Venezianas Verdes, Cap. 18

Juliano não estava preocupado em chegar cedo no escritório. Não adiantaria ficar temeroso, mas era preciso tomar certos cuidados. Não avisaria à polícia. Tinha combinado com Bernadete no dia anterior na rápida conversa que tiveram pelo telefone. Nunca se sabe de que lado eles estão. Ela não lhe disse aonde estava e ele também achou melhor não lhe perguntar. Sabia apenas que não estava em casa, pois falaram-se pelo celular.

Como a mulher, não tinha também com quem se aconselhar. Talvez o Amaury. Iria pedir, isso sim, uma semana ao Dr. Raul.

Tudo normal no hall dos elevadores no prédio da empresa. Nada de olhares curiosos. Tudo também de costume ao passar por Nilcéia.

- O Dr. Raul já está aí!

Colocou o laptop na sua mesa de trabalho, depois de cumprimentar os dois rapazes que havia treinado, e foi direto ao escritório do chefe. No caminho encontrou-se com Herval, que o cumprimentou com um sorriso amistoso.

- E aí, cara? Tudo bem?

- Tudo. E você?

- Na mesma. Num correr-corre, como sempre. E a poeira, baixou?

- Tá baixando. Herval, antes que eu me esqueça, por acaso você ficou com aquele jornal do Seu Ary?

- Fiquei, sim. Ele falou que já tinha lido. Aliás, ninguém comentou nada, héin!

- Tá cuntigo aí?

- Vou pegá-lo lá na minha mesa.

- Você leva pro escritório do Dr. Raul? Tô indo pra lá.

- Jóia. Pode ir pra lá.

Até que fora fácil obter a permissão do chefe. Dr. Raul autorizou o afastamento de Juliano por uma ou mesmo duas semanas, se fosse necessário. Até porque, no seu entendimento, tratava-se de uma causa justa. Além do mais, grande parte do serviço poderia ser feito em casa, ficando Juliano apenas sem visitar os clientes. O que já era feito pelos analistas juniores.

Ficar na comunidade da mamãe por 10 ou 12 dias vai ser até legal. Estarei plenamente seguro. E se os caras descobrirem que estou por lá, melhor. Talvez me respeitem mais. Mesmo que seja um policial que o marido dela tenha contratado para a empreitada.

Seria preciso saber se os telefonemas ameaçadores continuariam. Mas só Bernadete pode ter essa informação. Será melhor que ela também não fique muito em casa. Se custarem a me encontrar, pode ser que ela corra risco. Essa noite deve ter dormido na casa da costureira, a única pessoa que poderia procurar numa emergência. Ótimo. Naquela casa, com as venezianas sempre fechadas, parece que nunca tem ninguém.

Juliano foi interrompido em suas divagações pelo toque do celular. Ao atender, esperou que a voz do outro lado falasse.

- Sou eu, Juliano.

- Ah... Berna. Tudo bem? Está em casa?, perguntou Juliano, percebendo que Bernadete falava do telefone fixo.

- Sim. Vim apanhar algumas roupas. Estou bem. Não se preocupe. Não ligue pra ninguém sobre o ocorrido. Evite ligar pra mim. Houve mais duas ligações pela manhã. Nos falamos depois.

Bernadete desligou sem esperar pelo que ele fosse dizer. Juliano entendeu o motivo. Não se deve falar muita coisa pelo celular.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 10/02/2010
Código do texto: T2079252
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