O JARDIM DO AMANHÃ - Cap. V e VI

Capítulo V

Abordado

A semana se arrastava vagarosamente causando-me angústia tanto que minha esposa notou e queria saber por que. Inventei uma desculpa de que era o trabalho que me preocupava e ela aceitou sem me questionar mais. A verdade é que eu não conseguia esconder a ância de que chegasse o domingo quando eu iria tentar desvendar os mistérios do Jardim do Amanhã.

Na sexta-feira disse à minha esposa que no domingo iria ao jogo no estádio municipal, não seria um clássico, mas eu gostaria de ir para clarear minhas idéias dos cansaços do trabalho, ela prontamente me incentivou a não deixar de ir.

Finalmente chegou o domingo tão esperado, me arrumei logo depois do almoço, pois o jogo seria às 16:00h. Sai me despedindo da minha esposa e de meu filho que ficou emburrado por eu não querer leva-lo ao jogo comigo. Fiquei com pena do moleque e prometi a mim mesmo que na próxima oportunidade eu o levaria ao campo para assistir a um jogo que fosse interessante.

Fui direto ao Jardim do Amanhã, estava cheio como sempre. Dei umas voltas até ter coragem de levar adiante minhas intenções. Quando senti que não dava mais para adiar, que se não fosse agora não seria nunca mais, tomei fôlego e marchei para a praça da fonte.

Cheguei lá rapidinho e notei do outro lado que o guarda estava na guarita e não estava distraído.

— Droga!! Balbuciei com raiva, teria que ficar de campana até que ele fosse ao banheiro, tomar água ou simplesmente cochilar, afinal estava quente e abafado aquele dia. Era quase quatro horas e eu já não estava suportando a tenção da espera quando vi minhas esperanças renovadas: O guarda cochilava! – Andei rapidamente na direção da guarita pronto para dar uma desculpa caso ele acordasse e me visse aproximar.

Segui sorrateiramente até a guarita, passei por ela procurando não fazer nenhum barulho mais alto que os que se ouvia do parque naquela hora. Passando por ela constatei a negligência de quem estava construindo aquele complexo, a porta continuava destrancada e entrei.

Para diminuir o risco de ser descoberto subi pelas escadas, pois caso houvesse alguém descendo, sempre poderia retornar sem ser visto.

Cheguei até o último andar sem incidentes, fui até o elevador de carga e parei por um instante com o dedo sobre o botão de chamada do elevador sem aciona-lo, a tenção crescendo dentro de mim. O coração acelerado, o suor começando a escorrer as bicas.

Precisava decidir, não poderia ficar ali parado a espera de ser descoberto sem nada ficar sabendo.

Apertei o botão e até cheguei a fechar os olhos como se isso tirasse da minha frente qualquer obstáculo que pudesse haver ao abrir a porta do elevador.

Pelo que parecia o elevador não havia sido usado por mais ninguém depois de mim, isso deduzi pelo fato dele estar parado lá no último andar como eu o havia deixado na semana anterior. Isso me alertou para dobrar a atenção, se, pois não haviam feito nenhum serviço no acabamento do prédio, isso só poderia significar uma coisa: -- Os serviços estavam sendo executados lá em baixo. Torci para que os serviços de montagem do forno crematório lá na primeira parada do elevador só fossem realizados nos dias úteis da semana, por isso não seria nenhum segredo à ninguém.

Quanto à esteira transportadora, se o forno não estava sendo utilizado ainda, ela também não! Então o risco de ter alguém lá no túnel também era reduzido.

A porta se abriu e realmente não havia ninguém o que me acalmou um pouco. Pressionei o botão de descida e como anteriormente foi repentina e em pouco tempo parou no andar do forno e no mesmo instante o botão vermelho começou a piscar. Apertei-o e a pressão foi imediata, desceu mais um trecho e parou abrindo a porta logo em seguida.

Como da outra vez, o túnel continuava na penumbra conforme constatei para grande alívio. A primeira etapa de minha jornada estava concluída.

Segui pelo túnel até as portas dos fundos e com o cuidado de quem se esconde, sondei através do visor de uma das portas. Levei um tremendo susto quando vi que o salão não estava vazio.

