Venezianas Verdes, Cap. 2

O amanhã era hoje, domingo. Acordaram tarde. Às 11 Bernadete ligava para Eulália, para lhe dizer que o vestido ficara um pouco folgado.

- Acho que mais na cintura, mas você é quem vai dizer.

- Vem até aqui amanhã. Se não se importar, prefiro que seja à tarde.

Por volta de uma e trinta, após terem almoçado, ouve-se a campainha. Bernadete já sabia tratar-se de Amaury.

- Pô, nem depois do casamento da filha, ainda há pouco, o cara desiste de ir pro jogo?, disse baixinho pra Juliano, ainda no quarto, pra que não fosse ouvida.

Enquanto fazia a pergunta ao marido, Bernadete pensava no que iria fazer sozinha em casa até às oito quando os dois regressassem do Maracanã. Achou incrível que Eulália fosse a recorrência imediata. Mas sabia que a costureira costumava sair aos domingos. Depois viu que nada haveria de estranho em recorrer à Eulália, já que não era grande o seu círculo de amizades. A ausência de filhos concorre também para isso.

Ler um livro até ficar com sono, acordar depois e pensar na vida. Ou procurar na Net alguma coisa que compensasse os monótonos programas de domingo da TV aberta. Se não encontrasse, divertir-se forçadamente com as besteiras que algum artista da novela das nove dissesse nesses programas de domingo à tarde. Que só acabam no início da noite. Hora em que Juliano já deveria estar de volta.

Ela com 33 e ele com 39, Bernadete e Juliano até que tinham uma vida que poderia ser considerada normal. Não costumava haver muitas altercações entre o casal. Vida sexual equilibrada. Exigências neste aspecto não muito flagrantes, o que talvez tivesse levado o casal a se acomodar com o fato de não ter filhos. Não havia maiores indícios de que Juliano tivesse um relacionamento fora de casa. O que era previsível, já que fazia parte do que aprendemos a esperar de um homem casado. Só não se espera, ainda, o que possa vir da mulher. Não quero nem pensar no que faria se soubesse que ele tem outra. É preferível não saber de nada.

Bernadete julgava-se tranqüila com a vida que tinha. Juliano não a perturbava. Não fizera pressão para que ela disputasse o mercado de trabalho numa clínica ortopédica qualquer. Ou que arranjasse em casa um espaço para atendimentos fisioterápicos particulares, fazendo jus ao que havia cursado há sete anos na faculdade, quando se conheceram. Ela sabia, no entanto, que teria a aprovação dele, se decidisse agora dedicar-se à fisioterapia como forma de ter o que fazer. Como analista de sistemas de uma multinacional, Juliano tinha uma renda que permitia ao casal uma vida discreta, se não fosse confortável, sem grandes atropelos.

- Foi a garota que casou. Não foi ele. A essa hora já devem estar na Costa do Sauípe.

- Sauípe?! Hummmm... que chique!

- Não é que quase rimou?, ironizou Juliano, saindo do quarto para abrir a porta da sala.

- A que horas o senhor pretende chegar?

- 8:30, tá bom?

- Vamos ver, hein! É só jogo mesmo?

- Não, tem uma loura depois, respondeu Juliano, já abrindo a porta.

- Vê se traz uma pra mim. Estamos sem cerveja aqui em casa, disse Bernadete pro marido, cumprimentando Amaury na porta com um sorriso.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/01/2010
Código do texto: T2048999
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.