segurando um cordãozinho ensebado que jurava ter trazido pendente antes um olho....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 29/10/2009
Reeditado em 16/01/2010
Código do texto: T1894900
Classificação de conteúdo: seguro