Haviam dois homens vestidos de branco como os médicos. Um de cada lado da mesa de inox ao fim da esteira. Na mesa estava estendido um cadáver, eles estavam manipulando o corpo e conversavam animadamente.

— Tudo certo, este é o último de hoje. Vamos terminar logo o trabalho.

— Sim, só falta coloca-lo na cuba número 37.

— Você já verificou tudo? Não falta nada?

— Todos os procedimentos verificados, só falta mesmo mergulhar “o material” nos nutrientes!

Aquela conversa me chocou profundamente, tratar o corpo de um ser humano mesmo que morto como uma coisa, uma matéria prima!

Não saberia descrever o que passa na cabeça de quem comanda tal procedimento.

Fiquei ali escondido à espera de que não demorassem muito os trabalhos dos dois sujeitos e eu pudesse prosseguir na minha investigação. Não demorou muito e realmente aqueles homens com a habilidade de quem está acostumado com o que está fazendo, colocaram o corpo dentro de um dos tanques, o de número 37 como eu havia escutado.

Fecharam a portinhola, guardaram os utensílios que estavam usando dentro de um tanque ao lado da mesa que pude verificar estava cheio de um líquido que provavelmente fosse algum tipo de produto de limpeza. Saíram em seguida pela porta de folha dupla na parede oposta às portinholas-tanque.

Esperei um pouco até ter certeza de que não voltariam à sala e entrei. A porta também tinha visores e foi por eles que espiei a sala seguinte.

Ali o ambiente mudava de aparência. Da mesma maneira que a sala dos tanques, tudo brilhava na sua limpeza impecável. A diferença estava no conteúdo, esta era cheia de equipamentos de laboratório de toda espécie, dos mais conhecidos até grandes máquinas cuja finalidade provavelmente jamais iria saber.

“A sala” realmente não a descreve corretamente, é um imenso salão lembrando uma grande indústria farmacêutica.

Pude ver os dois sujeitos seguindo por um corredor central até que não pude vê-los mais. Existem ali também outras pessoas manipulando equipamentos, terminais de computador e transportando objetos de um lugar para outro, todos vestidos de branco.

Passado o impacto no primeiro susto apesar de saber que tudo ali era estranho, comecei a pensar numa maneira de entrar no salão. Lugares para se esconder pude ver que eram muitos, mas primeiro teria que resolver o problema de entrar pela porta sem ser notado.

Comecei a bisbilhotar mais detalhadamente a sala dos tanques tomando sempre o cuidado de estar atento à possibilidade de entrar alguém pela porta dupla. Encontrei um armário e experimentei a maçaneta. Sorte!! – Não estava trancada e dentro haviam vestes brancas, toucas e máscaras cirúrgicas iguais às usadas pelo pessoal dali.

Vesti rapidamente a calça e o guarda-pó por cima das minhas roupas, coloquei a touca e a máscara. Num dos cantos da sala havia uma estante com várias caixas de material cirúrgico, tomei uma delas, pois as mãos desocupadas de quem quer se confundir na multidão podem e tornar grandes delatoras.

Pude constatar que aquele complexo ainda estava em processo de montagem e testes, pois era possível verificar que estavam sendo transportados equipamentos e montados nos seus devidos locais e isso facilitava minha intrusão sem ser notado.

Com a caixa nas mãos entrei pela porta ao salão suando frio. Ninguém tomou conhecimento da minha presença. Isso fez com que eu adquirisse confiança e segui pelo corredor central prestando atenção no máximo possível de detalhes.

Havia ali indivíduos de ambos os sexos trabalhando e pelos tipos de equipamentos que manipulavam, sem dúvida eram todas pessoas altamente especializadas em suas áreas.

Não vou aqui questionar a procedência dessas pessoas, pois não haveria como saber sem uma investigação profissional do assunto.

Pude observar bem de perto numa das áreas daquele salão dezenas de recipientes feitos talvez de vidro, pois eram transparentes, com o mesmo líquido dos tanques da sala de conservação, somente que de dimensões menores nos quais estavam imersos órgãos humanos como se ali estivessem sendo cultivados.

