Venezianas Verdes, Cap. 26

O carro era mais luxuoso do que ela imaginara. Quando o vira pela primeira vez, após ter comprado o pão na pracinha no final de domingo. Os dois homens, como imaginava, eram os mesmos que ela avistou da calçada – o louro de estatura mediana e o moreno alto. Que ela ficou sabendo chamarem-se Magno e Rafael, respectivamente, quando foi a eles apresentada como amiga de Eulália. Eram muito atenciosos e delicados com Eulália, sobretudo Rafael, que só a tratava por senhora. Não economizaram gentilezas também em relação a ela. O que fazia com que se sentisse às vezes como um peixe fora d’água, face ao laço forte que Bernadete percebia entre os três, a despeito do respeito e da distância observados no que se referia a Eulália.

O carro possuía dois aparelhos de DVD, um para o motorista e o seu acompanhante e outro para os passageiros no banco de trás. Havia um vidro, provavelmente revestido com película que o tornava opaco, dividindo os dois ambientes. O que dava maior privacidade aos ocupantes do banco de trás. Bernadete estava fascinada com tudo isso. Já havia reparado na bolsa de couro alinhadíssima de Eulália. Só podia ser uma legítima Louis Vuitton. Notara também, antes de terem sido colocados na mala do carro, cinco volumes iguais – caixas com talvez quarenta centímetros de lado, revestidas duplamente com papel pardo. Além das duas malas pequenas de Eulália, uma das quais praticamente com pertences seus. Isso tudo só para um fim de semana? Depois lembrou-se de que Eulália viajava a negócios. Seriam tecidos? Sobre as caixas, num momento de distração de Magno e Rafael, conseguiu rapidamente se ater à inscrição “corpo diplomático”, sob a forma de um grande carimbo, logo a baixo do que poderiam ser as insígnias de um país que não pode identificar. Mas que deveriam se referir ao Panamá. Não estava entendendo nada. Também não havia o que entender.

O vôo durara sete horas e meia. O que não foi absolutamente percebido por Bernadete. Não tinha idéia da extensão do conforto e atenção à disposição dos passageiros da Primeira Classe. Praticamente tudo o que desejassem, em termos do que comer ou beber, e até vários tipos de remédios, estava à disposição daqueles passageiros especiais a qualquer hora. E seria consumido em poltronas super-confortáveis, daquelas em que se pode estender efetivamente todo o corpo. Todo tipo de bebida cara que se pudesse imaginar, até se chegar aos refrigerantes e água mineral. Aliás, ela já tinha tido uma amostra na sala VIP em que permaneceram antes de embarcar. Face à largura das poltronas, os ocupantes, sempre em pares, gozavam de maior privacidade. Do que se valeram as duas para dormirem de mãos dadas após quase se excederam em prolongadas carícias. Que, parecendo estar combinado, ninguém notava ou fingia notar.

Do aeroporto ao Grande Hotel Panamá não levaram mais que trinta minutos. Também num carro luxuoso que os estava aguardando. Bernadete só então se dando conta de que não soubera onde tinha ficado o automóvel que os levara até ao aeroporto de partida.

Magno e Rafael seguiam as duas num táxi comum. O veículo em que elas estavam devia ser um táxi especial, uma espécie de limousine. Com um mini-frigobar, duas garrafas de vinho e copos para os ocupantes do banco de trás. Bernadete observou que o motorista trajava um terno elegante e que se dirigia a Eulália apenas para o essencial, fazendo-o no idioma espanhol. As respostas de Eulália na mesma língua indicavam a sua perfeita compreensão do idioma.

As reservas já estavam feitas. Os quatro estavam sendo esperados e não tiveram que se demorar na recepção. Bernadete não viu razão para se preocupar com a bagagem do grupo, que deveria ser objeto da atenção e presteza dos ajudantes de Eulália. Ou seriam pessoas da sua segurança pessoal? O que era justificável, por tudo o que se tinha visto de caro e luxuoso até ali.

O quarto reservado para ela e Eulália era imenso. Bernadete imaginou que sua área deveria ser igual à dos seus dois quartos mais a da sala em sua casa. Uns 70m2. Dispunha de uma ante-sala e de um closet espaçosos. Na suíte propriamente dita certamente caberiam os dois quartos que ela tinha em sua casa. Nunca imaginou que pudesse existir num hotel um aposento com aquele tamanho.

- Pode dar uma olhada. É grande mesmo, observou Eulália, notando a perplexidade de Bernadete e dando a entender que já se hospedara ali.

- Nossa! Dá pra uma família com dez pessoas aqui dentro.

- É verdade. Mas nunca vem isso tudo. É a suíte presidencial, informou Eulália num tom de voz que diminuía a importância do que falava.

A suíte presidencial dispunha ainda de um elevador privativo, cuja porta só abria em cada andar com chave magnética. Era uma segunda entrada. Por ele acessava-se diretamente o quarto propriamente dito da suíte, o que se podia fazer normalmente pela porta social no corredor dos apartamentos. Isso favorecia uma eventual saída furtiva do hóspede que não desejasse receber determinado visitante.

Da ante-sala, por onde entraram, Bernadete dirigiu-se ao closet, onde já estavam as bagagens e as caixas revestidas em papel pardo. No quarto, além das paredes espelhadas e a iluminação embutida na sanca nas laterais do teto, elementos que mais chamaram a sua atenção, Bernadete observou a cama king size em que deveriam dormir. Que poderia ser ocupada por dois casais. Preso à parede, sobre um móvel baixo em frente ao pé da cama, um televisor de 65”. Ao lado de cada uma das janelas, ladeando a cabeceira da cama, uma escrivaninha para cada um dos ocupantes do aposento, com utensílios básicos de escritório.

No banheiro da suíte, uma verdadeira sala de banhos, destacavam-se a banheira de hidromassagem e o lavatório, ocupando a lateral da longa bancada em mármore róseo. Todas as ferragens eram douradas e encontravam-se devidamente polidas. Felpudas toalhas de rosto e banho, na cor azul turquesa, em número superior a quatro de cada tipo, completavam a decoração do ambiente

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 20/02/2010
Reeditado em 20/02/2010
Código do texto: T2097393
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