O ANJO DA VINGANÇA

Era o dia vinte sete de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e três, por volta das 20:00 horas , estava eu deitada em meu quarto do alto do décimo sexto andar de um edifício de uma ruazinha pitoresca, de onde tenho uma vista privilegiada.

Eu havia acabado de terminar um relacionamento de quase quatro anos. Completamente deprimida chorava feito uma criança que pede o colo da mãe. As lágrimas chegavam a molhar o travesseiro.

Em um momento de desespero fui em direção à janela e pensei em jogar-me de lá de cima, cheguei a subir e pôr os pés para o lado de fora, “ainda posso sentir o vento uivando em meus ouvidos”, e tomar impulso para a queda que seria minha salvação.

De repente um pássaro passou tão veloz frente aos meus olhos, que meus pensamentos como em um passo de lágrimas, sumiram. Por alguns instantes fiquei fora de mim e pude ver um futuro distante.

Futuro onde eu estava em pé ao lado de um caixão grandioso, cheio de rosas vermelhas, e deste caixão caía litros e litros de sangue, que subiam pelas minhas pernas que presas ao chão não conseguiam se movimentar.

Em um piscar de olhos pude acordar e ao me ver pendurada na janela, foi como se uma mão me empurrasse, caí de costas para o lado de dentro do quarto.

Ainda fiquei deitada no chão frio por algumas horas. No chão dormi e só fui acordar na tarde do dia seguinte.

Levantei e fui tomar um banho gelado. Terminado o banho sentei na beira da cama e a imagem daquele pássaro me vinha nos olhos tão claramente que se eu suspendesse meus braços poderia segurá-lo com uma das mãos. Cheguei a pensar que pudesse ser um anjo.

Do nada me ocorreu um pensamento, que me fez trocar a roupa, descer as escadas do prédio, tomar um táxi e seguir para uma rua quase deserta, um beco, onde havia um bar que era vigiado por cinco homens fortemente armados.

Desci do táxi, disse ao motorista para que seguisse sozinho. Entrei no bar disse ao atendente o que queria.

Ele me entregou o pedido e eu paguei-o. Coloquei o objeto na cintura e saí abraçando minha própria cintura.

Segui para o ponto de ônibus, parecia que todos ali sabiam o que carregava comigo.

Entrei no ônibus comecei a me sentir mal, suava e sentia muito frio e na barriga algo se mexia insistentemente, não suportei aquele ambiente, briguei para que o motorista parasse ônibus e desci.

Caminhei por volta de cinco minutos até chegar em uma casa toda branca com rosas vermelhas no quintal. Entrei pelo portão que estava aberto e fui em direção à porta da frente.

Bati, e aquele que me magoou no dia anterior veio me atender, abriu a porta já dizendo para eu voltar de onde havia saído.

Chorando pedi para que ele voltasse pra mim, ajoelhei e implorei seu amor, e ele estúpido, disse que não voltaria de forma alguma, que tinha encontrado alguém melhor para dedicar seu amor.

Neste instante o pássaro passou entre nós dois, ele se assustou dando três passos para trás. Eu fiquei firme no lugar pus as mãos na cintura e pedi pela última vez para que ele me aceitasse.

Mais um não saiu da sua boca. Sem pensar peguei a arma que carregava entre o cinto a calça, apontei para seu peito, ele se assustou novamente, fechei os olhos e disparei uma única vez.

Ele caiu, eu corri para a rua que estava vazia no momento. Guardei a solução do meu problema na cintura novamente, caminhei até em casa como se nada tivesse acontecido.

Cheguei no prédio onde morava, subi os dezesseis andares pelas escadas, entrei no quarto, joguei a arma na cama, enchi a banheira para me lavar, o sangue dele havia pingado em mim.

Estava dentro da banheira fechei os olhos e quando abri, estava mergulhada no mais puro sangue que escorria pelo chão, levantei correndo e fui para o chuveiro que também derramava sangue.

Chorando fui para cama que estava coberta de rosas vermelhas, daí do quarto nua, desci as escadas e ganhei a rua.

Ainda hoje continuo nas ruas e toda vez que bebo água sinto gosto de sangue.

Já faz vinte anos e eu continuo a ver o pássaro, mas ele não mais passa em minha frente, agora ele vem em minha direção e parece que sorri.

Estou jogada nas ruas, não sou a sombra do que fui um dia e hoje o álcool para esquecer é minha única companhia.

Roberta Krev
Enviado por Roberta Krev em 06/05/2010
Reeditado em 23/08/2013
Código do texto: T2240934
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