A ÚLTIMA NOITE

Era uma noite diferente de todas as outras ultimamente, o frio penetrava nas entranhas, o ar gélido o fazia tossir muito, sua mulher estava viajando a trabalho, não tinha filhos, em seus 26 anos o máximo que conseguira foi uma casinha com dois quartos, uma sala, uma cozinha e o banheiro.

Fumava seu sexto cigarro esta noite, a garrafa quase seca de cachaça indicava que ele já não estava tão sóbrio, na TV nada de interessante, não tinha aparelho de DVD, não tinha aparelho de som, não tinha emprego.

A chuva começava a cair, a lua escondera-se atrás das nuvens, um pio de coruja pôde ser ouvido, seu cão começou a latir freneticamente, a energia caiu, apenas os clarões dos raios clareavam a casa agora, a chuva ficou mais forte, outro pio de coruja, o cão latia mais alto.

Foi à janela apenas sua casa não tinha energia, ouvira passos na cozinha, tossia agora pelo frio e pelo medo, seu cão calara, os passos se tornaram mais próximos, seu coração acelerara, um tiro, uma queda, um homem, um clarão de raio, via suas poucas coisas serem levadas, estava sendo assaltado e nada podia fazer, sentiu gosto de sangue em sua boca, mal respirava, seu coração aos poucos parava, ninguém viera lhe ajudar.

Começa uma agonizante luta pela sobrevivência, tentara em vão levantar, suas pernas não se o obedeciam, flashes de memória lhe vieram, nunca tinha dito à mulher que a amava, nunca tinha sido carinhosos com ela, ela que tanto o amava, que o sustentava, que por amor abandonou tudo, ela que era tão linda, tão meiga, tão tudo, agora nunca mais a viria.

Seu coração parara por definitivo, nada mais sentia, nem dor, nem cansaço, só uma paz que irradiava de seus olhos, nunca sentira aquilo antes, estava feliz como nunca esteve, o telefone tocava incansavelmente, do outro lado da linha alguém o ligava para informar que sua mulher foi encontrada morta em um motel ao lado de um homem que também estava morto, ambos pelados, mas isso não mais o interessava.

No outro dia um cheiro de putrefação exalava de sua casa, os vizinhos abriram-na e o encontraram sentado no sofá, vários maços de cigarro no chão, garrafas de cachaça, o laudo médico disse que ele tinha morrido de ataque cardíaco, aquilo tudo não passara de um pesadelo.

Marcos DSM
Enviado por Marcos DSM em 21/02/2011
Código do texto: T2805949
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