Venezianas Verdes, Cap. 5

- E aí, cara. Já deu conta da Smith & Sons?

- Porra nenhuma. Os caras têm escritórios de representação em todo lugar! Uma puta folha de empregados. Estou tentando consolidar o banco de dados administrativo para depois estabelecer uma correlação com os diversos setores de produção.

- Quer alguma ajuda?

- Não precisa. Até às seis estou com este programa pronto.

- Ah, ia me esquecendo, Juliano: a Zuleika te ligou de manhã. Lá pelas dez. Você estava na sala do chefe. Tá cum tudo, hein, cara. Mulher te ligando logo na segunda pela manhã.

- Obrigado, Herval. Deve ser pra saber se fiquei em casa no fim de semana, brincou Juliano, ao mesmo tempo esperando que Herval não se estendesse muito na informação.

Vinha tentando desvencilhar-se de Zuleika, com quem mantinha uma relação que já durava perto de sete meses. Temia que de alguma forma Bernadete pudesse ficar sabendo. E esse cara ainda falando alto por aí. As palavras atravessam as paredes e chegam aonde a gente nem imagina. Não saio com ela tem quase quinze dias. Deve estar querendo me dizer que não saímos há bastante tempo. Antes de terminar esse programa, ligo pra ela daqui a pouco e marco pras seis. Depois dessa saída vou ver se consigo esfriar ainda mais esse negócio.

De fato Juliano não tinha motivos para manter um relacionamento fora de casa por muito tempo. Dava-se bem com Bernadete. Inclusive na cama. Embora, é claro, com pouco mais de dez anos de casados as performances não pudessem ser exatamente as mesmas. Contudo, não havia porque suportar o desconforto de a mulher considerar-se enganada por ele. Não se sentiria bem se fosse acusado de lhe trair a confiança.

Ainda mais agora que Bernadete mostrava-se interessada em trabalhar como fisioterapeuta. Sempre foi favorável a que a esposa tivesse uma ocupação fora do lar, diminuindo as chances de se fossilizar mais rapidamente com as rotineiras tarefas de casa. Fazer novas amizades, trocar experiências com amigas, ter as próprias avaliações a respeito da vida conjugal de outras pessoas. Ou, na pior das hipóteses, fazer jus ao que tinha estudado na faculdade. Além de ela poder contar com o seu próprio dinheiro, deixando de ficar totalmente dependente do marido.

Zuleika vinha se mostrando algo inconveniente. Chegara inclusive a lhe ligar em casa, para o telefone fixo, que ela descobrira não se sabe como. O que ele recomendara tanto que não fizesse. Talvez tivesse mexido no celular dele. Via agora as quatro ligações dela feitas pela manhã. Dr. Raul preferia que não falassem ao celular quando estivessem reunidos com ele. O chefe podia, é claro.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 28/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
Código do texto: T2055146
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