Maresia

O vento bagunçando os cabelos, os longos cabelos castanhos, tão bem cuidados que pareciam seda, o volume em ondas brilhando a luz da lua. Julia e o namorado estavam sozinhos naquela parte da praia, queriam ter privacidade para uma noite de muito amor.

Já fazia uns quinze minutos que seu namorado havia voltado para a barraca para pegar mais cerveja. Na verdade a barraca não ficava tão longe assim, provavelmente ele já teria ido e voltado umas duas vezes neste mesmo tempo, mas ela achava que ele estava para lhe fazer alguma surpresa, então não havia mal algum em esperar ali sozinha.

Olhando as ondas e sentindo no ar aquela maresia, um sorriso clareou em sua face quando escutou passos por perto. Girou seu pescoço fino para trás e não havia ninguém por ali. O sorriso sumiu. Ela procurou mais um pouco e levantou-se da areia, não havia nada além do som do mar, sua mente havia lhe pregado uma pequena peça e o vento parecia ter esfriado mais.

- Cláudio, você está aí? – não houve resposta. Voltou a se sentar, agora abraçando os joelhos, protegendo-se do vento. O olhar inquieto e os ouvidos bem abertos.

Alguns minutos depois Cláudio chegou, duas latas de cerveja e um casaco que sabia que Julia iria lhe dizer para que tivesse trazido. As vezes ele parecia ler seus pensamentos. Trocaram uns beijos, uns amassos, rolando sobre a areia da praia, até que aquele som de passos foi novamente ouvido, não só por Julia, mas por Cláudio também, eles olharam em volta e nada, a não ser que houvesse alguém escondido no mato ali perto. Cláudio elevou a voz.

- Ei, a gente ta querendo um pouco de privacidade aqui, será que a gente consegue?

Uma risada veio como resposta. E ao olhar praquela direção, um vulto negro era visto.

- Estou falando sério pô! Você tem a praia toda, a gente só quer esse pedaço aqui...

E do outro lado, cortando a voz de Cláudio alguém disse:

- Temos a praia, mas não a garota.

Cláudio olhou Julia deitada ainda na areia e quando voltou o olhar para o mato não havia apenas uma sombra, mas umas quatro ou cinco.

- Julia corre! – disse um Cláudio com preocupação na voz, apontando uma fogueira que podia ser vista dali.

- Eu não vou sem você.

- Você não entende que se ficar eles vão te pegar! Vai, corre!

Julia olhou mais uma vez praquele cenário de filme, aquilo não estava acontecendo, não podia ser real, não acontecendo ali com ela.

- Peguem ela. – alguém disse e dois vultos começaram a se mover. Então ela correu, sem olhar para trás, começando a sentir a realidade aflorar e se desesperando, lágrimas começaram a correr pelo rosto e ela sentia seus perseguidores logo atrás de si, mas a fogueira ainda estava longe. Ouviu um baque e ao olhar para trás viu que um deles havia caído. Talvez agora tivesse uma chance de pedir ajuda. Mais uma olhada para trás e os dois continuavam atrás dela. Ela tinha a sensação de que nunca iria conseguir chegar àquela maldita fogueira, as lágrimas embaçando sua visão.

Quando estava chegando ela ousou olhar mais uma vez para trás e não havia mais ninguém ali. Parou, olhou ao redor e nada. Correu mais o pouco que faltava para chegar ao outro acampamento e encontrou dois rapazes ao lado da fogueira. Sem fôlego e aflita ela tentava pedir ajuda.

- Meu namorado em perigo, eles vão pegar ele, nos ajude!

Realmente, aquilo estava difícil de entender. Um dos rapazes a fez sentar enquanto o outro trouxe um copo com água.

- Tome, tente se acalmar e nos contar o que houve.

Ela deu dois longos goles e respirou fundo.

- Uns homens saíram do meio do mato e pegaram meu namorado, ele está sozinho lá, me mandou fugir, vocês têm de nos ajudar.

- Eu vou pegar a lanterna. – disse um deles e entrou na barraca.

Julia tornou o copo a boca e bebeu o resto que faltava. E reparou que o rapaz não tirava os olhos de suas pernas, ela estava usando somente um shorts curto que lhe deixavam as pernas a mostra.

Então passos se aproximaram e ela viu duas sombras se aproximarem, seu coração deu um salto.

- Até que enfim chegaram, achei que realmente teria de ir atrás de vocês. – disse o rapaz saindo de dentro da barraca.

Não só dois caras chegaram, logo atrás vinham mais quatro, dentre eles seu namorado Cláudio, que disse:

- Gostou da surpresa amor? Isto é por você ter me traído, ok. Está aí caras, aproveitem bem, porque minha parte eu já peguei.

E sentou-se de um lado vendo os amigos estuprarem sua a garota.

No outro dia a polícia achou o rapaz com alguns hematomas amarrado dentro da barraca, mas o corpo de sua namorada nunca foi encontrado, provavelmente levado pelas ondas que ainda vinham até a areia trazendo consigo aquele cheiro de maresia.

Juliano Rossin
Enviado por Juliano Rossin em 04/11/2006
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