Momento de devaneio

Entre o vento frio e a dor de sua alma, não poderia escolher, pois só sabia que tinha que sumir dali. Aquela cena, aquele beijo, aquela traição descarada, acessível a quem por ali passasse, as juras de amor perderam o sentido, os planos perderam a cor, só não chorava pois de tamanho choque não conseguia sequer uma resposta aliviante como aquela, a de se desfazer em lagrimas.

Caminhou sozinha, talvez pegasse um taxi, nave espacial, ou um avião para o Alaska, sabia que queria desmaterializar e surgir muito longe dali. Pegou o celular e mandou apenas uma mensagem: “GAME OVER, Pode ficar com ela...”.

Havia um barzinho de luz tênue, que tinha um ar acolhedor e parecia calmo. Poucas pessoas conversando, todas em tom baixo, a descrição reinava e a angustia ia se tornando consternação, era uma dor que parecia repetir: “Você desconfiava...”, quando o celular tocou, se assustou, era ele, não atendeu, rejeitou a chamada. Ele tentou mais algumas vezes e desistiu. Depois ligam de sua casa dizendo que ele a procurara, ela apenas disse que depois ligaria para ele, a mãe em sua sabedoria adquirida, disse pra ela se cuidar e que a amava muito, coisa que não dizia nunca. Ficou olhando para o celular depois que desligou e sentiu os olhos se encherem de lagrimas.

-Não chore linda, olhe para o futuro cheio de possibilidades...

Levantou os olhos e se deparou com uma figura pitoresca, um rapaz alto, de terno preto, cabelo penteado para trás e uma palidez sórdida. Pegou em sua mãe e beijou:

-Lady, venha comigo e vou te fazer sorrir.

Se deixou levar pois estava morta de certo modo, se tornara um autômato.

Foi levando-a por ruas que não costumava passar, entraram em um prédio antigo que nunca tinha visto, e ao fundo acontecia uma festa, onde fantasiados e mascarados dançavam musicas antigas. As mulheres elegantes e pareciam saídas de um filme de época, e aquilo lhe pareceu uma grande loucura, mas a tirou de sua dor.

Ele a envolveu nos braços sem pedir permissão e dançou, levando-a pelo compasso da musica, mas tudo foi tomando uma forma alucinada, pessoas voando sem corda, tirando a roupa e com outras fantasias por baixo, as luzes acendendo e apagando...

Acordou atônita, estava em uma cama de hospital, com soro na veia, e um aparelho apitando medindo seus batimentos. Olhou ao redor, enquanto sentia muita dor. Sua mãe entrou apavorada:

-Como você esta minha filha!

Ficou olhando para ela, em silencio, não conseguia sequer compreender.

-Você foi atropelada querida, quando saia de um bar, não sei bem como aconteceu, mas disseram que você ficou até delirando.

Parou e tentou se lembrar do que tinha acontecido. Não conseguia pronunciar palavra, sua boca parecia não responder a seus comandos. As mãos também não, somente respirava, e em agonia se perguntou se foi atropelada ao ver a cena triste da traição, ou no segundo bar, em seu devaneio...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 23/05/2010
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