O Negociador de Vidas

Encontrei Maria Cláudia, na noite de Natal, bebendo sozinha no botequim. Ela devia ter outro nome, provavelmente, mas esse era o nome com que ela havia se apresentado. O meu, pelo menos para ela, era Antônia. Atravessei a rua e entrei no recinto. O pequeno bar não estava vazio: algumas pessoas coversavam aqui e ali, bebendo e tendo sua ceia de Natal naquela espelunca.

Ela me conheceu num instante. Achei meio estranho, visto que nunca havíamos nos encontrado. Ela dissera que eu saberia quem era, porque estaria usando um broche em forma de rosa. Essa era a marca da Rosa Negra, a assassina de aluguel sem piedade. Essa era a vantagem de nascer ou conhecer um município pequeno, desconhecido e inexistente nos maspas.

Sentei-me à mesa, pedi uma bebida e lhe entreguei um pacote pardo. Dentro dele estavam algumas fotos e informações pessoais de quem eu queria que ela matasse e metade do pagamento exigido por ela. Ela abriu o pacote, conferiu o conteúdo e assentiu. Concordei com um aceno de cabeça, tomei um gole da bebida e me levantei para ir embora.

— Lembre-se: atendo quem paga bem. — Ela piscou, sorrindo com a maldade brilhante nos olhos. Virei-me exaltada para fora e continuei.

A rua estava completamente vazia e cheia de escuridão, alumiada somente pela pouca luz que escapava através das janelas das casas que se fartavam com a ceia. Tudo parecia estranhamente calmo. Parecia que alguém me observava. Respirei fundo. Tinha que parar com essa paranóia. Com certeza devia ser minha consciência. Inspirei novamente e me voltei para a direção dos táxis que ficavam próximos ao botequim.

Depois de alguns passos, meu pesadelo se realizou. Dois homens engravatados ladearam-me. Em poucos segundos já tinham-me sob controle e, sem muito esforço, me atiraram contra um carro que aparecera de repente e cruzava a rua em alta velocidade.

Voei para trás do Monza negro que me atropelara. Não conseguia me mover. Devia ter quebrado alguma coisa. Ou todas as coisas, melhor dizendo. O carro freou e, antes dele engatar ré e tentar passar por cima de mim novamente, pude vislumbrar Maria Cláudia sorrindo perversa, se perdendo no meio das pessoas que saíam de suas casas curiosas para saberem o que estava acontecendo.

Nesse momento entendi o que havia ocorrido: ela atendia quem pagava bem e, com certeza, o desgraçado do meu marido devia ter pagado o dobro ou o triplo a ela. Ela nogociava vidas e eu perdi. Dessa vez.

Tiaggio
Enviado por Tiaggio em 23/01/2010
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T2046370
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.