A MISTERIOSA VERONA 1

11 de Fevereiro de 2011, 3:40 h da madrugada. Uma noite chuvosa e quente. Uma chuva fina e constante como chuva de inverno embora fosse pleno verão. Dennis dirigia com cuidado. A pista estava escorregadia e àquela hora da madrugada aconteciam os piores acidentes. Motoristas embriagados ao volante constituíam-se ameaças constantes e eram responsáveis por um grande número de acidentes. Ele estava acostumado a trabalhar em ocorrências desta ordem. Fotógrafo do departamento de investigações criminais da polícia local ele estava justamente voltando para casa após fotografar a cena de um destes acidentes em que duas pessoas haviam perdido a vida por pura imprudência. Precisava parar para comprar cigarros. Estacionou próximo ao bar que costumava freqüentar e observou uma porta grande de um galpão ou garagem à esquerda onde havia uma calçada margeando o estacionamento. Havia uma luz forte acesa e a silueta de uma mulher lhe chamou a atenção. Estava vestida de preto e parecia observá-lo com um olhar malicioso e desconcertante. Embora a chuva tornasse a imagem um pouco difusa, pode perceber que era muito bonita e possuía um corpo perfeito delineado pelas roupas justas. Sem perceber, como que hipnotizado, mudou de direção e andou em direção a mulher. Quando se aproximava ela fez um sinal com a cabeça, como que a convidá-lo e andou desaparecendo por trás de uma parede à direita. Ele apressou o passo, mas ao contornar a parede ela havia desaparecido. Ali a luz era mais fraca, ele observou o chão de terra batida. Deveria ser uma oficina desativada. Não havia marcas de pegadas no chão. Procurou por algum tempo, saiu para a rua e olhou em todas as direções, não havia nem sinal. Ela simplesmente havia sumido. Andou em direção ao bar. Havia somente um casal em uma mesa ao canto e o garçom sonolento dava sinais de que não demoraria a fechar. Comprou os cigarros e voltou ao carro lamentando não ter levado a câmera fotográfica. Enquanto dirigia voltou a pensar na mulher. Aquela imagem não lhe saia da cabeça. Droga, porque os seres humanos são assim. Amava sua esposa e não era do tipo que costuma sair com outras mulheres. Ana era bonita e carinhosa e estavam casados já há 2 anos. Seu primeiro filho já estava a caminho e não havia motivos para interessar-se por outra mulher. Mas aquela imagem teimava em ocupar seus pensamentos. Será que ela era real ou não passava de uma visão? Porque não havia pegadas no chão?

Ana como sempre estava a sua espera.

– Sabe que horas são senhor fotógrafo?

– Sim! Já é tarde, mas você sabe que os acontecimentos não têm hora marcada. Saímos de um para outro até onde seja possível. Como foi seu dia?

– Nada diferente! Apenas a rotina bancária normal.

Enquanto Ana se preparava para deitar ele cumpria a rotina de transferir as imagens da câmera para seu computador pessoal. Costumava copiar as fotos para o arquivo da polícia e depois as copiava em seu arquivo pessoal. Como de hábito as examinava cuidadosamente e repentinamente seu coração disparou. Entre um vão nas ferragens do carro capotado, uma silueta de mulher. Era ela! A mesma mulher que vira no galpão. Ampliou a foto e percebeu que ela olhava para ele e não para a cena do acidente. Era ainda mais bonita do que havia visto no galpão. Seus grandes olhos azuis pareciam querer dizer-lhe algo, mas o quê? Examinou freneticamente todas as fotos, mas ela estava apenas em uma delas. Ele moveu para outra pasta de documentos pessoais. Não havia como estar somente em uma foto. Ele costumava fazer várias tomadas do mesmo ângulo. Aquilo o incomodava. Que mistério Havia naquela mulher?

