Mobilete.

Estava sentado na varanda de casa olhando pra nada lá fora, ouvindo Joe Cocker, quando de relance vi uma mobilete passar rapidamente na rua. Vinha de uma maneira que notei que iria parar. Passou, pensei, e fiquei a meditar no insano som do Joe, aquele o qual não me lembro o nome, mas é trilha sonora daquele seriado americano, sabe? Pois então, foi assim, pensando em tudo isso e em um pouco mais, que notei que alguém se aproximou do portão, tocando o interfone. Estranho, pensei, hoje é domingo e em domingos quase ninguém toca na casa dos outros por essas bandas empoeiradas...

Era um chapéu, ou melhor, um senhor trajando camisa, calça, botina e chapéu, um senhor atrás de um bigode, lembrando do que me disse um dia Drummond. Um senhor debaixo do chapéu e atrás do bigode...

Simples, de uma simplicidade tão dolorida, que me remontou ao meu querido avozinho...

Fui atender... , meio cabreiro, obviamente...

Disse-me:

“Boa tarde!

Desculpa o contratempo, mas é aqui que mora a Barhouna?

Não.

Sabe aonde é?

Sei. Nesta mesma rua, a sétima casa do lado esquerdo!

Nessa mesma rua?

É.

A sétima casa do lado esquerdo?

É!

Obrigado, senhor, e desculpe o incômodo!”

Ele se foi, mas logo percebi que para o sentido contrário.

Ou, senhor, gritei, é pra lá, apontei para o lado esquerdo.

Ah!, disse, desculpe, o senhor está com a bicicleta parada aí...

Não, tô de mobilete!

Fiquei de queixo caído e chorei em seguida... Por nada...

Savok Onaitsirk, 20.12.09.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 03/11/2010
Código do texto: T2594386
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