Ela namorava com o perigo.

Lembrou-se da última frase de um romance: “Ela namorava com o perigo” (que frase clichê).Olha a arma do marido e pensa: mato ele ou me mato. Vou acabar matando é a língua Portuguesa: matar ele, que horror! O marido atirado na cama de casal roncava feito um búfalo ( será que búfalo ronca, vou pesquisar). Tinha uma raiva daquele homem, como um pó, umas ervas ou umas cervejas podiam ser mais importantes que ela. Todas as noites eram assim: ele bêbado ou chapado, ás vezes, as duas coisas juntas e ela insone. Estes pensamentos sempre enchiam as minhas madrugadas insones. Reviro-me na cama, conto carneirinho, rezo, por rezar. Será deus existe? Ele se escreve com letra maiúscula como aprendi com a professora de Religião, uma velha carola? Sei lá, acho sou ateia ou ateio? E se amaldiçoa com cabeça atordoada de pensamentos que não deveria ter. Ainda mato este homem. O cheiro de cerveja, os gases ( que nojo) e os roncos apodrecem o quarto. Levanta-se, liga o computador e a televisão. Fica ligada a este mundo de sons e letras quando a coisa que mais queria era o sono, o silêncio. Deseja o sumiço aqueles pensamentos As mãos dominam aquele mundo virtual. Procura sites e canais em busca de alguma coisa que lhe dê paz. Paz, duas consoantes e uma vogal. Lembra-se de quando era pequena e ouvia as candidatas, a miss qualquer coisa, dizer a frase padrão: - quero a paz mundial. Como assim a paz mundial? Se a paz individual nunca é alcançada como conseguiríamos a paz universal ou mundial. Que idiotas!! Amanhã, mando este cretino embora e consigo dormir em paz. Que besteira, Nina! Pensa em voz alta. Sabe que não vai fazer nada, pois quando acordar no dia seguinte, o marido já saiu para o trabalho. Anda pela casa. É um silencio absoluto na casa, mas, dentro de si, há turbilhão de perguntas sem respostas. Ou com respostas loucas como: a solução para sua paz era matar o marido. De que jeito? Articulo mentalmente vários tipos de morte. Coloco a frase (ou seria oração?) como matar um marido num site qualquer de procura. Aparecem muitas imbecilidades, coisas de quem não tem nada o que fazer. Que bobagem! E eu tenho alguma coisa o que fazer numa maldita noite de insônia? Quantas dicas boas: Como matar o marido sem levantar suspeitas, como matar o marido sem deixar pistas ( nossa... Quantos erros de ortografia, to ficando pirada). Olha, tem uma receita de chá de quebra-pedra: Será que funciona? Que chatice isto. Vou ler um pouco. Mas, que eu quero mesmo é matar meu marido. Isso eu quero e muito. Já são duas da madrugada. Que inferno, amanhã tenho que levar as crianças para a escola, arrumar a casa, terminar minha monografia que está muito atrasada ( to farta da orientadora no meu pé). É o obvio, ir trabalhar. Então, terei vontade de matar um cliente e não meu marido ou talvez os dois: o cliente, por me fazer baixar a loja inteira do estoque, depois dizer: - não gostei de nada. Que ódio. E o meu marido por não ter me deixado dormir. Nossa, cansei de tanto pensar no meu dia. Será que agora durmo? Abro a porta do quarto, está mais calmo, cessou os roncos, olho o relógio são 2h e 30minutos! Meu deus!!! Preciso dormir (será que a palavra deus é com letra maiúscula, tenho que olhar no dicionário). Nunca pensei será sou ateia ou agnóstica? Se eu matar meu marido, vou para o inferno? Ou para o céu? Por que os pensamentos continuam? Quero dormir. Devia ter ido ao médico e pedido um tarja preto, daqueles, que faz dormir um búfalo. De novo, o búfalo, que inferno, to cheia desse bicho! Vou deitar bem longe do meu marido para tentar dormir. Por que digo meu marido? Faz tempo que ele não é nada meu. Olho a arma na cabeceira, um trinta e oito preto. Basta apertar gatilho no ouvido, e se fizer barulho? Lembra que a arma tem silenciador. E o corpo? Como vou explicar para os filhos? Agora vou dormir, fecho os olhos, não tem mais roncos, mas o cão começa a latir. São quase três horas, quero dormir. Não acredito, além dos meus neurônios que não param de funcionar, agora os cães dos vizinhos também começaram a latir. Mato o cães e depois o marido. Cruzes, são muitos corpos. Preciso dormir. São Três horas, vou contar carneirinhos, um dois, três, quatro, cinco, seis, por que será que a minha orientadora não deixa em paz. Sete, oito. Nove... Acho que mato os cães, o marido e a orientadora. São muitos corpos, e a minha orientadora é bem gorda. Agora vou dormir... Já são quatro horas... Não. O marido, agora, bufa estendido na cama. Será que a palavra bufa vem de búfalo? Preciso pesquisar amanhã. Vou dormir agora. São 3h, meu deus! Tenho mais quatro horas para dormir. Quando eu tinha vinte anos dormia uma duas horas por noite. Andava todas as noites nas baladas. Agora é o marido que ronca bufa, fede e não me deixa dormir. Vou matar é o marido... Há, vou mesmoooo.

Isa Piedras

02.02.2010

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 07/01/2011
Reeditado em 15/06/2014
Código do texto: T2715505
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