No dia seguinte, a rotina no departamento fora apenas quebrada pela ocorrência de um suicídio. Era ainda cedo quando voltava para casa e resolveu examinar o local. Era realmente um galpão onde antes houvera uma oficina mecânica. Resolveu que iria até o bar e tomar uma cerveja. O sol sobre a umidade da chuva do dia anterior tornava o calor quase insuportável. Antes de sair, percebeu que não havia luz elétrica ligada no local. De onde então saíra a forte luz da noite anterior? Sentou-se numa mesa ao fundo, de onde podia observar o movimento através das grandes janelas do local. Ficara sem saber por quanto tempo pensando sobre o assunto. Já havia tomado três cervejas e o sol já se punha dando lugar ao anoitecer. Chamou o garçom e resolveu ir para casa. Neste momento em uma das janelas laterais viu novamente a mulher. Saiu apressado e correu para a porta. Contornou o prédio e novamente ela havia desaparecido. Isto agora o estava deixando preocupado. Afinal estava tendo alucinações assim, em pleno dia?

Naquela noite custou a conciliar o sono, virava-se na cama e Ana tentava fazer com que dormisse. Ela o acariciava e o abraçava.

– Querido o que foi? Será que não está trabalhando demais? O que você tem?

– Não sei! Não consigo dormir, acho que vou tirar uma folga, mas estou só no departamento. O Raul está ainda convalescendo de uma forte gripe, tenho que esperar que ele volte.

Finalmente conseguiu adormecer.

Filho de pai americano e mãe brasileira. Estudara nos Estados Unidos e viera para o Brasil logo que sua mãe ficara viúva. Estava deitado recostado sobre uma cama de solteiro em um quarto de um hotel modesto. A porta se abriu e ela entrou. Com certeza era ela. Ele sentou-se de um salto.

– Verona? Perguntou ainda com os olhos arregalados.

– Não faça perguntas, apenas faça o que tem que ser feito. Esta é a arma. O nome e endereço estão neste papel. Ele apanhou a arma e um pequeno pedaço de papel onde estava escrito. Rebecca Simpson. Av. Winthrop, 1020

– Espere! Falou ansioso. Ela deu-lhe as costas e saiu fechando a porta.

Ele olhou novamente o pequeno pedaço de papel. Conferiu a arma, vestiu-se e saiu para a rua e tomou um taxi.

Chegando ao local, bateu a porta. Atendeu uma senhora loura de uns 50 anos. Ela olhou pelo visor e perguntou.

– Quem é? O que você quer?

– Senhora Rebecca Simpson? É da polícia, preciso que a senhora me dê uma informação.

– Sim! Um momento!

Ela abriu a porta. Então ele simplesmente apontou a arma e disparou. Pôde ver a grande mancha de sangue em seu peito e ela tombou pesadamente. Estava morta. Ele fechou a porta e saiu em busca de outro taxi.

Ana acordou com o barulho da torneira da pia do banheiro. Ele estava lavando o rosto freneticamente e esfregava-se respingando água para todo lado

– Querido, o que foi? Você está me assustando!

– Nada! Apenas um pesadelo. Já estou melhor. Volte para a cama, já estou indo.

Dennis deitou-se ao lado da esposa que adormeceu logo. Ele então revisou mentalmente cada detalhe do estranho sonho que o acometera. Era real de mais. Diferente dos sonhos comuns. Que sentido teria? Sentia-se como se tivesse realmente matado aquela mulher. Mas por quê? Quem era Rebecca Simpson? Era só um sonho? Verona? Era a mesma mulher que vira no dia anterior. Nem sequer havia lhe dirigido a palavra, mas ele sabia seu nome. Verona! Por quê? Que ligação tinha com o sonho? Nunca fora capaz de fazer mal a ninguém, mas no sonho acabara de matar uma mulher que nem sequer conhecia. E porque era tão real? Ficou horas pensando. Tentando encontrar uma explicação para o que estava ocorrendo. Finalmente, cansado, adormeceu.

-Você dormiu mal esta noite. Falava coisas sem sentido. O que houve? Você nunca foi de falar durante os sonhos.

– Não sei! Tive um pesadelo muito estranho.

– Não quer me contar?

