Venezianas Verdes, Cap. 7

Zuleika tinha ido ao banheiro. Juliano ficara na cama, apenas de cueca, detendo-se na decoração das paredes do Le Androgynie, que apesar do nome não era um motel que se destinasse apenas a parceiros homossexuais. Sem ligar para o filme erótico na TV, intrigava-se com a tonalidade lilás e mostarda da parede em que se achava a porta do banheiro. Nesta aparecia a figura de uma mulher, numa lingerie transparente, oferecendo uma rosa a uma pessoa invisível, porque a imagem distorcida não permitia que se visse a outra figura. Tudo de um péssimo gosto – lilás com mostarda e rosa – para as suas convicções artísticas.

Zuleika demorara-se um pouco mais no banheiro. Retornava agora com um riso diferente. Com os olhos meio avermelhados, no rosto a aparência de algum transtorno era também favorecida pelos cabelos em desalinho sobre a testa.

- O que houve? Passou algum terremoto?

- Nada. Estava apenas fumando. Por isso mantive a porta fechada, respondeu Zuleika, procurando evitar os olhos de Juliano.

- Quantos cigarros? Levou tanto tempo.

- Só um doiszinho, rapidamente. Ihhh..., mas tanta pergunta!

- Tudo bem, Zu. Tudo bem que você ainda esteja nessa de dar doiszinho. Foi só isso?

- Foi, por que? Quer também? Não se faça de rogado.

- Nada contra, mas não me amarro, você sabe.

- Garoto bem comportado. Não faz coisa feia, pilheriou Zuleika. Tudo sob controle. Nada de excessos. Não foi você mesmo que disse que se souber usar não tem grilo?

- E você tem sabido usar essas coisas?

- Ah, deixa disso, Ju. Fiz só pra incrementar o clima. Mostra logo esse pau que quero mamar. Leitinho pra mamãe, vem, falou Zuleika, movimentando-se rapidamente na direção do amante na tentativa de abocanhar-lhe o membro ainda sob a cueca.

- Calma, menina. Hummm... coisa bonita e dengosa...

Juliano livrou-se da cueca e se deixou tomar pela boca quente de Zuleika, o que sempre lhe atraia. Ficou quietinho. Enquanto ela sem pressa sorvia. De olhos abertos não tinha qualquer interesse em saber se o ambiente poderia ser beneficiado por uma combinação entre as cores lilás e mostarda. Preocupava-se apenas em não ejacular, porque poderia depois demorar um pouco pra conseguir de novo. Ou até não conseguir. Embora soubesse que era uma das predileções da namorada.

As mãos acariciavam os cabelos castanhos de Zuleika, não sendo necessária qualquer pressão no sentido de que fosse mantida a cabeça dela naquela posição. Depois de algum tempo, ambos deitados, sentiu certa umidade no pescoço da companheira. O que achou estranho, porque o ar condicionado estava ligado. Logo em seguida, a cabeça de Zuleika pendeu para o lado e ela aparentemente desfaleceu.

No início Juliano achou que ela tivesse querido descansar e ficou pensando no que lhe dizer. Depois, vendo que ela não se recobrava, percebeu que o braço que havia deixado sobre sua coxa tornara-se algo frio.

- Zu, Zuleika, você dormiu?, perguntou, procurando sentar-se na cama para vê-la melhor.

Como não obteve resposta, resolver aproximar-se de seu rosto para sentir-lhe a respiração. Nada sentiu. Levando a mão à sua testa, constatou que a mulher estava agora terrivelmente fria. Assustou-se.

- Zuleika! Zuleika! Ah, meu Deus. Será que desmaiou... apenas?

Tomando-lhe finalmente o pulso frio, sem que nada sentisse também, temeu que ela tivesse morrido. Sensação de pânico. Não conseguia ordenar os pensamentos. Correu até ao banheiro. Achou o isqueiro que ela tinha usado. Acendeu-o perto de sua mão. Ela não deu sinal de vida. Empurrou-a para um lado, pro outro. Tomou-a nos braços. Ela cada vez mais fria. E pesada. Não havia dúvidas. Estava com um cadáver na cama. 28 anos. Nova, dois filhos. Onde andaria o marido? Pânico. Não sabia por onde começar.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 29/01/2010
Código do texto: T2058282
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