Condenada à loucura: subjugada por uma vingança além....

O quarto gelado do hospital, as mãos amarradas depois de um surto violento. Sabia que não era louca, sabia que seu corpo não passava de um instrumento de espíritos do mau.

Tudo começou quando era criança, brincando de esconde-esconde nas ruínas de uma casa próxima, e encontrou um diário, capa escura, paginas amarelada e letras escritas coma finura de caneta tinteiro. Guardou como relíquia, um tesouro infantil, mas desde o dia que colocou em seu armário, seus sonhos não foram mais calmos. Acordava de sobressalto todas as noites. E sempre seguido do som de uma coruja não muito longe, se arrepiava de pavor, tremia, chorava, e no fundo si se perguntava por que com ela.

Falou com os pais sobre pesadelos, ignoraram dizendo ser normal. Mas começaram a se preocupar no dia em que ouvindo um estrondo, e indo ao quarto dela viram o guarda roupa derrubado no chão (este sendo muitíssimo pesado), e ela em um canto branca de pavor. Não conseguia explicar nada, ficou muda, sem responder a estímulos, nem a dor. Passou algum tempo em avaliação em um hospital psiquiátrico, mas ninguém conseguia explicação para aquilo. Voltou a falar com muito esforço na terapia, mas criara um bloqueio sobre aquele dia, não se lembrava de coisa alguma, era como se houvesse uma lacuna, um vazio.

Passou a tomar remédios para dormir, e a fazer terapia uma vez na semana. Estava sempre cansada, como se carregasse em suas costas o peso do mundo. Um dia, a noite, acordou atordoada, apesar dos remédios, levantou e foi ao banheiro, foi a primeira vez que viu realmente o que a atormentava, ao se olhar no espelho viu um vulto atrás de si, ao olhar para trás atônita não viu nada. Ao olhar novamente pro espelho viu nitidamente uma figura, um homem de cerca de 30 anos olhando fixamente para ela. Saiu correndo, atordoada. Seus pais não estavam em casa, foi para o lado de fora e sentou no banco que ficava do outro lado do quintal, abraçou as pernas e chorou copiosamente. Mas foi surpreendida por passos, e não via ninguém se aproximar, mas no chão podia ver onde os pés se apoiavam, parou em sua frente, e se materializou na figura que vira a pouco. Fechou os olhos, mas foi compelida a abri-los. Ele tocou sua testa e ela viu uma cena horrível, aquele homem sendo morto ali, a machadadas, naquele quintal, na casa que antes havia ali por seu próprio irmão. E ela sentiu dentro de si que ele desejava vingança contra este irmão que ainda estava vivo. Ela não sabia quem nem onde nem como, mas sabia que seria instrumento daquela retaliação.

No hospital, depois de histórico longo, após mais um surto ficou pensando quem seria o irmão daquele espírito que a usava como instrumento, foi surpreendida pela entrada de um medico velho, que beirava seus 70 anos, trazia a prancheta e olhava para ela:

-Lorena, você precisa aumentar as doses, suas crises estão piorando...

Quando se jogou em cima dele, apertando seu pescoço, ate que as forças se extinguiram dos olhos do ancião. Depois teve convulsões, babou, um liquido viscoso saiu de dentro de si, ficou inconsciente por 3 dias em uma espécie de coma. Quando voltou, não se lembrava de muita coisa. Não foi culpabilizada por aquilo pois descobriram que o velho a dopava e abusava dela em sua inconsciência, que ele tinha fotos de tudo isso registrado, inclusive de outras pacientes e que, ela estava tendo reação agressiva a um dos componentes do remédio que ele começou a aplicar nela. Aquilo explicava, cientificamente algumas coisas, mas em sua alma, havia muita coisa sem explicação.

Foi para casa, depois daquela temporada de 8 meses no hospital, entrou em seu quarto, deitou e olhou para o teto, estava livre de certo modo para ir e vir, mas ainda temia que a loucura vinda daquele ser mau voltasse. Ouviu o som de seu guarda roupas sendo aberto, se levantou e viu o diário escorregando para fora de uma das prateleiras. Mal se lembrava dele. Abriu e leu:

“Meu irmão continua me maltratando, acho que ele me odeia, um dia vai ma matar. Mal consigo respirar, ele me acertou com um pedaço de pau muito pesado, meus pulmões doem...(letra machada) sai do lago roxo, quase tinha me afogado, ninguém entendia como eu tinha ido parar lá e ele jurava que só saiu um minuto para pegar galhos (letras escritas muito claras) vi ele matando um gato, depois picou ele, tirou as tripas, foi terrível, ele me assusta, será que fará isto comigo?”

Ia lendo e sentindo os pêlos se arrepiarem, era um monstro!

“Ele esta estranho, calado, está tramando algo (manchas de sangue cobrem uma grande parte) eu estou apavorado, meus pais acham que mesmo quem me corta, não sei se é ele que diz que eu o faço, mas fico sem reação, ele me faz paralisar. Estou muito assustado, quero me esconder dele, me proteger...|”

Tudo era escrito com letras tremulas, apesar de finas e com uma letra bem legível, mas o tempo tinha apagado boa parte daquelas linhas sob chuva e sol naqueles destroços de casa. Daí pôde compreender o ódio, ainda mais que provavelmente via as injustiças que continuava a cometer, sem punição enquanto medico. Não se sentiu parte de uma justiça divina, mas sabia que não seria cobrada pelo que fez. Sua parte naquilo era apenas ter sido fraca demais em algum momento e permitir acesso a ela, mas sabia que assassina não era.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 04/06/2010
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