A cada setor que eu percorria, as surpresas iam se multiplicando. Sem dúvida tudo aquilo era um gigantesco complexo subterrâneo onde se faziam experiências com o corpo humano sem a autorização dos órgãos governamentais.

Jamais eu poderia imaginar que tal tecnologia fosse possível aqui no nosso país, se bem que a possibilidade mais próxima da realidade seria que alguém de outro lugar ao norte do equador estaria por trás da construção desse gigantesco complexo onde eu ia cada vez mais fundo na minha curiosidade.

Numa posição de destaque vi uma sala sobre um mezanino a uns cinco metros de altura do piso. Todas as paredes possuíam janelas amplas permitindo ver lá de cima todo o complexo. Lá dentro existe com certeza o controle central de todo o processo produtivo aqui em baixo.

Tenho certeza que quase tudo é feito automaticamente a julgar pelo fato de que lá na suposta central de controle não ter ninguém naquele momento e também pelo número reduzido de pessoas operando os equipamentos no piso do salão.

Pensei comigo: - Tenho que dar uma olhada lá em cima!! Disfarçadamente me dirigi ao acesso, uma escada metálica que me dificultou a subida, pois a cada passo, fazia barulho de passos. Fui tateando com a planta dos pés os degraus sempre olhando para os “operários” lá em baixo. Cheguei até a porta, pressionei e ela se abriu sem fazer barulho e entrei.

Agachei-me para não ser visto das janelas. A sala estava atulhada de mesas de controle com diversos botões, alavancas e sinalizadores luminosos a piscar freneticamente. Muitos monitores mostravam estranhos gráficos que eu sequer reconhecia como algo parecido que eu tenha visto. A exceção foi um monitor maior onde girava uma hélice em espiral de DNA, isso era inconfundível até para um leigo como eu.

O susto veio quando num dos lados da sala vi a mim mesmo agachado ali na sala num dos vários monitores que mostravam diversos lugares vigiados por câmeras de um circuito interno de TV.

Entrei em pânico, em algum lugar alguém estava me vendo, só não consigo imaginar por que não havia sido dado o alarme de intruso. Creio que queriam me pegar sem estardalhaço. Levantei-me apressadamente, pois agora já não havia necessidade de camuflagem e saí a passos rápidos em direção à porta.

As pessoas que estavam trabalhando não se preocuparam comigo e isso provava que o alarme não seria acionado e que grupos especializados sem dúvida já estavam a caminho para me capturar.

Quando já estava próximo à porta que dá acesso à sala dos tanques de conservação uma mulher que trabalhava próximo trombou comigo, ela carregava nos braços algumas peças metálicas que se espalharam pelo chão fazendo um grande barulho, chamando a atenção de quem estava próximo. Ela olhou assustada para mim que na confusão deixara cair a máscara e disse:

— Quem é você, que setor opera?

Atropelando as palavras, assustado, apenas formulei uma pergunta idiota naquela situação:

— O que vocês estão fazendo aqui, ração?

Ela não respondeu nada, somente ficou sentada no chão com os olhos esbugalhados parecendo ter entrado em estado de choque.

Eu já havia levantado e de pé ouvi passos e vozes de comando que se aproximavam, porém não podia vê-los. Sai correndo pela sala dos tanques, passei ao túnel torcendo para que não houvesse câmeras ali.

Quando cheguei ao elevador a necessidade urgente de uma rota de fuga revelou-se à mim como que por milagre.

Havia uma folga estreita nas laterais do elevador que somente a extrema necessidade de fuga permitiu que conseguisse me esgueirar por ali e chegar atrás da cabine do elevador. Por sorte minha, no findo tinha um espaço suficiente para um homem ficar de pé. Tinha também uma escada que subia pela parede até o alto do edifício. Subi por ela ofegante e pulei para o teto da cabine do elevador onde estão as roldanas ligadas aos cabos de sustentação. Deitei ali com o coração prestes a explodir devido a descarga de adrenalina na corrente sanguínea. Em questão de mais ou menos dois minutos pude ouvir que várias pessoas haviam chego ali vasculhando o local e tremi com a possibilidade de ser descoberto, mas não tive coragem de sair.

