Venezianas Verdes, Cap. 16

A rua continuava esburacada. Mas pelo menos não havia troncos de árvores ou pedregulhos impedindo o tráfego de veículos. O bairro do Encantado havia sido desencantado pelos políticos. Que não tinham resolvido os problemas de drenagem e recuperação do pavimento das ruas e muito menos os de segurança. No tempo em que o bonde fazia a volta em frente à estação da Piedade, a próxima depois do Encantado, a situação não era assim. Era um rodo romântico. A violência quase que não existia. Juliano havia pegado o finzinho disso.

Trafegava devagar com os faróis baixos. As duas mãos no volante. As regras de hoje. Estacionou antes de chegar à esquina onde conversavam alguns rapazes. Dali poderia andar os 150 metros que restavam até à casa onde crescera e onde continuava morando sua mãe. Não convinha passar pela rapaziada de carro. Embora ele tivesse crescido com a maioria deles. Pelo menos deu pra ver o cabo dourado de uma pistola na cintura de um dos rapazes que não fechara a camisa direito.

Juliano sabia que ainda gozava de algum respeito junto ao pessoal pelo impecável futsal que praticara com os meninos. Futebol de salão, quando era um deles. Mas tinha conhecimento também de que tudo mudara. Como tudo muda sempre.

- E aí, Julinho? Como é que tá, rapá?, perguntou Leporace, o negro mais alto do grupo quando Juliano chegou mais perto.

- Tudo direito, Lepô, respondeu Juliano, procurando mostrar-se desinibido.

- Veio ver a mama? D. Ondina tá lá, numa boa. Com nóis na fita, tudo fica legal.

- Sei disso, Lepô. Obrigado.

- Valeu. Mas, aí, vai lá, fica à vontade.

- Talvez eu more um pouco com a mãe. Até ver como é que fica.

- Pintano a casa ou ela pegou fogo?

- Nada disso. Foi a mulher mesmo.

- Iiiih, iiiih, ah, ah, ah. Botaram você pra correr, mano?

- Sabe como é. Casal que não briga não é casal.

- Certo, mermão! Tudo bem. A casa é sua, num é?

Quando chegou à casa onde morara, Juliano percebeu que a porta achava-se encostada, como sempre ficava durante o dia nos seus tempos de criança. Agora mamãe só fecha quando a polícia está na área. Engraçado, aí é que pinta a insegurança. Mas veio até a calhar. Ficar escondido por aqui, como sugeriu a Bernadete. Com ameaças não se brinca. Se a polícia não aparecer nesse período, vou ter a maior segurança do mundo.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 08/02/2010
Código do texto: T2076137
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