Venezianas Verdes, Cap. 37

A bola de frescobol foi esconder-se entre as rodas de um Chevette estacionado numa das ruas transversais à orla, no Leblon. Marcelinho, que vinha com a mãe pela calçada, procurando mostrar-se esperto, largou a mão da mãe e foi correndo recuperar a bolinha. Depois de algum tempo, a mãe perguntou:

- Achou a bolinha, Marcelinho?

- Está aqui, ele respondeu, mostrando-lhe a bola e a mão suja de sangue.

- O quê foi isso, meu filho? Machucou-se naquele carro velho?

- Não sei. Não tá doendo nada!

Agachando-se um pouco, a mãe aproximou-se da traseira do veículo, onde Marcelinho tinha se abaixado, e percebeu sem dificuldade que uma poça de sangue iria se formar no asfalto pelas gotas que vagarosamente caiam do carro. Notou que a tampa da mala, enferrujada e sem fechadura, estava apenas encostada. Entendeu tudo.

Limpou cuidadosamente a mão de Marcelinho com a tolha de praia que haviam levado. Não iria falar nada. Mas teve que atravessar a rua para alcançar o seu carro. Não conseguiu passar incólume pelo guarda municipal que orientava o tráfego. Timidamente fez apenas um sinal para ele, indicando a mala do Chevette aparentemente abandonado a alguns metros da travessia.

Na mala do carro havia o corpo de um homem sem a cabeça, que parecia estar enrolada em um plástico preto no fundo do compartimento. Sobre a possível cabeça do corpo via-se uma placa de rua enferrujada onde se lia Baroneza de Uruguaiana, um logradouro situado no Engenho Novo.

Na manhã do dia seguinte, enquanto a mãe de Marcelinho procurava no jornal alguma matéria sobre o corpo que não quis ver dentro daquele Chevette velho, Percival preparava-se para visitar os Lençóis Maranhenses. Mais uma vez agradeceu ao cunhado o jornal do Rio que ele sempre trazia para darem uma olhada durante o café da manhã. Nele deteve-se numa das notícias da primeira página. Dizia tratar-se do policial José Celso Rodriguez Spineli, lotado numa das delegacias da Zona Norte, a cabeça e o corpo do homem encontrado no dia anterior na mala de um carro numa das ruas do Leblon.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 03/03/2010
Código do texto: T2117178
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