Fiquei quieto a espera do desenrolar dos fatos.

Ouvi quando eles entraram no elevador exclamando:

— Rápido, vamos vasculhar o prédio todo, em algum lugar devemos encontrar o abelhudo!

Nesse instante parei de respirar com medo que pudesse ser ouvido. O elevador foi acionado e subiu rapidamente, o barulho ali em cima era grande demais para que eu pudesse entender o que se falava lá dentro. Parou no andar do forno e saíram vasculhar o local também.

— Vamos, aqui ele não está!!

Entraram no elevador e fomos içados até a parada no último andar. Não ousei me mexer para não correr o risco de fazer algum barulho. Enquanto isso, os guardas procuraram por mim em todas as salas e com certeza, também no héliporto. Mais uma vez a providência divina me auxiliava e aqueles cães não tiveram a idéia de procurar no teto do elevador e essa foi minha salvação.

A movimentação foi intensa por pelo menos umas duas horas e eu ali, rígido como uma estátua já começava a dar cãibras nas pernas, mas resisti até que cessaram as procuras.

Já havia escurecido quando arrisquei uma espiada para fora do meu esconderijo. Minha fuga daquele lugar só é possível para cima, pois não existe folga entre a cabine e a parede como lá em baixo. Subi a escadaria até um alçapão no teto, afastei lentamente a tampa e espiei. Não havia ninguém, provavelmente achavam que eu já havia escapado para fora do parque.

Estava escuro, não havia luar, vasculhei o local e descobri uma escada de incêndio numa lateral do prédio. Seria por ali que eu iria arriscar a fuga, altura seria menos assustadora do que passar pelos guardas lá em baixo.

Como o prédio estava em fase de acabamento, a escada tinha na sua base ainda árvores bem próximas oferecendo cobertura para minha fuga, foi o que eu fiz.

Esgueirei-me pelas sombras, consegui chegar até bem próximo da avenida central. Havia poucas pessoas naquela hora, somente alguns corredores em busca de perder uns quilinhos excedentes.

Nesse instante percebi a burrice minha, não havia tirado a calça e o guarda-pó brancos. Eu estava de tênis, bermuda e camiseta, traje para assistir futebol lembram-se? Tirei fora aquelas roupas brancas que agora estavam bem sujas e as escondi numa moita próxima. Fiquei esperando a melhor oportunidade e ela surgiu com um grupo de seis indivíduos que corriam e conversavam animadamente. Quando eles passaram por mim, saí de trás das árvores e os acompanhei de perto, quando emparelhei com eles, para disfarçar, puxei conversa perguntando as horas apesar de ter relógio no pulso.

— É que meu relógio acabou a pilha! Disse para justificar a minha pergunta.

— Oito e meia. Respondeu o sujeito mais próximo.

— Vocês correm sempre aqui? Perguntei para poder continuar junto deles.

— Não, somente quando as patroas permitem! Disse o mais engraçado dos seis, o que causou uma gargalhada como se houvesse contado uma piada muito boa. Disfarcei e ri também. Corri com eles até a entrada do jardim.

O sujeito da piada me perguntou se eu havia deixado o carro próximo dali e respondi que não, que havia ido correndo de casa até ali.

— Quer uma carona até o ponto do ônibus? Perguntou-me e eu dei graças à Deus por isso e aceitei a oferta.

Fui deixado bem no centro da cidade e fui a procura de um táxi para voltar para casa, pois já era tarde e eu teria que inventar uma estória convincente para minha esposa que sem dúvida estava preocupadíssima com minha demora.

Menti dizendo que depois do jogo havia ido até a casa de um velho amigo que eu encontrei no estádio. Não sei se ela acreditou, acho que sim, pois o assunto terminou aí.

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Capítulo VI

Desespero

N os dois dias seguintes à minha excursão, nada conseguia tirar da minha cabeça os fatos que eu havia presenciado. Isso estava influenciando até o meu desempenho no trabalho, estava distante como alguém me falou uma vez.

