NA CASA DO FOGO

Não tenho esperanças de que alguém tome conhecimento das cartas que pr etendo escrever. Nem remota possibilidade de vir a sair dessa prisão e voltar para o mundo real. Posto que o mundo que me cerca não pode ser real. Desconheço as intenções de meus algozes. Não sei qual será o meu fim, ou se haverá fim para meus tormentos.

Desisti de acordar do pesadelo que me aflige, não é pesadelo de noite mal dormida é real meu tormento. Tento em vão me convencer das impossibilidades dos fatos por mim testemunhados desde o dia em que acordei no interior dessa casa infernal. Ah, devo ter enlouquecido e agora vivo num mundo imaginário, um mundo só visto por loucos em constantes delírios frenéticos.

Dei por mim em total escuridão ao despertar. Imediatamente repassei mentalmente todos os meus passos até a visão daquela amaldiçoada mulher de pé em minha frente envolta em chamas, sim, ela parecia uma tocha humana. A mensagem telefônica, a viagem, o velho na rodoviária, tudo fazia parte de macabro plano para que eu viesse ter à esta casa.

Estou confuso quanto a sequência dos acontecimentos. Tentarei lembrar o mais que puder de tudo pelo que passei até a presente data, melhor dizendo, momento. Após a aterrorizante visão da criatura em chamas apontando para mim perdi os sentidos, e ao acordar tudo o que via era escuridão, durante muito tempo, pensei estar cego. Melhor seria que estivesse privado da visão. Estava sem minhas roupas. Puseram-me nu.

O chão era minha cama. Cuidadosamente arrastando-me como animal explorei o ambiente. Logo encontrei uma parede, pus-me de pé e passo a passo, vagarosamente contornei o pequeno cômodo. Tinha a forma triangular, três paredes e nenhum móvel utensílio, porta ou janela. Pensei em chamar por alguém, mas tive medo. Sentei no chão e decidi que esperar seria o melhor a fazer, certamente alguém apareceria mais sedo ou mais tarde.

Escuridão e silencio. Escuridão total, não via minhas mãos mesmo ao tocar meus olhos. O silencio só era quebrado por minha ofegante respiração, houve momentos em que pensei ter escutado as batidas de meu coração. Nenhuma noção do passar das horas. Não sabia se era dia ou noite. A fome a sede o medo e a incerteza do por vir eram imensas. Contra minha vontade urrei tal qual fera ferida e acuada.

Como em resposta ao meu urro exasperado, todo o teto triangular iluminou-se, mas era fogo, todo o teto estava em chamas, deitei no chão apavorado. O fogo descia agora pelas três paredes, logo tocaram no piso de madeira. Rastejei para o centro do cômodo, as chamas logo propagavam-se pelo piso formando um circulo. Eu gritava chorava e urrava, o calor, a dor, sentia minha carne queimar, sentia o cheiro acre da carne queimando, sentia dor insuportável.

Repentinamente o fogo desapareceu, mas a dor era indescritivel. Não sei que estranha força impediu meu desfalecer ou morrer. O tempo que ali fiquei em agonia inimaginável não sei dizer. Hoje sei que não querem que eu morra, seus propósitos são torturar-me física e mentalmente. Não durmo mais, o sono não existe em mim.

Sempre faminto sedento em permanente agonia. Há ocasiões em que sou envolvido pelas chamas. Vejo pedaços de carne cairem de meu corpo. Ao apagar o fogo meu corpo está intacto, mas a dor é sempre a mesma.

O fogo agora queima em meu tinteiro. Fui adestrado entender tal sinal. Parar de escrever e esperar que o fogo apague. Nada mais sou que animal adestrado. Dor, muita dor...











 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 04/04/2011
Reeditado em 07/10/2011
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