A FRONTEIRA (parte 1)

Não era exatamente o que eu sonhava para mim quando então decidi ir para os E.U.A, foi um dos dias mais terriveis para mim pois eu estava deixando para trás meus filhos que na época eram crianças. O Hebert com 12, Dalet com 9 e Alef 7 anos.

Só de lembrar disso não me contenho com as lágrimas, sinceramente não queria escrever sobre este episódio da minha vida porém para que esta lição sirva de exemplo a outros e que Deus não permita que se afastem de seus filhos da forma como foi comigo eu resolvi escrever.

Dezembro de 2002, início de ano e iniciava minha nova trajetória, aparentemente tudo bem comigo porém eu sangrava por dentro cada vez que olhava para eles sem ter a coragem de dizer, um erro grande a gente não compartilhar aos filhos certas coisas.

Ainda balançado com a separação da mãe de meus filhos, segui caminho rumo a um destino incerto pois como eu disse, não era meu sonho e não planejava sair outra vez do Brasil. Outrora eu havia acabado de chegar de Portugal com a experiência amarga de ter deixado minha familia pela primeira vez. História essa que se iniciou pelo fato de eu ter me individado e então vi Portugal como uma oportunidade de sanar minha divida e então poder sonhar em prol de melhorias para minha família.

Portugal foi minha primeira experiência fora, embora no Brasil eu sempre tenha trabalhado fora de meu Estado. Porém ainda estava aqui, em solo nacional , minha casa.

É diferente e perfeitamente compreensível quando nós trabalhamos todos os dias, voltamos pra casa no final da tarde e encontramos com a familia para então saber como foi o dia das crianças, da esposa (o), e poder ter o banho, o jantar e o conforto do quarto para relaxar e começar no dia seguinte feliz e realizado por mais um dia ao lado daqueles que voce ama.

Ao contrário de quem sai do Brasil tendo que se adaptar com uma rotina contrária e dolorosa, enfrentando a dor da saudade do convivio com o café da manhã em familia, podendo abençoá-los olhando nos olhos, recebendo o beijo de carinho que eles passam num ato tão gostoso.

Choro de saudades daquele tempo em que estive presente e muitas vezes não fiz corretamente, dai então a gente vê o grande valor e importância que há no cotidiano do abraço, do beijo e das palavras de amor em uma familia. Cotidiano é algo corriqueiro que temos de quebrar com nossa coragem de ir a luta e não deixar a desejar o que é de mais importante que é estar lado a lado de sua familia.

Sobreviver com a ausência da familia é como ter o corpo sem a derme, ter o corpo desprotegido em dias de forte chuvas e frio, é como ter fome e nunca se saciar, é estar num pesadelo e não acordar, doi demais gente, doi demais ...

Eu sabia que havia muito a acontecer em minha trajetória, porém foge às regras quando voce sai de forma ilegal do país. Voce fica nas mãos de pessoas que não estão nem ai com seus sentimentos, uma gente que está visando apenas dinheiro sem dó e nem piedade. Digo isso mencionando os coiotes, desde aqueles que começam a te guiar ainda no Brasil e o pior são aqueles que encontram você do outro lado do mundo, o que para mim foi este sentimento quando se sai do Brasil.

Alfândega a passar e nós já começamos a imaginar coisas negativas, o medo toma conta, a preocupação vem: será que vou passar, será que vou conseguir? Será...

Enfim passado pela alfândega chega a hora de encontrar os policiais corruptos querendo propina para então liberar do aeroporto, uma pressão enorme toma conta de você, ameaçam entregar você para imigração querendo estorquir grana e mais grana.

Minha experiência foi a seguinte: ao me aproximar do policial ele pediu dinheiro porém eu pensei comigo, se eu der vai me fazer falta mais adiante. Então abordado por ele juntamente com mais um grupo de amigos, me levaram ao banheiro e lá me perguntavam onde está o dinheiro, nesse instante fui ousado e disse que não havia dinheiro, a insistência deles fizeram com que meus amigos entregassem a grana, porém eu não cedi a pressão daquele momento.

Cada uma de nós vai com uma certa quantia até chegar no Mexico, esperando assim a liberação de mais dinheiro por parte de outros coiotes coligados com os do Brasil. Uma máfia, algo protagonizado parecido com um filme. Fui para um hotel na cidade do México juntamente com algumas pessoas, nesta hora já não são as mesmas pessoas que estiveram com você desde a sua saída do Brasil, começa então a vir na sua cabeça mil coisas não restando alternativas a não ser aceitar a situação.

A preocupação começa a surgir, o medo aumenta, a insegurança e um conjunto de coisas que mexe com o emocional. Horas sem comer, preocupamos em procurar um restaurante embora no hotel em que fiquei havia, porém a um preço absurdo. Ainda mais que estávamos com pouca grana. Saimos para fora do hotel e fomos a uma lanchonete, chegando lá cada uma pediu segundo o que havia no cardápio com a figura do lanche pois não havia sido orientado que tipo de comida a pedir quando chegássemos no Mexico. Sem muita questão pedi um espécie de misto frio e uma coca cola e cada um dos amigos pediu o que bem agradou aos olhos.

De volta ao hotel, ja havia recado para nós de nosso contato no Brasil, um pequeno alivio para quem estava sem notícias. A orientação foi para saírmos do hotel pois estávamos em endereço errado (risos). Levamos na esportiva, após uma pequena discussão sem saber o que estava havendo fomos a outro lugar e orientados a pegar um vôo para a cidade de Reinoça, de onde ficariamos em uma casa aguardando o momento certo da travessia.

Nunca é da forma como pensamos pois o planejamento de tudo não estava em nossas mãos, dai então o desespero começa a tomar conta, o medo começa a frustrar e com certeza as lágrimas tímidas vinham em meu rosto ao lembrar de casa mais uma vez.

Tudo tem um lado positivo. Conheci um rapaz que já estava na casa havia algumas horas, ao me aproximar me apresentei da mesma forma Ele cordial a mim me apertou a mão. Seu nome é Wemerson e estava na mesma situação que eu, determinado a seguir a travessia aguardando a hora certa de irmos. Nisso ja sabiamos que iamos atravessar juntos com um outro gupo de pessoas.

(...)

Edimar Ferreira
Enviado por Edimar Ferreira em 02/10/2010
Reeditado em 02/10/2010
Código do texto: T2533927