Eu tinha que tomar uma decisão, ou eu esquecia tudo o que sem dúvida é impossível, ou divulgava toda a estória à polícia e à imprensa.

Na quarta-feira ás quatro horas tocou o telefone no meu escritório. Ao atender, alguém do outro lado da linha disse que queria falar comigo, sabia meu nome.

— Por favor, quero falar com o senhor Alberto!

— Sim, sou eu, com quem estou falando?

— Meu nome não importa, o importante é o recado que vou lhe dar!

Estremeci com aquelas palavras. Procurei me controlar, afinal poderia ser outra coisa que não fosse ligado ao jardim do amanhã.

— Pois não! Disse com a voz mais natural possível que pude simular.

—Temos sua ficha completa Sr. Alberto, afinal é um de nossos recentes clientes. Nós conhecemos seu nome, idade, peso, altura e etc...

Mas o mais importante é o seguinte:

Hoje ao final do seu expediente não se preocupe em passar na escola do seu filho, providenciamos para que ele tenha condução entendeu?

Quase desmaiei com aquela ameaça, mas não respondi para não piorar as coisas. Resolvi sair imediatamente e passar na escola, ir para casa pegar minha esposa e em seguida para o departamento de polícia mais próximo. Fio o que eu pensei ser possível.

O telefone já havia sido desligado quando voltei à realidade. Sai correndo sem nada explicar ao meu departamento.

O transito naquela hora é horrível e me maltratava a cada semáforo fechado. Furei alguns deles sem me importar com as multas que teria que pagar, nada era tão importante agora do que chegar logo à escola do meu filho.

Finalmente cheguei à escola, entrei correndo e trombando com pessoas no corredor até chegar ao guichê da secretaria. Todos estavam assustados com aquele doido correndo daquele jeito.

— Por favor! Quero falar com meu filho! Gritei para a secretária velha conhecida da família.

— Alberto! Mas você já não veio buscá-lo? Disse ela com espanto no rosto.

A angustia me dominou completamente naquele instante. Eu havia ido longe demais com a minha curiosidade e estava pagando um preço alto por isso.

Como que um chamado do inferno, tocou o meu celular e atendi.

— Sr. Alberto! Disse aquela mesma voz enigmática. — Garoto esperto o Carlinhos, garoto curioso igual ao pai!

Sai dali arrasado, o que eu iria fazer para resolver aquela situação? Teria que dar um jeito de libertar meu filho, quanto a mim, meu destino seria sombrio.

Cheguei no jardim do amanhã e aparentemente nada mudara, as pessoas estavam ali passeando, correndo e outras simplesmente estavam sentadas nos bancos conversando.

Fui até a praça do chafariz que nesse instante estava dando seu espetáculo atraindo bastante gente ali.

Talvez eu pudesse tomar partido disso e me misturei ás pessoas. Esgueirei-me por entre as árvores por onde eu havia fugido outro dia. Cheguei até a escada de incêndio, subi rapidamente e sondei o terreno antes de saltar no telhado lá em cima. Escondi-me nos equipamentos de ar condicionado ao notar que tinha gente lá no telhado. Estavam fazendo algum tipo de manutenção e não notaram a minha presença.

Próximo de mim estava parado um tipo de bancada grande e móvel onde se guardava ferramentas e equipamentos. Na parte de baixo dessa bancada tem uma porta por onde passa um homem, abri e verifiquei que existia espaço suficiente para me acomodar se me encolhesse bem.

Ali dentro estava depositado um material parecido com estopa dessas utilizadas pelos mecânicos para limpar as mãos. Escondi-me em baixo desse material.

Por duas vezes enquanto eu esperava alguém abriu a porta e retirou uma porção daquele material, mas não perceberam que eu estava ali sob a estopa.

Como estava escuro não pude ver quando minutos mais tarde, creio que foram aproximadamente uns vinte minutos quando escutei vozes se aproximando. Não pude entender o que diziam, porém senti quando aquela bancada foi colocada em movimento.

