DO OUTRO LADO DA VIDA!
Caminhou apressadamente, naquela manhã ensolarada. Tudo pronto para a esperada festa de suas bodas de prata, à noite. Contratara uma empresa especializada para cuidar de tudo – não queria dor de cabeça, o dia era só dela, para se cuidar e ficar bonita.
Aos 55 anos, ainda bonita, pesava os prós e contras desses vinte e cinco anos de união; o saldo era altamente positivo e agradecia a Deus pela felicidade plena. Sorriu - um sorriso feliz.
O estrondo ensurdecedor penetrou-lhe os ouvidos, forte e rápido, como um tiro de canhão. Não deu tempo para perceber o que acontecia, contudo, a impressão que tivera era de um lapso de tempo, entre o estrondo que ouvira e a calma de agora.
Aquela gente ao seu redor não lhe era totalmente desconhecida. Quis levantar-se, não conseguiu; falhavam-lhe as pernas. Delicadamente, alguém a pegou pelo braço e deitou-a na cama de lençóis brancos e perfumados.
- Alô, com quem estou falando?
- Com Regina, o senhor, quem é?
- Sargento Rubens, policial de trânsito; a senhora é parente de dona Antonieta?
- Sim, sou a filha mais velha; minha mãe não está, foi ao cabeleireiro.
Após alguns minutos de silêncio, do outro lado da linha, ela perguntou:
- Alô, o senhor ainda está aí? Quer deixar algum recado para minha mãe?
Nova pausa; silêncio... Depois de segundos de hesitação ele disse:
- Dona Regina, precisamos da presença de um parente de Dona Antonieta, aqui na Santa Casa de Misericórdia, com urgência!
O silêncio que se fizera agora vinha do outro lado – Regina emudeceu.
- Senhor, o que aconteceu? Caso seja algo que possa adiar, eu prefiro ir mais tarde, estou me preparando para a festa de meus pais e ainda tenho que pegar minha mãe no salão.
- Não, senhora. Não podemos adiar, infelizmente.
- Então fale logo, meu senhor; nada é mais importante do que a festa de hoje das bodas de prata de meus pais.
- Pois não, senhora, mas seja forte. Precisamos de alguém da família aqui no hospital, para reconhecer o corpo de sua mãe. Ela foi atropelada e, infelizmente, não resistiu!