– Hoje à noite, agora estou atrasado. Com a ausência do Raul, estou sobrecarregado. Ana saiu para o trabalho, ele terminou o desjejum e desceu para a garagem. Enquanto dirigia, rolava na mente como em um filme os acontecimentos do sonho. O uniforme de policial americano. A morte de Rebecca Simpson, quem seria?

Chegou no departamento e foi direto para sua mesa. Ligou o computador e resolveu fazer uma busca por Rebecca Simpson, havia muita Rebecca Simpson, pensou.

– Achei que fosse um nome menos comum. De pouco vai adiantar, não há endereços. Assim fica difícil. O inspetor Siqueira parado ao lado de sua mesa, aguardava que lhe desse atenção.

– Terminou?

– Sim.

– Você conhecia Rebecca Simpson?

– Não! Por quê?

– Vamos até minha sala.

Sobre a mesa do inspetor havia um exemplar do New York Times. Na primeira página o assassinato de Rebecca Simpson era destaque. Um calafrio percorreu o corpo de Dennis, ele jogou-se na cadeira diante da mesa do inspetor. Trêmulo começou a descrever o sonho.

– Calma! Falou Siqueira. – Você está aqui e ela morreu nos Estados Unidos. – Quer um copo d água?

– Não, obrigado. Ele leu todo o texto e a cada momento parecia sentir-se como que suas forças o fossem abandonar. Estava tudo ali em seus mínimos detalhes.

– É realmente estranho! Mas, não passa de um sonho. De alguma forma você testemunhou o crime. Vamos fazer o seguinte, vá para casa e descanse. Se tivermos algo importante mando te avisar. Além disso, temos uma estagiária começando hoje, espero que ela dê conta do recado. Agora suma da minha frente. Quero ler o jornal.

Dennis despediu-se do inspetor e saiu. Ao passar pela recepção a recepcionista falava com uma garota que trazia uma câmera a tiracolo.

– Hei Dennis, temos uma nova colega. – Esta é Ariadne estagiaria no departamento de fotografia. A garota virou-se para cumprimentar Dennis. Ele ficou branco! Ela era a cara de Verônica, apenas mais jovem. Mas o jeito de vestir era o mesmo. Roupas justas, escuras e possuía também um corpo

perfeito.

– O que foi? Você está bem? Perguntou a recepcionista.

– Nada apenas pensei ter visto outra pessoa. – Bem vinda ao departamento. Espero que goste do trabalho. Eu sou Dennis.

– Prazer em conhecê-lo, acompanho seu trabalho há bastante tempo.

Dennis despediu-se das duas e dirigiu-se ao carro. Agora estava ainda mais confuso. Ariadne, Verona.

– Porque são tão parecidas? Não! Não pode ser uma visão. Ariadne é real e eu não estava dormindo. Bem! As vezes que vi Verona eu também não estava dormindo. Ela é uma visão porque aparece e desaparece. Ou será que não! O sonho! Verona também estava lá, só que também a vi quando estava no galpão, na janela do bar, na foto. Isto! Eu tenho a foto!

Pensou em ir para casa e vasculhar no arquivo, mas estava com fome. Estacionou junto a uma lanchonete no centro. Havia uma fila de mesas e para a hora até que o local estava bem movimentado. Correu os olhos em busca de um lugar e de repente gelou. Sentada em uma mesa ao fundo estava Verona. Ele apressou-se e chegando junto à mesa, perguntou.

– Verona?

– Como sabe meu nome?

– O sonho! Você mandou matar aquela mulher.

– Desculpe, preciso ir ao banheiro. Você deve ser louco!

Dizendo isso ela levantou-se. Dennis tentou agarrá-la pelo ombro, mas ela esquivou-se e apressou o passo. Ele pensou em segui-la, mas mudou de idéia ao observar que todos estavam olhando. A garçonete chegou junto à mesa e perguntou.

– O que o senhor vai querer?

– Uma torrada com ovos e café. – Você conhece aquela moça?

– Qual moça?

– A que estava sentada aqui.

– Desculpe não vi.

CONTINUA

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 18/02/2011
Reeditado em 31/03/2013
Código do texto: T2800163
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.