Com a repentina falta de peso pude constatar que estávamos no elevador de carga. Torci para que aqueles homens fossem até o nível mais baixo.

Por sorte realmente o elevador deu aquela parada no andar do forno crematório, mas não ficou muito tempo e começou a descer novamente. Quando chegamos no final, senti que estava sendo levado pela esteira transportadora que se deslocava na horizontal. Confiando nos meus conhecimentos do local percebi que havia chego ao final da esteira que parou e novamente fui colocado no chão. A bancada começou a ser conduzida novamente pelos homens que conversavam.

Por um bom tempo fui conduzido para dentro do complexo, eu estava agora na expectativa de que fosse colocado num lugar onde eu pudesse sair dali sem ser notado.

Quando percebi que havia parado, notei que estava tudo silencioso, sinal de que estava sozinho e arrisquei espiar por uma fresta da porta.

Não pude ver nada, estava no escuro, provavelmente um armário ou coisa parecida. Sai tateando até encontrar a maçaneta da porta, daí foi fácil localizar o interruptor de luz.

Era um almoxarifado como pude ver, cheio de utensílios de limpeza e outras coisas que eu não conhecia. Vi um armário igual ao que eu já conhecia, abri e o seu conteúdo também era igual: vestimentas brancas, toucas e máscaras.

Sem demora vesti aquelas roupas, coloquei a touca e a máscara e assim eu estava novamente camuflado.

Acho que o desespero de saber que meu filho estava correndo perigo me isentou de medo e resoluto saí para procura-lo, pois com certeza ele estava em algum lugar aqui em baixo.

Quem estava no comando daquele lugar deveria estar muito confiante por estar com meu filho que aparentemente não havia nada na produção, não vi nenhum segurança ali, pelo menos não vestido de maneira diferente dos outros trabalhadores.

Andei por vários locais sem ser descoberto, pude deduzir que as pessoas que ali trabalhavam executavam suas tarefas mecanicamente, sem se importar muito com qualquer coisa diferente do que estavam fazendo e isso facilitou meu deslocamento entre eles que não tomavam conhecimento de minha presença.

O desespero começou a tomar conta de mim quando comecei a perceber que não iria encontrar meu filho a quem eu daria a própria vida. Nenhum lugar, nenhuma sala onde eu pude ir e acho que eram todos daquele lugar não encontrei nenhum vestígio dele.

Quase sem esperanças retornei ao centro do complexo, os pés negando avançarem um passo sequer fiquei parado, olhos fitando o infinito, vencido pelos fatos.

Olhei para cima em direção a sala de controles e avistei um homem vestido diferente de todos os outros. Como que impelido por uma vontade que não era minha fui ao encontro do meu destino. Lá dentro do meu ser eu ainda acreditava numa maneira de salvar meu filho das garras inescrupulosas daquele pessoal.

Ninguém me impediu quando subi as escadas e abri a porta.

—Entre, eu estava a sua espera! Falou aquele homem baixo, gordo com voz rouca. Vestia um impecável terno preto, ele estava de costas para mim manipulando um painel de controles.

— Sr. Alberto, o senhor sabe das implicações que a sua curiosidade estão causando, não sabe?

Nem prestei muita atenção no que ele me disse, eu só queria saber do meu filho que estava em seu poder.

— Onde está meu filho?, quero vê-lo agora! - Exigi como se eu tivesse poder para isso.

— Seu filho está bem, depois nós iremos até onde ele está, mas antes quero que o Sr. esteja ciente de tudo o que foi visto aqui jamais será revelado pelo senhor. Temos meios de fazer com que cale-se para sempre! Não, estou falando de assassinato, afinal aqui só trabalhamos com cadáveres de fora da organização. Sua esposa e seu filho estão inclusos nessa nossa necessidade agora que o senhor nos descobriu.

Não entendi como era possível calar a mim, meu filho e minha esposa sem que fossemos mortos, mas essa declaração me dizia que fossem quais fossem os meios que utilizariam, com certeza seria algo terrível tanto quanto a morte.

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Tex
Enviado por Tex em 21/06/2005
Código do texto: T26534